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Por que os trijatos desapareceram da aviação comercial

Entenda por que os trijatos saíram de cena na aviação comercial e como os bimotores modernos assumiram seu lugar com mais eficiência e menor custo


O Boeing 727 é um dos mais icônicos trimotores da era do jato - Guilherme Amancio
O Boeing 727 é um dos mais icônicos trimotores da era do jato - Guilherme Amancio

Durante décadas, os trijatos — aeronaves comerciais equipadas com três motores — foram protagonistas no transporte aéreo global, combinando alcance, capacidade de carga e eficiência operacional. Modelos icônicos como o Boeing 727, McDonnell Douglas DC-10 e Lockheed L-1011 dominaram rotas de médio e longo curso, quando os bimotores ainda não ofereciam desempenho equivalente.

Hoje, praticamente extintos na aviação comercial, os trijatos sucumbiram ao avanço tecnológico dos propulsores, que permitiram aos bimotores conquistar o mercado de voos intercontinentais com menor custo e maior eficiência.

Nos anos 1960 e 1970, aeronaves como o Hawker Siddeley Trident e o Boeing 727 foram pioneiras na configuração trijato, com dois motores na traseira e um terceiro alinhado com o centro da fuselagem. Essa solução técnica proporcionava maior capacidade de carga e alcance em relação aos bimotores da época, mantendo custos operacionais inferiores aos quadrimotores.

Na aviação de longo curso, trijatos como o McDonnell Douglas DC-10 e o Lockheed L-1011 Tristar representaram um equilíbrio entre eficiência operacional e desempenho, sendo mais econômicos do que o Boeing 747, mesmo transportando menos passageiros e carga. No entanto, a partir da década de 1990, novos bimotores como o Boeing 777 e o Airbus A330 passaram a oferecer capacidades semelhantes ou superiores aos trijatos, graças aos turbofans mais potentes e econômicos.

A evolução tecnológica dos motores foi decisiva para essa mudança. Enquanto o Boeing 707, no final dos anos 1950, dependia de quatro motores com empuxo entre 13.500 e 19.000 libras cada, os turbofans de alta razão de diluição (bypass ratio) passaram a fornecer muito mais potência com menor consumo de combustível. Isso eliminou a necessidade de múltiplos motores.

Paralelamente, mudanças regulatórias também influenciaram diretamente o declínio dos trijatos. Por décadas, restrições da FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA) limitavam os bimotores a voar distâncias máximas de aeroportos alternativos, com limite de 60 minutos de voo, exigindo a presença de três ou quatro motores em rotas sobre oceanos ou regiões remotas.

Esse cenário começou a mudar em 1985 com a introdução do ETOPS (Extended-range Twin-engine Operational Performance Standards). Inicialmente permitindo 120 minutos de voo para bimotores como o Boeing 767 e Airbus A300-600, logo o novo padrão ampliou significativamente as possibilidades operacionais dessas aeronaves em rotas antes exclusivas dos trijatos ou quadrimotores. Os primeiros Airbus A330 tinham ETOPS de 180 minutos, enquanto nos atuais A330neo a certificação é de até 285 minutos com motores Rolls-Royce Trent 7000.

L1011
Lockheed L1011 Tristar foi um dos trijados clássicos

Já os A350-900 e A350-1000 foram certificados com o mais alto ETOPS já concedido até hoje, permitindo voar por 370 minutos de um aeroporto alternativo, ou seja, mais de 6 horas de voo monomotor.

Com motores mais eficientes, os trijatos tornaram-se economicamente inviáveis. O McDonnell Douglas MD-11, lançado nos anos 1990 como evolução do DC-10, exemplifica essa transição. Mesmo com avanços em relação ao antecessor, o modelo enfrentou limitações de projeto e o contexto desfavorável do fabricante, resultando em pouco mais de 200 unidades vendidas. Sua capacidade operacional era similar à de bimotores contemporâneos, como o Airbus A330 e o Boeing 777, que registraram milhares de entregas e consolidaram sua liderança no mercado.

Além do alto consumo de combustível, os trijatos apresentavam custos elevados de manutenção e desempenho inferior frente às novas gerações de bimotores, fatores que decretaram sua retirada do transporte aéreo comercial.

Falcon 8X
Dassault Falcon 8X é um dos últimos aviões com configuração de três motores

Apesar disso, a configuração ainda sobrevive pontualmente na aviação de negócios. A francesa Dassault Aviation mantém em produção os Falcon 900 e o Falcon 8X, ambos com três motores. Nessa categoria, fatores como  melhor desempenho em pistas curtas e diferenciação técnica e estética justificam a manutenção da configuração. Porém, os últimos lançamentos da Dassault foram todos bimotores, como o Falcon 6X e o Falcon 10X.

Por Marcel Cardoso
Publicado em 29/05/2025, às 09h38


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