Projeto de avIão monomotor que colocaria a Toyota no mercado aeronáutico completou 22 anos do primeiro voo
Por Micael Rocha Publicado em 16/07/2024, às 10h00
Primeiro voo de um avião da Toyota completou recentemente 22 anos e embora não tenha avançado, marcou uma tentativa em desenvolver um braço aeronáutico para atender o segmento de entrada da aviação geral.
Em 31 de maio de 2002, no aeroporto de Mojave, na Califórnia, decolava o TAA-1. O monomotor de asa baixa e fabricado em materiais compostos, foi desenvolvido seguindo conceitos de construção simplificada do sistema Toyota de produção automotiva. Porém, a montagem e os testes foram feitos pela Scaled Composites, na época do engenheiro aeroespacial Burt Rutan, que se notabilizou em projetos especiais.
O propósito da montadora era de projetar uma aeronave própria, seguindo outras empresas japonesas que também atuam no setor automobilístico, como a Honda e Mitsubishi. Incentivada pelo sucesso das concorrentes, o fabricante do Corolla, há décadas o carro mais vendido do mundo, iniciou um projeto aeronáutico que durou vários anos, entre os anos 1990 e 2008.
O TAA-1 tinha capacidade para quatro ocupantes e buscava rivalizar com os então novatos Cirrus SR20 e SR22, Columbia, e os tradicionais modelos monomotores da Cessna e Piper.
A Toyota Motor Sales, divisão de vendas do setor automotivo, auxiliaria para que o processo de produção tivesse baixo custo, aplicado à futura produção dos aviões os mesmos moldes da fabricação dos carros.
Embora a Toyota tenha ampla experiência no desenvolvimento de motores a combustão, o primeiro voo ocorreu com o avião equipado com um motor Lycoming IO-360 de 180 hp. Ainda assim, o objetivo era viabilizar o uso de um motor automotivo, o que reduziria o custo de produção e abriria uma nova unidade de negócios.
Tanto que a empresa chegou a realizar alguns testes com um motor V8 do sedã LS400 da Lexus de 1991, porém, o resultado final ficou abaixo do esperado. Para dar sobrevida ao propósito de usar motores de automóveis em aviões, a Toyota chamou engenheiros da Raytheon e da Boeing, na tentativa de melhorar o desenvolvimento da aeronave e aplicar um motor próprio.
Após os resultados dos primeiros voo de testes, o fabricante japonês não divulgou maiores informações sobre o projeto, nem mesmo os dados técnicos básicos. Na ocasião, o porta-voz da divisão de vendas da Toyota nos EUA, Xavier Dominicis, revelou que “A única coisa que estamos dizendo é que realmente conduzimos um voo de teste. Estamos estudando o potencial de um avião monomotor a pistão, mas não há muito que possamos dizer”.
Ainda assim, Burt Rutan, afirmou em Oshkosh, durante o AirVenture 2002, que o TAA-1 faria uso de aviônicos japoneses e teria concepção simples, oriundas da indústria automotiva. “Será uma espécie de Corolla com asas”, comentou.
Sem utilizar, a princípio, o reconhecido nome da empresa, a Toyota trabalhou por quatro anos para finalizar o tão sonhado avião.
Pouco tempo mais tarde, Shoichiro Toyoda, filho do fundador da Toyota, deu novas pistas sobre a construção do monomotor, durante uma entrevista a um jornal de Singapura. O executivo disse que “embora nosso negócio principal ainda seja o automotivo, estamos estudando as oportunidades para uma aeronave leve. Nos EUA, existem 200.000 aviões a hélice, muitos deles envelhecendo”.
Após inúmeras negociações e tentativas da Toyota a fim de conseguir uma joint-venture com algum fabricante de aeronaves a pistão na época, somado às poucas informações e dúvidas sobre as características do projeto, o interesse por desenvolver um avião próprio esbarrou na crise financeira de 2008.
Mesmo com a tentativa de tocar o projeto, com a realização de alguns voos esporádios até 2008, o fim do avião da Toyota era certo. O fabricante desfez a parceria entre as empresas co-irmãs na produção da aeronave, e pouco tempo depois, o avião foi parar no fundo de um hangar em Mojave. Em 2011, a agência de aviação civil dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês) cancelou a matrícula da aeronave.
Sem grandes alardes no desenvolvimento e cancelamento do projeto, a Toyota discretamente desistiu de seguir os passos das concorrentes Honda e Mitsubishi no mercado aeronáutico.