Dicas para usar os chamados PED e seus aplicativos com segurança na operação de seu avião
A disseminação em massa de aplicativos e equipamentos eletrônicos portáteis relativamente baratos – que auxiliam a navegação aérea, facilitam o planejamento do voo, aumentam o alerta situacional e elevam a segurança – é uma realidade na aviação. Trata-se de um movimento irreversível, positivo, que facilita a vida de quem voa e oferece mais segurança. Para os pilotos brasileiros, no entanto, ainda pairam dúvidas no ar. Sabemos que essas tecnologias existem, podemos comprá-las legalmente e aprendemos a usá-las com muita facilidade, mas não sabemos se seu uso representa alguma ilegalidade concreta e quais seriam as sanções, se é que existem, para quem as usa (afinal, não há crime que não esteja definido em Lei). Esse é um desafio para as autoridades aeronáuticas brasileiras (leia mais no box da p. 64). Enquanto isso, muitos aviadores já adotam os chamados PED (Dispositivos Eletrônicos Portáteis) em suas operações. Daí a ideia de apontar alguns tópicos sobre como usar da melhor forma possível essas tecnologias, tirando delas o que há de bom, sem trazer riscos às operações e, de preferência, reduzindo os existentes.
Um PED com um aplicativo aeronáutico bem desenvolvido, atualizado e nas mãos de quem sabe usá-lo é capaz de tirar mais de 20 quilos de papel a bordo de aviões, aumentando a precisão, a segurança e a qualidade do voo. Isso sem falar em ganhos significativos na carga paga ou em combustível, quando usados em aeronaves de menor porte. Quando o assunto são os PED e apliacativos, a questão central vai além das cartas aeronáuticas. Não se trata somente de discutir a substituição do papel pela eletrônica, mas de uma verdadeira reengenharia de uso de informações nas operações aeronáuticas. Quem busca voar como manda o figurino sabe a indiscutível facilidade que os PED e os aplicativos representam em termos de disponibilidade de informações meteorológicas, NOTAM, acesso a imagens de satélites e dezenas de outras informações que tornam o seu uso uma ferramenta incrível para melhorar muito o planejamento e a segurança dos voos.
Outro fator importante, que ocorre em todo o mundo, refere-se à necessidade de modernização dos “painéis” das aeronaves mais antigas. Todo mundo sabe que milhares de reais investidos em equipamentos instalados no painel não se transformam necessariamente em valorização da aeronave, sem falar no custo de instalação de novos aviônicos, que custam fortunas no Brasil, demandam homologações e correm o risco se tornar verdadeiros pesadelos em função da qualidade da prestação de serviços. Os PED e aplicativos aeronáuticos podem “cair como uma luva” aqui quando corretamente utilizados.
Porém, esses benefícios demandam contrapartidas. Saber usar as novas tecnologias e ter uma rotina de uso segura são requisitos para não transformar algo positivo numa fonte de problemas. Para quem leva as coisas a sério, a tecnologia é uma maravilha. Para quem não leva, os riscos continuarão intocados, com ou sem as facilidades por perto, podendo até aumentar. Por isso, elencamos as dicas principais para o melhor uso dos PEDs como “malas de voo eletrônicas”:
Faltam normasCom força tarefa dedicada exclusivamente à aviação geral, que opera sob o RBHA 91, Anac busca revisar seus regulamentos no menor prazo possível, Baseados numa filosofia menos paternalista e prescritiva, mais objetiva e factual, as autoridades aeronáuticas dos Estados Unidos têm promovido uma extensa revisão de parte dos seus regulamentos para a aviação geral. Sabe-se que a Anac conhece esse movimento e por intermédio de uma força tarefa dedicada exclusivamente para a aviação geral (que opera sob o RBHA 91), busca encaminhar algumas soluções no menor prazo possível. Um dos tópicos que está sendo objeto de estudo por parte da agência é o uso dos PED (Dispositivos Eletrônicos Portáteis) pelos pilotos da aviação geral. Espera-se que a agência se manifeste em breve, de preferência, pedem os pilotos, indicando que o uso dessas tecnologias não representa nenhuma violação, evitando regular detalhes e definindo uma regra geral simples, que estabeleça as responsabilidades dos usuários. É esse tipo de abordagem regulatória que vem dando certo no exterior. Um ótimo exemplo é a AC 91-78/FAA de 20/07/2007. Simples, prática e funcional. Em poucas páginas está tudo explicado, desde 2007, para os pilotos norte-americanos. Quem pretende continuar a voar no Brasil faz bem em torcer, e contribuir, para que essas iniciativas da Anac se tornem realidade. |
Se decidir usar um PDE, avalie se os benefícios valem a pena considerando um pior cenário
As tecnologias evoluem com muito mais velocidade do que os processos tradicionais de homologação e você não deve deixar de usar o que for trazer mais segurança para você e seus passageiros. As tecnologias estão aí. Não regredirão. O Brasil está atrasado e precisa se adequar a essas novas realidades. No entanto, tecnologias fazem sentido quando usadas por homens e mulheres inteligentes, que concluiram por si mesmos o que funciona e o que não funciona para as suas operações e que já definiram como vão usá-las. Modismo é um negócio que nunca deu muito certo na aviação.
