Processo de redução química abre novos horizontes na exploração espacial humana
Por Gabriel Benevides Publicado em 27/10/2020, às 15h30 - Atualizado às 16h14
Sistema poderá gerar oxigênio na Lua, além de permitir a produção de combustível de foguete
Uma equipe internacional liderada pela Airbus Defense and Space, demonstraram com sucesso a produção de oxigênio e metais a partir de poeira lunar simulada (regolito), o que pode revolucionar a exploração espacial por seres humanos.
O processo denominado ROXY, acrônimo de Regolith to OXYgen and Metals Conversion, permitiu, após dois anos de desenvolvimento e testes em laboratório, ser possível extrair oxigênio de uma amostra de poeira lunar simulada. A equipe da Airbus trabalhou ao lado de cientistas do Instituto Fraunhofer, em Dresden, na Alemanha, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos e de pesquisadores da Abengoa Innovación, de Sevilha na Espanha.
Graças ao novo método de produção ROXY, que usa diretamente a poeira lunar, será possível ampliar as opções de atividades humanas de exploração e pesquisa na superfície lunar, assim como a criação de metais e combustíveis. Atualmente um dos entraves na exploração espacial com humanos são as sérias restrições de suprimentos, especialmente de oxigênio.
“Esta descoberta é um grande salto à frente, nos levando nos aproximarmos do ‘Santo Graal’ de sermos capazes de sustentar uma vida longa na Lua”, disse Jean-Marc Nasr, chefe de sistemas espaciais da Airbus. “O ROXY é uma prova positiva de que a colaboração entre a indústria e cientistas mundiais pode trazer enormes benefícios tangíveis que continuarão a expandir os limites da exploração futura”.
A tecnologia ROXY permite uma fácil conversão de uma pequena quantidade de regolito lunar para oxigênio ou metais, suportando assim uma ampla gama de missões e necessidades. O sistema permite planejar uma missão sem o envio de uma grande quantidade de suprimentos e equipamentos. O transporte de oxigênio é um dos itens mais complexos, pesados e volumosos de uma missão espacial.
Ao transformar em oxigênio a própria poeira lunar, as missões espaciais passam a não mais exigir o envio de consumíveis adicionais da Terra, restringindo a carga ao próprio reator ROXY, na prática, ainda representa o coração de uma cadeia de valor integrada usando manufatura aditiva para produzir uma ampla gama de produtos na Lua. Isso pode incluir metais, ligas e oxigênio.
A Airbus não descarta que o sistema ROXY ainda permita no futuro a criação de combustível de foguete na própria Lua, ampliando assim o potencial das explorações espaciais utilizando o satélite natural da Terra como escala intermediária de missões para Marte ou além.
Na Terra, a tecnologia ROXY pode diminuir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa que resultam na produção de metais. Com as tecnologias atuais a produção global de metais causam graves impactos no meio ambiente. A produção de aço, por exemplo, é responsável por cerca de 5% do total das emissões globais de CO2, processo responsável por emitir quantidades significativas de perfluorocarbonos (PFCs) prejudiciais ao meio ambiente.
Como o ROXY é essencialmente um processo livre de emissões, esses impactos ambientais podem ser reduzidos, fornecendo uma contribuição significativa para os objetivos de sustentabilidade da ONU.