Os dois maiores fabricantes da aviação comercial duelam pela liderança do mercado e enfrentam desafios diferentes
Redação Publicado em 13/04/2022, às 16h42
A acirrada disputa entre Airbus e Boeing pela liderança no mercado de aviação comercial tem quase duas décadas. Com a retomada do crescimento do transporte aéreo e o retorno dos voos com o 737 MAX, a busca pela liderança ganhou novos contornos.
No primeiro trimestre de 2022 a Airbus manteve a liderança no número de entregas, com 140 aeronaves, ante apenas 95 da Boeing, uma diferença de importantes 45 aviões.
A Boeing ainda sofre com a impossibilidade de entregar seus 787, que estão há vários meses prontos, mas passando por um complexo e caro processo de verificação de qualidade. Considerado o principal avião de grande porte da Boeing, o 787 sofreu desde o início de seu programa com falhas de projeto, problemas na cadeia produtiva e mais recentemente com falhas de qualidade na linha de produção.
Embora tenha sido líder no mercado de aeronaves e fuselagem larga por várias décadas, a Boeing enfrenta atualmente um inédito caso da falta de aviões para entrega. Ironicamente das quatro linhas de produção de aviões de grande porte, três são cargueiros puros, com apenas o 787 destinado ao mercado de passageiros. A família 777 clássica saiu de linha, para dar lugar a produção do 777-9, mas que ainda não teve sequer a fase de voos de testes concluída e está distante da certificação. Mesmo com o 787 em linha, a Boeing está impedida de entregar os aviões que estão prontos e ainda passa por uma reestruturação interna que busca corrigir uma séries de falhas de qualidade e de processos em toda a cadeia produtiva.
Por outro lado, a retomada dos voos com o 737 MAX, que ocorreu em dezembro de 2020, deu novo folego ao programa que obteve novas e importantes encomendas e mantém um ritmo acelerado de entregas. Nos primeiros três meses do ano a família 737 MAX acumulou 86 entregas, sendo seis para a Gol Linhas Aéreas.
O 767 mantém destaque no mercado cargueiro, obtendo cinco entregas entre janeiro e o final de março, seguido de mais três 777 cargos e um 747-8F.
Por outro lado, a Airbus vem mantendo um ritmo constante de entregas, com destaque para a família A320neo, em especial o A321neo que se tornou o mais bem-sucedido avião da categoria. Dos 109 aviões entregues, 58 foram do A321neo, 49 do A320neo e apenas dois A319neo. Vale ressaltar o baixo interesse do mercado pelo A319neo, que viu no A220 seu maior competidor. A estratégia da Airbus em absorver o programa CSeries, rebatizado com o A220, deu novo folego ao mercado entre 100 e 160 lugares, onde havia uma modesta participação recente da família A320. No primeiro trimestre do ano o A220 conseguiu onze entregas, mantendo a liderança no segmento.
Entre as aeronaves de grande porte, o A350 encerrou os primeiros três meses do ano com 14 entregas. O entrave é o modelo estar envolto em um complexo processo envolvendo a Qatar Airways, que acusa a Airbus de não solucionar problemas de deterioração da pintura e risco de delaminação do material composto da fuselagem.
Ainda no segmento de aviões de dois corredores a Airbus entregou seis A330neo. O modelo lançado como uma versão intermediária entre os A350 e a primeira geração do A330, teve maior participação entre empresas de baixo custo ou companhias de médio porte que necessitavam renovar suas frotas de A340 e A330, mas sem condições ou necessidades de investir no A350. Todavia, a maior parte desses clientes enfrentam problemas financeiros oriundos da crise sanitária, impactando diretamente nas vendas e no recebimento do avião. O A330-800 obteve uma modesta carteira de pedidos e sem previsão atual de sucesso de vendas no curto ou médio prazo. No primeiro trimestre a Airbus registrou o cancelamento de 83 pedidos do A330neo, superando todos os demais modelos do fabricante, que teve 63 A321neo cancelados, seguido de dezessete A320neo.