Lembre-se de que quem voa sob o RBHA 91 (aviação geral privada) é inteiramente responsável pelas decisões que toma. Ficou no passado o tempo em que as regras deveriam vir para prescrever em detalhes o que gente responsável deve fazer. A liberdade tem preço e a moeda principal nesse novo jogo é a responsabilidade.
Humberto Branco é empresário, administrador de empresas, consultor, piloto privado + IFR, vice-presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (APPA) e conselheiro da Anac.
Luis Antonio Meloni é administrador de empresas, engenheiro, empresário na área de softwares para PED, piloto privado (Anac e FAA) + IFR e diretor de Inovação da APPA.
Fabio Freitas é engenheiro e empresário, piloto comercial + IFR e diretor de Aeronavegabilidade da APPA.
Softwares para tablets e smartphones destinados a quem pilota
Lançar horas de voo na CIV é uma tarefa tão importante quanto enfadonha, ainda mais para quem voa fora do Brasil. Uma solução prática para organizar as horas, ou manter o formato padrão da FAA, é o LogTen Pro. O aplicativo desenvolvido pela Coradine Aviation Systems oferece uma série de recursos importantes e simples. Além de lançar as horas de maneira fácil, após a versão 6.0 é possível assinar todos os documentos, seja tocando a tela com o dedo ou usando uma caneta especial. O app integra-se ao iCloud da Apple, eliminando a necessidade de se fazer o backup de seus dados, que são gravados na “nuvem” automaticamente. Já os dados de voo mais recentes ficam sempre disponível.
Preço: US$ 79,99 (+ impostos)
Idioma: Inglês
Plataforma: iOS e Android
Um dos desafios para a maior parte dos pilotos da aviação geral é o acesso as últimas atualizações do ROTAER. Além de ser um volume considerável de dados, as atualizações não seguem uma ordem e são feitas constantemente. O iRotaer é um projeto desenvolvido pela Airsoft Tecnologia e Informática com o objetivo de prover à comunidade aeronáutica brasileira uma ferramenta que dá acesso a informações de localidades, cidades, TMA, FIR, plataformas e “waypoints” sem necessidade de levar a bordo um volume do tradicional ROTAER. O aplicativo também permite o acesso off-line. Em locais com acesso à internet o sistema oferece acesso a um banco de dados mais completo, incluindo NOTAM, Cartas diversas, METAR/TAF, WAC, ONC, Slot e imagens de satélite. O aplicativo dispõe, ainda, de recursos como cálculos de distância, consumo, custo e tempo estimado de voo, informações sobre rumo verdadeiro e rumo magnético e planejamento de voo. Uma das virtudes é a atualização automática, que exige apenas uma conexão com a internet, podendo ser feita via telefone ou wi-fi. Segundo o desenvolvedor, as atualizações são realizadas mensalmente ou de acordo com as publicações do ROTAER. Também existe a versão Rotaer Desktop, voltado para a plataforma Windows.
Preço: Entre R$ 380 e R$ 449,99
Idioma: Português
Plataforma: iOS e Windows
A Airguide Publications oferece o Flight Guide iEFB, um aplicativo que permite ao usuário ter acesso a uma infinidade de recursos, vendidos em pacotes. Entre as funções estão planejamento de voo, tráfego aéreo, mapa georeferenciado, guia de voo, cartas de mais de 5.000 diagramas de aeroportos, acesso a dados de METAR, TAF, AIRMET, SIGMET, Winds Aloft, WACS e TAC, entre outros recursos. Algumas funções estão disponíveis apenas para voos nos EUA, mas parte dos recursos é compatível com o Brasil. Uma das recomendações é que o iPad seja o modelo 3G/4G, pois é necessário o acesso a rede e dados de GPS para utilizar boa parte das funções.
