Empresário do Cazaquistão negocia o último ônibus espacial soviético com oferta inusitada
Último ônibus espacial soviético aguarda definição sobre o futuro enquanto permanece em um hangar no Cazaquistão
Um empresário cazaque propôs uma troca inusitada para o governo russo: Ele aceita devolver um dos ônibus espaciais do antigo programa soviético Buran-Energia, em troca de um crânio humano.
Embora os soviéticos tenham oficialmente batizado seu projeto de Programa Orbitador Espacial, sem uma designação mais pomposa, mundialmente ele é conhecido como Buran, nome da primeira e única nave espacial do projeto que foi enviada ao espaço.
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O Programa Buran foi um dos mais icônicos projetos espaciais da União Soviética teve um fim dramático, com os protótipos das naves espaciais sendo abandonados logo após o colapso do bloco socialista.
Dois exemplares ficaram estocados no Cazaquistão, país que abriga o cosmodromo de Baikonur, onde os russos lançam parte de seus foguetes e missões espaciais. Justamente o Buran, que foi lançado na orbita baixa, sem tripulação e pousou de forma autônoma, foi destruído após o desabamento do teto do hangar. O outro exemplar, o Burya permanece no Cazaquistão desde os anos 1990.
É justamente o Burya, ou OK-1.02 Ptichka como também é chamado, que está sendo oferecido em troca de um crânio humano.
O chefe do cosmodromo de Baikonur, Dauren Musa (acima) é o tutor legal do último ônibus espacial soviético
O chefe do cosmodromo, Dauren Musa, alega ter os direitos legais sobre o Burya, comprovados pelo governo do Cazaquistão e questionado pelos russos. Ainda que não seja claro como ele obteve a posse legal da nave espacial, acredita-se que ele adquiriu o veículo em uma venda de ativos espaciais nos meses seguintes ao colapso da União Soviética.
O programa Buran foi oficialmente encerrado pelos russos em 1993, mas grande parte dos exemplares e sistemas do projeto estavam no Cazaquistão, que já tinha total independência de Moscou. É possível que nesse processo, que contou com enorme corrupção e grande burocracia, o Burya tenha sido colocado a venda como sucata e de alguma forma acabou nas mãos de Musa.
Recentemente a nave espacial foi vandalizada após grupo ter invadido as instalações do cosmodromo
Os russos têm interesse no exemplar por ser o segundo veículo espacial do projeto, que está ao menos 97% completo e deveria ter ido ao espaço no final da década de 1980. Com a crise no regime soviético os recursos que eram escassos desapareceram e a nave jamais foi concluída. Outros exemplares, como o 3K, ou 2.01, ficou em Zhukovsky, nos arredores de Moscou, mas está parcialmente montado, com menos de 50% das peças finalizadas. Já o 4K ou 2.02, não chegou nem aos 20% de conclusão de sua montagem.
Outros veículos destinados aos testes gerais tiveram melhor sorte, com o OK-M sendo exposto no Cosmodromo de Baikonur, o OK-GLI usado em testes de voo atmosféricos (inclusive ganhou motores para permitir que voasse de forma independente de um transportador) hoje está exposto no museu alemão Technik Museum Speyer, após ter ficado alguns anos no acervo do Pyrmont Island, na Austrália e por um curto período no Bahrein.
Outros exemplares estão na Rússia, mas nenhum deles era a nave espacial, apenas veículos de testes. O que aumenta o valor histórico do Burya, algo que seu tutor sabe ser de grande interesse para o governo russo.
Tanto que sua oferta envolve receber o crânio do herói cazaque Kenesary Kasymov, o último Khan, que liderou a resistência local contra a tentativa de anexação do território pelo então Império Russo, em 1840.
A troca inusitada tem forte apelo nacionalista, visto o orgulho do povão do Cazaquistão por sua história ao longo dos séculos.
Atualmente Musa tem atacado a forma como o governo russo cuidou dos ativos históricos do bloco soviético. Segundo o empresário, após o fim do regime, em 1991, o Estado Russo optou por abandonar ou vender centenas de aeronaves, submarino, navios, entre outros apenas para se livrar do problema espalhado por uma vasta área territorial e que não estava mais sob sua administração direta.
“Agora, [o Burya] não é apenas um monumento à astronáutica. É um exemplo vívido, uma lembrança de todos os objetos específicos, com números e nomes que foram destruídos propositalmente”, afirmou Musa em entrevista ao Tengrines, do Cazaquistão. “O Burya é como um espinho no olho, uma clara evidência do grande passado, dançando sobre os restos mortais”.
O futuro da nave espacial está em risco, visto os novos projetos do Cazaquistão para o Cosmodromo de Baikonur e o iminente fim do apoio financeiro por parte da agencia espacial russa, a Roscosmos, para as instalações cazaques.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 07/10/2021, às 16h00 - Atualizado às 16h54
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