Empresa substituirá a tradicional e conturbada marca Alitalia
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 02/03/2021, às 11h00 - Atualizado às 11h27
Marca Alitalia poderá não voltar a voar caso não haja acordo com a Comunidade Europeia
Após enfrentar mais uma grave crise, a Alitalia deverá renascer com uma estrutura mais enxuta, com um caixa de pouco mais de € 1 bilhão (R$ 6, 8 bilhões), 4.500 funcionários e uma frota de aproximadamente 45 aviões.
De acordo o jornal italiano La Repubblica, o recém-nomeado primeiro-ministro Mario Draghi se reuniu com os representantes das pastas dos transportes, economia, indústria e trabalho na para encontrar uma rápida solução para a Alitalia.
Tecnicamente a empresa atual está próxima da insolvência, o que levou o governo italiano a criar a ITA, acrônimo para Italia Trasporto Aereo no dia 10 de outubro do ano passado. No final do mês, o governo afirmou que a ITA iria assumir todos os ativos da Società Aerea Italiana (nome até então oficial da ‘nova’ Alitalia) incluindo a marca, códigos de voo e da Iata, a Alitalia CityLiner, o programa de fidelidade MilleMiglia, e slots de aeroporto em London Heathrow.
Porém, a Comissão Europeia impõe uma série de restrições que impedem investimentos públicos em alguns setores, especialmente que enfrentam grave crise. Em janeiro de 2021 a Comissão enviou um comunicado formal ao Representante Permanente da Itália na União Europeia para pedir que o país se livre dos ativos da Alitalia.
O documento sugere que os negócios combinados de aviação, serviços de solo e manutenção e o programa MilleMiglia sejam vendidos separadamente a terceiros. A intenção é capitalizar ativos importantes, o que poderá manter a viabilidade de tais negócios.
A criação da ITA como empresa de bandeira com controle estatal exige a aprovação da Comissão Europeia. Entre as reivindicações mais simbólicas está o fim da marca Alitalia, considerada um emblemático de continuidade.
A Alitalia enfrenta uma grave crise há vários anos. A empresa original, chamada de Linee Aeree Italiane foi declarada falida em meados de 2008, sendo os ativos unidos a também falida Air One, que atuava no segmento de baixo custo. O processo de recuperação era similar ao da Varig, onde a parte boa, incluindo frota, rotas, serviços de solo e manutenção, assim como o programa de milhagem, foi absorvida e rebatizada Compagnia Aerea Italiana, que manteve a marca fantasia Alitalia. A parte ruim, foi liquidada, assumindo a totalidade dos passivos.
Relançada em janeiro de 2009 como “nova” Alitalia, a empresa negociou 25% do capital com o consório Air France-KLM, por € 322 milhões. Ainda que houvesse a opção de uma maior participação a partir de 2013, mas a icônica Operação Mãos Limpas, prendeu quase 90 funcionários da nova empresa, acusados de roubo e desvio de dinheiro.
No final de 2013 a nova Alitalia estava envolta em um novo processo de falência, obtendo uma ajuda emergencial de € 500 milhões, sendo € 75 milhões de apoio estatal. Ainda diante de um cenário pouco promissor a Etihad Airways, empresa de bandeira de Abu-Dhabi, adquiriu 49% da nova Alitalia em junho de 2014, o que levou ao fim do acordo com o grupo Air France-KLM no ano seguinte.
Apenas dois anos depois a empresa retornava a uma grave crise, com protesto de funcionários e a possibilidade de encerrar suas operações. Sem um acordo formal, o governo italiano decretou o processo de insolvência da nova Alitalia de maio de 2017, passando a buscar interessados na companhia. Diversas empresas como a Ryanair, easyJet, Delta Air Lines, e até mesmo a China Eastern Airlines cogitaram investir na Alitalia. Porém, sem um comprador, no dia 17 de março do ano passado o governo italiano assumiu o controle total da empresa, evitando a paralisação completa das atividades no auge da pandemia de covid-19.
Agora a intenção é recriar uma empresa aérea enxuta e capitalizada, mas que poderá ser obrigada a renunciar a famosa e problemática marca Alitalia.