Preço: Aplicativo gratuito e pacotes vendidos à parte
Idioma: Inglês
Plataforma: iOS e Android
Assim como o Airguide Publications, o ForeFlight Mobile é uma plataforma EFB (Electronic Flight Bag) que disponibiliza uma série de recursos oferecidos em pacotes, permitindo ao usuário personalizar o que deseja ter acesso. Um dos diferenciais é a opção de pacotes múltiplos, que variam de 2 a 100 pilotos, o que o torna ideal para pequenas empresas de aviação.
Preço: Aplicativo gratuito e pacotes vendidos à parte
Idioma: Inglês
Plataforma: iOS e Android
O Sporty’s E6B é uma evolução do tradicional computador de voo, permitindo realizar, em segundos, cálculos diversos para o correto planejamento de voo. O aplicativo foi desenvolvido a partir de uma poderosa linguagem, baseada em fórmulas e algoritmos que permitem plena confiança nos dados apresentados. Quando comparado ao tradicional E6B de metal, o Sporty’s E6B tem a vantagem de não apresentar qualquer margem para interpretações incorretas, já que todos os cálculos e conversões são feitas baseados em modelos matemáticos.
Preço: US$ 9,99
Idioma: Inglês
Plataforma: iOS
Para quem opera em aeródromos distantes, obter condições atuais e precisas sopre o clima é fundamental para um voo seguro. Porém, nem sempre existe uma estação meteorológica ou um computador por perto. Para quem deseja apenas um aplicativo simples para meteorologia, o AeroWeather é uma boa opção. O programa apresenta METAR e TAF com dados em formato original ou totalmente decodificados em textos compreensíveis. Além disso, também estão disponíveis informações adicionais, como ajuste de nascente e poente, crepúsculo, localização da estação, altitude, fuso horário e horário de verão.
Preço: US$ 3,99
Idioma: Inglês
Plataforma: iOS e Android
O Air Navigation Pro auxilia pilotos na tarefa de fazer o planejamento de voo e a navegação em tempo real. É uma poderosa ferramenta, mesmo baseada em uma plataforma simples, o iOS. O aplicativo faz o uso do GPS interno do iPhone ou do iPad, mas aceita a conexão com uma antena externa, que permite a recepção de dados em aeronaves que voam em elevadas altitudes, longe do sinal da rede de telefonia celular. Utilizando os dados de GPS combinados com o giroscópio do aparelho, o Air Navigation Pro calcula a posição, a velocidade e a altitude da aeronave. O programa também dispõe de um catálogo variado de mapas e outros produtos que podem ser adquiridos e baixados diretamente do aplicativo. Segundo o desenvolvedor, são mais de 160.000 waypoints catalogados no espaço aéreo de 50 países, incluindo o Brasil. O programa inclui, ainda, cartas de navegação ICAO e dados digitais do terreno utilizados em visualizações 3D. Um dos destaques é a opção de advertência de terreno, que compreende a maior parte do território brasileiro. O Air Navigation Pro aceita uma assinatura extra para o recebimento de Notam e é capaz de gravar e salvar as informações de voos e registrar em tempo real a partir de uma conta online.
Preço: US$ 49,99
Idioma: Inglês
Plataforma: iOS e Android
O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), responsável pela investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos no Brasil, criou um aplicativo inédito para oferecer aos aviadores uma nova ferramenta prevenção. O programa permite ao usuário comunicar formalmente situações de perigo, consultar procedimentos a serem adotados em caso de acidentes aeronáuticos, conferir e matricular-se nos cursos de prevenção de acidentes aeronáuticos, acessar os telefones de emergência para comunicar um acidente, entre outras funções. O aplicativo ainda oferece acesso a METAR e TAF.
Preço: Gratuito
Idioma: Português
Plataforma: iOS
Por Edmundo Ubiratan
Por Humberto Branco, Luis Antonio Meloni e Fabio Freitas*, especial para AERO Magazine
Publicado em 29/03/2014, às 00h00 - Atualizado às 18h17
+lidas