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Aeroporto internacional

Sorocaba desponta como opção viável para se tornar o primeiro aeródromo brasileiro voltado para a aviação de negócios capaz de atender partidas e chegadas do exterior


A Copa do Mundo da FIFA gerou muita expectativa em torno das melhorias nos aeroportos brasileiros. Apontada como um gargalo logístico, a infraestrutura aeroportuária se tornou alvo recorrente no debate sobre a capacidade do país de sediar o maior evento esportivo do planeta. Funcionou. As concessões de aeroportos para a iniciativa privada e a força-tarefa promovida por autoridades aeronáuticas surtiram efeito ao evitar transtornos no transporte aéreo durante o evento, pelo menos para os voos regulares. O mesmo não aconteceu com a aviação geral. Apesar do alarde após os anúncios de três novos aeródromos privados em São Paulo, prontamente chancelados pela Secretaria de Aviação Civil, os operadores de jatos, turbo-hélices e aviões a pistão utilizados como ferramenta de trabalho por operadores que produzem boa parte do PIB do Brasil continuam órfãos de bases capazes de atendê-los de modo adequado.

Terminada a competição de futebol, a euforia deu lugar à realidade, solapada pelas incertezas econômicas e políticas, ainda que as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro suscitem esperanças entre os mais otimistas. Nesse cenário, o aeroporto estadual Bertram Luiz Leupolz, em Sorocaba, no interior de São Paulo, emerge como alternativa concreta ao mercado de aviação geral enquanto empreendimentos como o Catarina, em São Roque, o Aerovale, em Caçapava, e o Aeroparque, em São Paulo, que estariam prontos para atender à demanda da Copa, não saíram do papel e se tornaram incógnitas. “O aeroporto de Sorocaba recebeu mais de R$ 18 milhões em investimentos, destinados a melhorias de iluminação, construção do segundo pátio da aviação geral e alargamento da taxiway, além da construção de uma futura torre de controle de tráfego aéreo”, diz Duarte Nogueira, secretário estadual de Logística e Transportes de São Paulo. “Paralelamente, estamos negociando com os órgãos responsáveis a internacionalização de Sorocaba”. O objetivo é absorver 20% do tráfego de voos internacionais não regulares de Guarulhos e Viracopos, o que significa 54 movimentos por mês.


Centro de Serviços da Gulfstream atende jatos do Brasil e do exterior

Visita a Sorocaba

Viajamos a Sorocaba para ver de perto o potencial do SDCO de se tornar o primeiro aeroporto internacional voltado à aviação de negócios do país. O cenário é promissor. Recebemos a informação de que a frota de jatos corporativos de grande porte ali baseada já supera a de Congonhas, que continua sendo o mais conveniente e desejado aeroporto do Brasil para aviação de negócios – para se ter uma ideia, o preço mensal da hangaragem de um mesmo jato de grande porte varia de R$ 30 a 35 mil em Sorocaba e pode chegar a R$ 70 mil em CGH. Entramos pelo Centro de Serviços da Embraer, que acaba de completar um ano de operações, e percorremos as sofisticadas instalações de FBO e MRO, que ocupam 20.000 m2 de área e prestam atendimentos de padrão global. Ao lado da Embraer, avistamos a construção dos igualmente superlativos hangares da WWA (World-Way Aviation), que também prestarão atendimento VIP. Do outro lado da pista, visitamos o Centro de Serviços da Dassault, o único da América do Sul, e entramos em seu depósito alfandegado com inventário de partes e peças de jatos Falcon três vezes maior do que era antes da Copa.

Com quase 70 anos de existência, o aeroporto de Sorocaba conta, ainda, com hangares de porte como os da Gulfstream e da Casas Bahia, além de instalações de marcas como Rodobens, Kia Motors, Cutrale, Traffic, Eurobike e Mitsubishi. Uma das pessoas mais empenhadas em fazer do Bertram Luiz Leupolz o principal aeródromo para aeronaves de negócios do país é o advogado e empresário Ari Bordieri Jr., presidente da Associação dos Operadores do Aeroporto de Sorocaba (ASOS). Ele conhece como poucos os meandros da aviação leve brasileira, e é taxativo: “Sorocaba é o maior polo de manutenção para aviação de negócios da América Latina. Temos aqui Gulfstream, Embraer, Dassault, Synergy, que atende Bombardier, e Pratt & Whitney, além de BR Aviation e Shell Aviation. O parque aeronáutico instalado certamente vai pesar na decisão das autoridades de internacionalizar o aeroporto sorocabano antes de qualquer outro”.

