Lançamento do 737 pela Boeing mudou a história do transporte aéreo em todo o mundo
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 11/04/2022, às 17h31
Há 55 anos a aviação comercial mudaria para sempre. O transporte aéreo já havia se tornado uma realidade nas rotas de longa distância, mas ainda tinha um grande potencial de crescimento em rotas curtas, até então atendidas basicamente por aviões a pistão ou pequenos turbo-hélices.
A Boeing de maneira bastante audaciosa criou um segundo derivado do 707, dando origem ao 737-100, um jato de capacidade para até 118 lugares em configuração de alta densidade. O modelo chamou atenção da alemã Lufthansa, que se tornou cliente de lançamento da nova aeronave, que seria usado em rotas de curta duração e capacidade média, para os padrões da época.
Conhecido como Baby Boeing, por ser o menor da família, o 737 logo despertou o interesse do mercado, mas por uma versão alongada com capacidade máxima de 130 lugares, dando origem ao 737-200. Algumas melhorias foram adicionadas ao 737-200, que ao final da produção acumulou impressionantes 1.114 aeronaves produzidas, ante apenas 30 do 737-100.
No início dos anos 1980 surgiram novos motores, mais eficientes, econômicos e de maior potência, somado a aviônica digital. A Boeing não apenas remotorizou e modernizou o cockpit, mas lançou três versões novas do 737, que cresceram em tamanho, alcance e capacidade. Conhecida como 737 Classic a série se tornou um grande sucesso de vendas, com o 737-300 obtendo 1.113 vendas, apenas uma a menos que seu antecessor, enquanto a família 737 Classic atingiu a marca de 1.988 unidades entregues.
O lançamento do A320, da Airbus, criou um rival a altura do 737. Se a família DC-9 e MD-80/90 não eram uma ameaça real ao domínio do 737, o novato europeu quebrou paradigmas ao trazer um cockpit digital, sistemas fly-by-wire e uma aeronave mais larga. A resposta da Boeing foi uma revisão completa do projeto, que deu origem a uma nova família, que ganhou novos motores, asas e estabilizadores redesenhados, cockpit digital, melhorias aerodinâmicas, entre outros.
O 737-700, o primeiro avião da série 737 Next Generation realizou seu primeiro voo em fevereiro de 1997, dando origem a uma bem-sucedida família de aviões. As novas tecnologias, somadas ao crescimento do mercado de aviação comercial ao redor do mundo, alavancou as vendas e popularizou ainda mais as viagens aéreas de curta e média distâncias.
Além disso, o 737 NG ainda permitiu criar rotas desde etapas curtas até operação intercontinental. O 737-800 encerrou sua produção com impressionantes 4.991 aeronaves, sozinho superando as gerações anteriores. A família 737 Next Generation acumulou 6.972 aviões produzidos. O modelo ainda foi a base para a plataforma Boeing Business Jet, de jatos de negócios de grande capacidade, usados especialmente por governos e bilionários no mundo.
Por fim, em meados da década passada a Boeing novamente foi forçada a responder o sucesso do A320. A Airbus havia lançado uma versão remotorizada e aperfeiçoada do modelo, designado como A320neo, que rapidamente superou as mil encomendas.
A solução da Boeing foi remotorizar o 737 com os motores CFM Leap 1, que ofereciam até 20% de economia de combustível e redução nas emissões de poluente e ruídos. A Boeing ainda adicionou algumas melhorias no cockpit, atualizações de sistemas e interior remodelado. A nova série chamada de 737 MAX obteve em poucos meses mais de 4.000 pedidos firmes, competindo em igualdade com o rival da Airbus.
Uma série de processos equivocados, erros de engenharia, falhas na linha de produção, entre outros, macularam a bem-sucedida carreira do 737. O então “cinquentão” encarou seu maior pesadelo, dois acidentes fatais com o 737 MAX 8 levaram a proibição global de voos com a família 737 MAX por quase dois anos.
Ao longo de vinte meses a Boeing foi acusada de uma série de erros, falhas e negligências, além de ser forçada a revisar o projeto do 737 MAX. Por fim, após ser liberado para voar, em dezembro de 2020, a nova e rebelde família reconquistou a confiança do mercado e espera manter o legado do 737 por mais algumas décadas.