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Tarifaço dos EUA pode custar US$ 80 milhões à Embraer em 2025

Embraer alerta para risco de cancelamentos e perdas de até US$ 80 milhões em 2025 devido às tarifas impostas pelos Estados Unidos


E195 Embraer
Fabricante brasileiro prevê impacto de até US$ 80 milhões em 2025 e risco de cancelamentos se a Casa Branca mantiver política tarifária sobre produtos brasileiros - Divulgação

A Embraer poderá enfrentar cancelamentos e atrasos de pedidos caso o governo dos Estados Unidos mantenha as tarifas impostas à importação de produtos brasileiros.

O alerta foi feito por Francisco Gomes Neto, CEO da empresa, que, em entrevista à agência Bloomberg, disse que a medida pode reduzir o ritmo de entregas e afetar o desempenho operacional do fabricante, que atualmente registra o maior volume de encomendas de sua história.

Risco de impacto financeiro e operacional

Segundo o executivo, eventuais tarifas adicionais poderiam adicionar até US$ 2 milhões (R$ 10,7 milhões) ao custo de cada aeronave. A empresa ainda estima um impacto tarifário de aproximadamente US$ 80 milhões (R$ 428,4 milhões) em 2025 — valor equivalente ao lucro líquido do segundo trimestre deste ano.

Embora a Embraer tenha sido isenta da tarifa de 50% proposta inicialmente, seus produtos continuam sujeitos a um encargo de 10%, e a expectativa é de que o governo norte-americano restabeleça o regime de isenção total.

Gomes Neto disse que a política tarifária pode afetar também o setor industrial dos Estados Unidos, uma vez que a redução na produção brasileira implica menor volume de compras de componentes e equipamentos fabricados em território norte-americano.

Tensão comercial e impacto no mercado

As tarifas sobre produtos brasileiros foram elevadas em julho, quando o governo Trump adicionou 40% aos 10% já aplicados anteriormente. A medida foi uma retaliação à condenação, pelo Supremo Tribunal Federal, do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado político do governo norte-americano.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou otimismo quanto à possibilidade de reduzir as tarifas após reunião com Donald Trump, na última segunda-feira (27), na Malásia.

O aumento dos encargos poderá encarecer os jatos da Embraer destinados a clientes dos Estados Unidos, principal mercado do fabricante. No encerramento do terceiro trimestre, a carteira de pedidos firmes atingiu US$ 31,3 bilhões (R$ 167,7 bilhões) — alta de 38% em relação ao mesmo período de 2024. O segmento de aviação comercial responde por US$ 15,2 bilhões (R$ 81,4 bilhões) do total, seguido por aviação executiva, serviços e suporte e defesa e segurança.

Relação com o mercado norte-americano

A Embraer possui 490 aeronaves em sua carteira de pedidos. Entre os clientes dos Estados Unidos estão American Airlines, SkyWest e Republic Airways. Este ano, a companhia conquistou sua primeira encomenda da série E2 no país, com a Avelo Airlines, que encomendou cinquenta E195-E2 e manteve opções para outras cinquenta unidades.

Atualmente, mais de oitocentas aeronaves da Embraer operam nos Estados Unidos, principalmente em companhias regionais. A fabricante mantém presença contínua no mercado há mais de quatro décadas.

Expansão industrial e novos investimentos

A Embraer iniciou a construção de um novo centro de manutenção (MRO) para jatos comerciais no aeroporto Perot Field Alliance (AFW), em Fort Worth, Texas. O investimento de US$ 70 milhões (R$ 375 milhões) ampliará em 53% a capacidade de suporte técnico da empresa na América do Norte e criará até 250 novos postos de trabalho especializados. A inauguração está prevista para 2027.

Além disso, o fabricante avalia instalar uma linha de montagem do cargueiro militar KC-390 Millennium em território norte-americano. A iniciativa visa fortalecer a proposta para o programa de reabastecimento aéreo de nova geração da Força Aérea dos Estados Unidos, com possibilidade de incorporação de fornecedores locais.

Por Marcel Cardoso
Publicado em 28/10/2025, às 15h56


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