Esquema de corrupção envolveu a venda de quatro caças MiG-31 por 11 reais

Funcionário russo fraudou venda de material bélico e conseguiu desviar os poderosos jatos de combate do país

Por Edmundo Ubiratan Publicado em 07/07/2020, às 10h00 - Atualizado em 08/07/2020, às 02h18

Caças MiG-31 estão entre os aviões mais poderosos da Rússia | Foto: MiG/Sergey Kuznetsov

Quatro caças MiG-31 foram vendidos por aproximadamente R$ 11, cada, em um negócio fraudulento envolvendo um funcionário do governo russo. O esquema permitiu o desvio de milhões de dólares e envolveu um dos mais poderosos aviões de combate do mundo.

A fraude foi arquitetada por Andrey Silyakov, um funcionário da agencia estatal Rosrezerv, responsável pelos ativos do governo na cidade de Nizhny Novgorod. O funcionário iniciou uma série de leilões de sucatas na Sokol Aircraft Plant, uma divisão industrial da estatal UAC, responsável pela produção dos caças MiG-31 e dos atuais MiG-35.

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Segundo as autoridades o funcionário se tornou responsável pela venda de lotes de sucata do fabricante, incluindo peças de metal, barras de ferro, entre outros. A venda de material para reciclagem foi seguida por um dos maiores esquemas de fraude registrados pela indústria de defesa da Rússia nos anos recentes.

Em 2007, os lotes de sucata incluíram quatro caças completos, mas que foram descritos como Kit de montagem 306-001, Kit de montagem 306-002, até o quatro lote. A escolha do protocolo de venda baseado em supostos kits ultrapassados e sem utilidade, visou não levantar suspeitas sobre o negócio que foi realizado em um pregão aparentemente normal com cada kit custando 153 rublos (aproximadamente 11 reais).

Um dos temores das autoridades ao descobrirem a fraude era que Silyakov poderia estar negociando a venda dos quatro MiG-31, considerados um dos caças mais poderosos do arsenal russo, com forças estrangeiras ou grupos terroristas. Todavia, o esquema era mais elaborado e envolveu a revenda dos caças para a próxima Sokol, fabricante do jato, por bilhões de rublos.

Segundo o promotor envolvido na investigação, Silyakov era o único funcionário que realmente sabia que os kits de montagem não eram sucata e sim MiG-31 inteiros. As quatro aeronaves permaneceram armazenadas na fábrica de Sokol após o leilão, onde aguardaram um novo processo de fraude ser arquitetado. A ideia foi bastante simples, revender os quatro jatos para o governo russo, dentro de uma licitação normal de compra de equipamentos. O esquema previu obter lucro através do direito de propriedade dos aviões, um modelo considerado bastante seguro e que levou mais de uma década para ser descoberto.

A unidade de Sokol é uma das plantas industriais do Estado russo, pertencente ao conglomerado estatal UAC (United Aircraft Corporation), responsável por aglutinar diversos fabricantes de aviões, entre eles a icônica MiG (Mikoyan and Gurevich Design Bureau).

Ainda que nenhum caça tenha sequer deixado as instalações da Sokol, a fraude pode ter gerado um prejuízo de um bilhão de rublos (US$ 14 milhões) para ao Estado. Ainda assim, a família de Silyakov afirma que ele é vítima de uma armação promovida por autoridades locais. Já a promotoria afirma que o ex-funcionário público esteve envolvido em outras fraudes, incluindo a venda de combustível também descrito como sucata e sua posterior revenda com amplas margens de lucro.

A Rússia possui atualmente um grupo de investigação para apurar contratos militares, incluindo simples transações industriais, visto que a corrupção no setor de defesa foi um dos maiores problemas do país após o fim da União Soviética.

Durante os anos 1990 vários bilhões de dólares em equipamentos e tecnologia militares foram desviados dos arsenais do país, abastecendo nações rivais e grupos terroristas em todo o mundo. No período, parte dos sistemas sensíveis de armas e foguetes foram vendidos sem grandes restrições para a China, Irã e Coréia do Norte.

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