Conversamos com a equipe da Disneytoon Studios responsável por garantir realismo aos personagens da nova animação Aviões, que estreia no Brasil neste mês de setembro
A animação Aviões (Planes, 2013), que entra em cartaz no Brasil neste mês de setembro, segue a linha dos sucessos anteriores Carros (Cars, 2006) e Carros 2 (Cars 2, 2011). No lugar de automóveis, desta vez os personagens são aeronaves com ares de brinquedos coloridos. Até aí, a animação é mais uma produção infantil caprichada para algum fim de semana com os filhos pequenos no cinema. O que diferencia Aviões são os detalhes da esmerada pré-produção do Disneytoon Studios.
Para dar “veracidade” às cenas, a Disney caprichou na pesquisa, recrutando gente que sabe fazer cinema e conhece aviação para contar a história do pulverizador Dusty Crophopper, que sonha competir em uma corrida de grande altitude ao redor do mundo. É um conto de superação. Além de não ter sido projetado para tanto, sofre de um incontornável medo de altura, nunca voando acima de 300 metros. O primeiro a ser chamado foi o diretor Klay Hall, filho e neto de pilotos – seu avô foi da Marinha durante a Segunda Guerra –, o produtor de design Ryan Carlson, que na adolescência foi voluntário da Civil Air Patrol – entidade auxiliar da Força Aérea Norte-Americana em missões de resgate, socorro e educação aeroespacial –, e a produtora Traci Balthazor. O trio conversou com a reportagem de AERO Magazine. “Quando este projeto apareceu, pude de fato mergulhar nesse universo”, contou Klay Hall. Durante a infância, seu pai o levava para ver aviões decolando e aterrissando. Hall ainda guarda alguns desenhos que fez naquele tempo. “Só de falar sou capaz de sentir a velocidade e o barulho todo”.
Hall, Carlson e Balthazor voaram pelos Estados Unidos em busca de ideias e referências visuais. O trio percorreu feiras e museus, conversando com pilotos, veteranos, projetistas e até passando algum tempo com as esquadrilhas de demonstração Blue Angels e Thunderbirds. Para Balthazor, o mundo aeronáutico era uma novidade que lhe pregou alguns sustos. O maior deles foi um pouso no porta-aviões nuclear Carl Vinson, a bordo de um cargueiro C-2 Greyhound. “Foi uma das coisas mais aterrorizantes que fiz. Estávamos a centenas de milhas por hora e paramos em dois segundos”, conta.
O principal desafio estava nas cenas aéreas. Ao contrário do antecessor Carros, no qual as noções de velocidade eram dadas pelo deslocamento no cenário, em Aviões essa possibilidade inexistia. Na altitude, os pontos de referência desaparecem. A equipe de criação teve de se concentrar nos movimentos de leme, spoilers, ailerons e flaps para dar noções de esforço e de velocidade. Ao contrário de desenhos mais “infantilizados”, para a Disney era proibido esticar asas, encurvar fuselagens ou fazer uma hélice se comportar de modo diferente. “Os personagens sempre deveriam parecer brinquedos, mesmo assim tivemos o cuidado de fazê-los voando corretamente”, conta Ryan Carlson.
De início surgiram dificuldades, apesar das horas de filmagens com aviões reais para verificar como estes se comportam no ar sob os diferentes ângulos. “Com os pneus no chão, os personagens pareciam reais”, conta Hall. “Mas assim que eles decolavam — considerando que tínhamos que fazer algo se transformar em um espaço tridimensional — era significativamente mais complicado”. Para resolver de vez a questão, foi chamado o criador da série Dogfights, do History Channel, Jason McKinley. Ele se ateve às características essenciais de cada aeronave, como taxas de curva, de rolamento e velocidades máximas em quase 800 cenas. O resultado convence. Quando o modesto Dusty, com seu motor PT6, transforma-se em um competidor dos céus, é possível acreditar. “É a experiência mágica de voar”, diz o diretor Hall. A sequência de Aviões já está em andamento. Será Planes: Fire and Rescue, com lançamento previsto para julho de 2014.
Dusty Crophopper teve suas linhas inspiradas nos monomotores monoplanos agrícolas Air Tractor AT 502 e PZL Mielec M-18 Dromader, além de modelos Cessna. O AT 502 faz parte da família de aviões construída pela fabricante americana Air Tractor e foi lançado em 1986. Ao contrário de Dusty, o AT 502 consegue subir bem mais do que apenas 300 metros graças ao confiável motor Pratt & Whitney PT6A-34AG, que atinge 750 shp a 2.200 rpm. Mais de 1.000 aviões dessa família foram construídos. Outro claro inspirador de Dusty é o veterano e constantemente modernizado M-18 Dromader, construído pela polonesa PZL Mielec. Com seu primeiro voo em 1976, esta família foi desenvolvida com apoio de projetistas da Rockwell. Equipado com um motor radial Shvetsov Ash-62, de 980 hp, tem cerca de 800 exemplares vendidos em todo o mundo.
As linhas de Ripslinger, o concorrente de Dusty, são uma mistura de várias aeronaves. De alguns ângulos parece com um Curtiss P-40 ou um Messerschmitt Bf 109, de outros, os Sharp Nemesis e Nemesis NXT, aviões de corrida com longo nariz e trem de pouso fixo. Construído sob encomenda, com ampla utilização de fibra de carbono, Ripslinger nem sempre joga limpo.
Skipper, o veterano da Marinha que ajuda Dusty, é um F4U Corsair. Considerado o avião mais poderoso de seu tempo, tem características asas em formato W. Foi o primeiro a atingir a marca de 640 km/h em voo nivelado e fez sucesso em combate sobre as águas do Pacífico.
O De Havilland DH. 88 Comet é um bimotor britânico vencedor da corrida aérea da Inglaterra à Austrália, em outubro de 1934. De linhas limpas, estabeleceu recordes e foi utilizado como correio aéreo. Só cinco foram construídos. É pouco lembrado atualmente.
Personagem exuberante, o latino El Chupacabra é um Gee Bee, aeronave para corridas aéreas projetada em 1932, pela Granville Brothers. Com fuselagem em forma de gota e baixo arrasto aerodinâmico, podia fazer curvas fechadas sem perder altitude. Existem réplicas em operação.
São dois caças F/A18E Super Hornet do Esquadrão Jolly Rogers, baseados em um porta-aviões. As vozes de ambos pertencem aos atores Val Kilmer e Antony Edwards, que participaram do clássico do gênero, Top Gun - Ases Indomáveis (1986).
Biplano pulverizador agrícola, Leadbottom, o chefe de Dusty, foi inspirado tanto no Grumman G-164 como no velho Boeing-Stearman 75
Campeã asiática, Ishani possui configuração pusher, sendo vagamente inspirada em uma série de modelos, como o Piaggio Avanti, o Beechcraft Starship, o Curtiss XP-55 Ascender e o Rutan E-Racer.
Vinda do Canadá, Rochelle parece reproduzir as linhas suaves do Bay Super V, uma conversão pouco conhecida do Beechcraft Bonanza para um modelo bimotor. Só nove foram fabricados.
Por André Vargas
Publicado em 03/09/2013, às 00h00 - Atualizado às 22h26
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