Descaso em GRU e VCP

Principal centro econômico do país, São Paulo tem apenas dois aeroportos capazes de operar voos que partem ou chegam do estrangeiro, Guarulhos e Viracopos, ambos absolutamente hostis a passageiros e pilotos da aviação geral, fruto de descaso, ineficiência e arbitrariedade de autoridades e concessionários. Já Congonhas, que é o maior hub nacional da aviação de negócios, justamente por estar no coração da metrópole de São Paulo, não opera mais voos de ou para fora do país e apresenta enormes restrições de slot. Daí a urgência de se ter um aeródromo internacional dedicado à aviação leve. Além de melhorar o atendimento para homens de negócio e seus tripulantes, tal solução desafogaria o tráfego de grandes aeroportos, voltados para a aviação regular. “Hoje uma aeronave que vem do Chile, por exemplo, precisa pousar em um aeroporto internacional, como Guarulhos, para então ir até Sorocaba. Isso representa custo e burocracia adicionais, que algumas vezes afastam o cliente”, diz Rodrigo Pesoa, diretor de Vendas da Dassault Falcon Jet para a América Latina. “Estamos aguardando a consolidação de melhorias em Sorocaba para, então, definir investimentos em nosso centro de serviços, que precisa ter sua capacidade aumentada para atender ao crescimento de nossa frota instalada na América do Sul”. Aproximadamente 25% das aeronaves atendidas pela Dassault em Sorocaba são estrangeiras. No Brasil, a frota de jatos Falcon supera as 50 unidades.

Para o presidente da Embraer Aviação Executiva Marco Túlio Pellegrini, as obras de infraestrutura aeroportuária do Brasil continuam atrasadas, sobretudo para a aviação geral. “Sorocaba já é e continuará sendo a principal base de manutenção de jatos de negócios da Embraer no Brasil, além de FBO para aeronaves de outras marcas”, destaca Pellegrini. “A instalação da torre de controle, que viabilizará operações por instrumentos, assim como a própria internacionalização, são medidas muito bem vistas pela empresa. Quanto mais seguro e confortável o aeroporto, melhor. Não há prejuízo quando se investe em infraestrutura”.

Embraer oferece em sorocaba fbo e mro com capacidade para atender até 35 aviões simultaneamente em 20 mil metros quadrados

Melhorias em curso

As melhorias em Sorocaba já estão em curso. Com movimento médio anual de 76 mil pousos e decolagens, taxa de crescimento de 15% a 20% ao ano e distante 13 minutos de helicóptero de São Paulo, o aeroporto deve receber um procedimento IFR de não precisão (não terá ILS) após a construção de uma torre de controle. Para tanto, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo terá de realizar algumas mudanças nos procedimentos atuais, já que atualmente o aeródromo está numa área REA (Rota Especial de Aviões), perto da Terminal São Paulo. Segundo Ari Bordieri, a torre será instalada próxima ao pátio antigo, ao lado do terminal, e deve estar em operação antes do final de 2016. O Decea também estuda incluir procedimentos via satélite, dependendo da demanda, do interesse local e da viabilidade técnica. Pelo projeto dos operadores locais, a intenção é que o aeroporto se torne categoria 2C, o que permitirá um alongamento da pista sem restrições determinadas por limites de “gabarito”, segundo confirma o Decea. “A pista hoje tem comprimento de 1.480 m, mas estamos homologando para 1.580 m, com área para ampliação nas cabeceiras”, revela Ari Bordieri.

O pedido de internacionalização do aeroporto de Sorocaba está em análise pela Comissão Nacional das Autoridades Portuárias (Conaero). Recém-criado, o grupo coordenado pela Secretaria de Aviação Civil (SAC) da Presidência da República recebeu a incumbência de definir as diretrizes para internacionalização de aeroportos no país. Segundo consta, o Bertram Luiz Leupolz seria o primeiro da lista em ordem de prioridade a ser internacionalizado. Nesse caso, precisará cumprir algumas exigências, como a construção de uma estrutura de segurança capaz de inibir interferências ilícitas, com fechamento do aeródromo e identificação de pessoal em seus acessos. Atuam no controle de fronteiras do Brasil a Receita Federal, a Polícia Federal, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Para o secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da Prefeitura de Sorocaba, Geraldo Almeida, as autoridades nacionais reconhecem a necessidade de internacionalização do aeroporto da cidade. “É uma questão estratégica para apoiar os aeroportos de São Paulo”. Segundo ele, a Prefeitura está trabalhando com o órgão administrador do aeroporto, o Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (DAESP), para consolidar a posição de Sorocaba como um polo de aviação de negócios, de fácil acesso aos principais centros empresariais do estado e capaz de fomentar ações nas áreas da indústria, turismo e serviços.

