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Risco global

Israel avalia a Turquia como ameaça crescente

Comitê israelense alerta para ambições turcas e risco de aliança estratégica com a Síria, ampliando tensões regionais


Relatório avalia que Israel deveria comprar um novo lote de caças F-15 - IDF
Relatório avalia que Israel deveria comprar um novo lote de caças F-15 - IDF

Israel deve se preparar para um confronto direto com a Turquia, considerada pelo último relatório do Comitê para Avaliação do Orçamento do Estabelecimento de Defesa e do Equilíbrio de Poder, conhecido como Comitê Nagel, uma preocupação com a segurança interna.

Embora o documento concentre a maior parte das páginas no Irã, tradicional inimigo de Israel, o comitê afirma que a Turquia se tornou um risco concreto no curto prazo, especialmente pelos perigos de alinhamento de facções sírias com o governo de Recep Tayyip Erdogan.

O dossiê, divulgado ontem (6), alerta para as ambições turcas, que estariam supostamente buscando ampliar sua influência na região. Em especial, uma aliança com o novo governo da Síria pode representar uma investida mais arriscada e significativa que o Irã.

O Comitê Nagel justifica os investimentos pelas supostas pretensões de Erdogan em restabelecer a influência que a Turquia tinha na era otomana, o que poderá ganhar impulso com a mudança no regime sírio.

“O problema se intensificará se o poder sírio se tornar, de maneira prática, um emissário turco, como parte da realização do sonho turco de devolver a coroa otomana à sua antiga glória”, afirmou o documento. O comitê alertou o governo israelense, que o novo governo na Síria poderá permitir à Turquia encurtar o processo de criação de uma nova ameaça sírio-turca (para os interesses israelenses).

Entre os argumentos sobre os desafios associados à Turquia está a presença militar significativa do país além das suas fronteiras, sobretudo na Síria e na Líbia, assim como os investimentos na ampliação das capacidades militares. Nos últimos anos, a Turquia tem trabalhado no desenvolvimento de capacidades e tecnologias próprias, com programas que visam reduzir a dependência estrangeira, sobretudo em novos caças e veículos aéreos não tripulados (drones).

Drone Israel
Israel e Turquia competem no bilionário mercado de armas, em especial no segmento de drones

Além dos investimentos em tecnologias militares para atender às suas necessidades de defesa, a Turquia tem se tornado um importante player no cobiçado mercado global de exportação de armas. A indústria turca tem se destacado por sua capacidade em soluções militares avançadas, muitas vezes com entrega imediata, como visto no conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o que também é percebido como um risco aos interesses e à segurança de Israel.

Ameaças Emergentes

O relatório apresentando a estratégia a ser adotada foi enviado ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, assim como ao ministro da Defesa, Israel Katz, e ao ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, destacando, inclusive, investimentos imediatos na força aérea.

O documento aponta para o que chamou de “uma estratégia abrangente para enfrentar as ameaças emergentes”, que, no caso da força aérea, inclui um novo lote de caças F-15, compra de aviões de reabastecimento, desenvolvimento de drones e satélites para fortalecer as capacidades de ataque de longo alcance.

Outro ponto de destaque é o aprimoramento das capacidades de defesa aérea em várias camadas, incluindo o Domo de Ferro, o Estilingue de Davi, os sistemas Arrow e o moderno sistema baseado em laser Iron Beam.

Além disso, o dossiê aponta uma mudança na estratégia de 2025, sugerindo investimento adicional de 9 bilhões de shekels (2,47 bilhões de dólares) nas forças armadas ainda este ano, em uma proporção de 70% para ataque e 30% para defesa, destacando que será necessário manter algum nível de aumento até cerca de 2030.

A comissão ainda destacou que Israel deverá garantir capacidade de se defender por conta própria, sem assistência estrangeira. O alerta é uma clara preocupação com a política externa de Donald Trump, que assumirá novamente a presidência dos Estados Unidos e tem mostrado pouca disposição de envolver o país em conflitos internacionais que não envolvam diretamente a segurança norte-americana. Assim, o relatório recomendou que Israel tenha capacidade militar e tecnologias de armamentos para um eventual conflito direto com o Irã ou a Turquia.

O Dilema da OTAN

Porém, vale destacar que a Turquia é membro da OTAN, que prevê a garantia da segurança coletiva, onde o Artigo 5º do Tratado estabelece que “Um ataque armado contra um ou mais membros da OTAN, ocorrido na Europa ou na América do Norte, será considerado um ataque contra todos”.

A invocação do Artigo 5º não exige ação automática dos demais membros, mas requer uma avaliação da situação. Se a Turquia fosse hipoteticamente atacada e a aliança não garantisse uma pronta defesa, a mensagem passada seria preocupante: nem todos os membros estão seguros, e interesses externos pesam mais que a segurança de países com menor capacidade.

Ainda assim, a resposta não precisa ser exclusivamente militar; pode incluir sanções econômicas, apoio logístico, cibersegurança ou mesmo negociações diplomáticas. Em qualquer um dos cenários, seria uma situação crítica, dado o papel estratégico de Israel e da Turquia no delicado equilíbrio da paz na região.

Por fim, segundo a imprensa israelense, após receber o dossiê do Comitê Nagel, Netanyahu declarou que tem consciência de que a maior ameaça à segurança de Israel segue sendo o Irã, mas “ainda existem forças adicionais que entraram em cena, e precisamos estar sempre preparados para o que pode vir”.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 07/01/2025, às 16h00


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