Problema nos motores Rolls-Royce Trent 1000 podem levar a suspensão das operações de longo curso para os aviões equipados com o motor
O Boeing 787 deverá sofrer uma nova restrição caso o FAA (Federal Aviation Administration), a agencia norte-americana de aviação, publique uma Diretiva de Aeronavegabilidade (AD) para os modelos equipados com os motores Rolls-Royce Trent 1000.
O problema é relacionado a corrosão nas palhetas do fan, que tem comprometido a performance do motor. Na última semana, a agencia europeia para segurança de aviação (EASA) emitiu uma AD exigindo um número maior de inspeções e limitado as operações das aeronaves envolvidas. Pela norma, os 787 equipados com motor Rolls-Royce não podem estar a uma distância maior que 60 minutos de voo de um aeroporto capaz de receber o modelo.
O motor Rolls-Royce Trent 1000 está instalado em aproximadamente de 25% da frota de 787 Dreamliner, muitos que operam na Ásia e na América do Sul. Em 2016, a japonesa All Nippon Airways (ANA) foi forçada a cancelar uma série de voos para substituir as palhetas defeituosas. A empresa acredita que uma solução completa do problema poderá consumir até três anos de trabalho, para evitar a paralização completa da frota. A ANA foi o cliente lançador do 787, possuindo atualmente 64 aviões do tipo na frota.
Além de exigir uma frequência maior de inspeção nos motores, o FAA poderá reduzir ou mesmo suspender os voos do 787 equipados com os motores Trent 1000 nas operações de longo alcance. Uma revisão está atrelada a completa solução do problema.
ETOPS
As mudanças nas normas sugeridas pelo FAA e ESAS são referentes as normas ETOPS (Operation with Two-Engine Airplanes), ou seja, a regulamentação para operação de aviões bimotores em voos de longo alcance, distante de aeroportos alternativos. A norma prevê a capacidade de o avião voar monomotor em caso de problema em um dos motores.
Até meados na década de 1980, os limites eram de 60 minutos para um aeroporto capaz de receber um avião bimotor de grande porte. Com a maior confiabilidade dos motores ao longo das últimas três décadas, os limites foram sendo ampliados para 120, 180 até atingir 330 minutos. Um voo, de Nova York a Londres exige de uma aeronave limitada a ETOPS 60 uma trajetória muito mais longa do que uma detentora da licença ETOPS 120, que neste caso pode seguir mais próximo de uma linha reta entre origem e destino.
A certificação ETOPS de 370 minutos significa que uma aeronave como o 787 poderá se afastar até 5h30 de um aeroporto alternativo. Tal flexibilidade significa voar para praticamente qualquer destino no mundo.
O AD esperado vai exigir um número maior de inspeções do 787, que devem ser completadas até 20 de maio, mesma data estabelecida pela EASA. Se um dos motores não se mostrar à altura das inspeções, a respectiva aeronave poderá ter seu ETOPS reduzido a 60 minutos.
O impacto financeiro deve ser maior para a Rolls-Royce do que na Boeing. No início de março, o fabricante de motores revelou que pagaria US$ 315 milhões para cobrir os custos dos reparos na família Trent 1000 e Trent 900. Além disso, prevê que até 500 motores Trent 1000 afetados pelo problema serão reparados até 2022.
Para a Boeing a restrição pode impactar nas vendas do 787, ou exigir que as empresas aéreas optem pela versão equipada com o motor GENx, desenvolvido pela norte-americana GE Aviation.
Por Ernesto Klotzel
Publicado em 17/04/2018, às 14h30 - Atualizado às 15h06
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