“A ideia é modernizar o aeroporto, consolidar a projeção internacional da cidade, atrair novos investimentos no setor aeroviário, ampliar a qualificação de mão de obra especializada e gerar empregos diretos e indiretos neste setor”, elenca Geraldo Almeida. Para isso, continua o político, será necessária a construção da Avenida do Contorno, interligando o aeroporto às zonas Norte e Oeste e aos parques industrial e tecnológico, facilitando o acesso às empresas engajadas na reestruturação do aeroporto, como a Embraer. “A via, duplicada, atenderá principalmente a veículos destinados à alimentação e escoamento de materiais produzidos pelas empresas instaladas no aeroporto, beneficiando, ao mesmo tempo, o trânsito local como um todo. Isso atrairá novas empresas, facilitará as atividades de manutenção de aeronaves, pousos e decolagens de aviação executiva, prevenirá invasões e eliminará situações de risco no entorno”. A Prefeitura prevê a inauguração de cinco hotéis e, no futuro, pretende também trazer a aviação regional para a cidade.


Centro próprio da Dassault em Sorocaba, o único da América do Sul

Dassault, Gulfstream e Embraer

A presença de alguns dos principais fabricantes de jatos de negócios mostra a relevância de Sorocaba para a aviação geral. Entre as grandes, a primeira empresa a se estabelecer no aeroporto foi a Dassault Falcon Jet, em 2009. A unidade emprega hoje 30 funcionários e ocupa uma área de 3.000 m2, ampliada recentemente, promovendo o chamado AOG (Aircraft on Ground) de atendimento remoto, além de múltiplos checks A, instalação de aviônicos, manutenção de baterias, testes não destrutivos e, desde o início de 2015, também check B. “Escolhemos Sorocaba principalmente por estar próximo ao maior mercado de aviação executiva, que é São Paulo, permitindo fácil acesso aos operadores”, justifica Rodrigo Pesoa, que defende melhorias há bastante no aeroporto. “Os operadores pedem o término das obras de perímetro e segurança, e a construção da torre de controle. Além, claro, da internacionalização do aeroporto, que facilitaria o atendimento a aeronaves estrangeiras e traria mais clientes de outros países da América do Sul. Visando o longo prazo, precisamos ter um projeto concreto de ampliação da pista”.

Aeródromos privatizados

Daesp acena com possibilidade de conceder a empresas privadas a administração dos aeroportos de Jundiaí, Bragança, Itanhaém e Amarais

O secretário estadual de Logística e Transportes de São Paulo, Duarte Nogueira, informa que o governo paulista tem planos de conceder à iniciativa privada alguns aeroportos do Daesp. O órgão estuda privatizar Jundiaí, Amarais (Campinas), Bragança Paulista e Itanhaém. Os dois primeiros são os mais importantes, pois concentram boa parte da aviação de negócios e geral de São Paulo e da região de Campinas. Sorocaba não está nos planos neste momento. “Primeiro vamos concluir os processos em andamento, que são a construção da torre de controle e a internacionalização”.

A Gulfstream foi o segundo fabricante de jatos de ultralongo alcance a instalar um centro próprio em Sorocaba, o que aconteceu em junho de 2012. Dois anos depois, a empresa já ocupava um hangar maior, mais moderno e melhor localizado, para atender à crescente demanda da frota de aeronaves da marca na América do Sul. O Brasil é o segundo maior mercado da Gulfstream na América Latina. A empresa informa que sua frota quase triplicou nos últimos cinco anos e, atualmente, tem cerca de 40 jatos voando no país. O centro está certificado para executar trabalhos em aeronaves Gulfstream registradas no Brasil e nos Estados Unidos, incluindo as séries GV e GIV, G280, G200, G150, G100 e GIII. O hangar de 3.230 m2 da Gulfstream pode acomodar quatro jatos de cabine larga e três aeronaves de cabine média. O inventário do depósito de partes e peças é de US$ 8 milhões. Em Sorocaba, a Gulfstream dispõe de sete escritórios de clientes, uma sala de conferências e estacionamento de carros coberto, sob o hangar. Trabalham no centro 25 funcionários, que realizam manutenção, reparos e alterações de todas as aeronaves Gulfstream registradas no país. Para a companhia, é um “centro estratégico de suporte ao cliente”.

Mais recente operadora de Sorocaba, a Embraer deu um impulso decisivo para o aeroporto ao estabelecer um centro completo de atendimento aeroportuário aos seus clientes, um investimento de US$ 25 milhões. A unidade oferece serviços de MRO (Maintenance, Repair & Ovehaul) e de administração, reforma e revitalização de interiores e reparo de componentes, além de um ponto de atendimento com compartilhamento de localização de FSR (Field Service Representatives). Atualmente, 100 funcionários e 45 trabalhadores terceirizados atuam na unidade para o atendimento de até 35 aeronaves simultaneamente.

Estrategicamente configurado com divisão entre os hangares, o centro dispõe de um imponente FBO (Fixed Base Operator), que realiza operações de chegada, estacionamento e saída de aeronaves e tripulantes com serviços de reabastecimento, hangaragem, parking (estada em pátio ou no hangar), atendimento aeroportuário, entre outros, para aeronaves de todas as marcas. Completam o atendimento auxílio à tripulação e aos passageiros com alimentação, acesso à internet e telefonia, áreas de descanso, área para reuniões, salas VIP, catering e agendamento de carros e hotéis. Hoje, estão baseados no hangar 10 aeronaves, com planos para treze. Na Copa, pelos menos 25 “matrículas” passaram pelo centro da Embraer em Sorocaba, apesar de não ser uma cidade sede e operar apenas visual. 

O centro oferece, ainda, um gerenciamento técnico de manutenção, cuidando de todo o controle das paradas de manutenção, agendamento, controle de BSs e ADs, atualização de documentação técnica e assim por diante. Os serviços de manutenção são apenas para jatos Embraer e incluem revisão pesada de 96 meses, algo como check C. “Escolhemos Sorocaba pelas boas condições do tráfego aéreo, meteorologia favorável, proximidade com a capital paulista, perspectiva de melhorias na infraestrutura aeroportuária, boa infraestrutura da cidade, mão de obra qualificada na região, crescimento da movimentação no aeroporto, bem como sua vocação para aviação executiva”, informa a empresa.

Aeroportos privados

Os aeródromos privados anunciados às vésperas da Copa do Mundo também prometem se tornar hubs da aviação de negócios do país e virarem internacionais. Mas, apesar dos vultosos investimentos e das forças políticas por trás dos empreendedores, parecem ter perdido terreno para Sorocaba por uma razão bastante simples: ainda não existem, são apenas projetos a espera de aprovações, ainda que as vendas e as obras tenham começado em alguns casos.

Tendo como sócios os empresários Fernando Botelho e André Skaf, a Harpia Logística, anunciou, em 2013, a construção de um aeroporto privado no bairro de Parelheiros, no extremo sul da cidade de São Paulo. A proposta contempla uma pista de pouso e decolagem, pistas de taxiamento, hangares e seus respectivos pátios frontais distribuídos em oito áreas distintas e uma área exclusiva destinada à FBO e demais edificações.

O projeto batizado de Aeroparque prevê uma pista de 1.800 m e, segundo os empreendedores, será capaz de operar até 240.000 pousos e decolagens por ano.

O empreendimento foi o primeiro do país a receber outorga para um aeroporto privado autorizado a cobrar tarifas, ou seja, fazer a exploração comercial. Anteriormente, aeroportos privados podiam receber apenas voos particulares. Na ocasião, o então ministro da SAC, Moreira Franco, afirmou que empreendimentos similares eram necessários, já prevendo sua internacionalização. Os sócios do aeroporto esperavam que após obterem todas as licenças municipais e estaduais as obras estariam finalizadas em até 15 meses, com inauguração prevista para 2015.

Uma série de contratempos, porém, surgiu no horizonte. O primeiro deles ocorreu em abril de 2014, quando a Justiça de São Paulo negou o pedido da Harpia para reverter a decisão da prefeitura de vetar a construção do aeroporto na região de Parelheiros por questões ambientais. Apesar dos boatos, o empresário André Skaf garante que o projeto Aeroparque continua andando. “Construiremos em Parelheiros um aeroporto focado na aviação executiva internacional, com toda a estrutura necessária para isso. Apenas decidimos desacelerar o processo, pois a economia mudou bastante e agora temos de ter cautela, por conta das mudanças de preços e do próprio plano de negócios”, esclarece Skaf.

Um oásis em Pernambuco

Aeroporto privado Coroa do Avião atende ao crescente movimento de aviões de negócios no Nordeste

Com foco no mercado corporativo, o Aeródromo Coroa do Avião se  tornou o primeiro aeródromo privado de Pernambuco a ser autorizado pela SAC para a exploração comercial. Localizado no município de Igarassu, a 23 km do Recife, o Coroa do Avião está instalado em uma área de 90 hectares e tem capacidade para receber praticamente qualquer aeronave da aviação geral e de negócios, podendo ainda receber a família ATR 42. O aeródromo entrou em operação em setembro de 2012 e se tornou o primeiro aeroporto privado brasileiro a iniciar suas operações regulares. Desde então, recebeu uma série de investimos. Uma das principais melhorias foi a homologação do balizamento noturno, permitindo pousos e decolagens à noite. Outra novidade é que a pista principal ganhou mais 26 metros, passando de 1.255 m para 1.281 m. Quando estiver totalmente concluído, o aeroporto terá até dez hangares de 3.000 m2, 22 hangares de 1.000 m2, e oito hangares de 540 m2, além de um terminal de passageiros, um centro de manutenção e de treinamento.

Já a JHSF, uma das maiores construtoras do país, aposta no lançamento de um complexo aeroportuário na região metropolitana de São Paulo. Batizado Catarina, o projeto localizado em São Roque (a 60 km de São Paulo), ao lado da Rodovia Castello Branco, inclui oito torres corporativas e um Fashion Outlet com 25.000 m de área e mais de 100 lojas, este já em funcionamento. Do outro lado da rodovia, estará o aeroporto, que, de acordo com o projeto original, terá uma pista com 2.470 m x 45 m (alguns materiais de divulgação mostravam duas pistas). O aeródromo também deverá contar com torre própria, operação 24h, pátio para aviação geral, terminal de passageiros, áreas para empresas especializadas em FBO e MRO. Com uma área de aproximadamente 2.000.000 m², o empreendimento prevê cerca de 50.000 m² de hangares e 50.000 m² de pátios na primeira fase. A infraestrutura projetada será capaz de receber jatos leves de grande porte, tais como Embraer Lineage 1000E, Gulfstream G650 e G550, Bombardier Global Express e Dassault Falcon 7X.

Visando atender o público corporativo de São Paulo, o aeroporto deverá contar com heliponto destinado apenas a voos shuttle. Em 2013, os executivos da JHSF esbarraram no primeiro entrave para a construção do aeroporto, problemas ambientais. Diversos ecologistas passaram a questionar na justiça a obra, que poderia afetar o ecossistema local. Em seguida, vizinhos do empreendimento, como moradores do condomínio Porta do Sol, conseguiram embargar a obra, que, na ocasião, já acumulava mais de um ano de atraso.

Além das questões ambientais, alguns críticos do projeto Catarina alegam que o aeroporto causará impacto nas operações de Congonhas por conta do posicionamento de suas cabeceiras, podendo exigir alterações nos procedimentos de saída e chegada do aeroporto, o que incluiria novos procedimentos também em Viracopos e Guarulhos. Desde 2011, as dívidas da JHSF subiram de uma para três vezes a geração de caixa. Apenas em 2013 suas ações desvalorizaram 50%. A empresa diz que os números refletem um momento temporário ligado à mudança de estratégia adotada.

Entramos em contato com os responsáveis pelo Catarina, que preferiram não se manifestar. Segundo analistas ouvidos pela reportagem, o projeto do aeroporto só deve sair depois de 2020. Alguns chegam a dizer que não se surpreenderiam se o plano fosse abortado, alegando que as operações em São Roque imporiam restrições ao Campo de Marte e a Sorocaba, além de exigirem adaptações do Decea em relação a CGH e GRU.

Finalmente, o Aerovale, em Caçapava, que despontou como o mais adiantado dos aeródromos privados de São Paulo parece ter se mostrado inviável, pelo menos por ora. A construção da pista e as dezenas de tratores gigantes que delineavam o empreendimento foram insuficientes para que o idealizador do projeto, o construtor Rogério Penido, cumprisse seu plano. Ele primeiro garantiu que os pátios do aeroporto serviriam de alternativa para os jatos de negócios durante a Copa, depois anunciou investimentos adicionais para ampliação da pista. No início deste ano, o Ministério Público entrou com uma ação na Justiça pedindo a demolição de lotes e vias que foram construídas em áreas consideradas de preservação permanente (APP) e úmidas no Aerovale.

Por Giuliano Agmont e Edmundo Ubiratan
Publicado em 24/04/2015, às 00h00


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