Quebrando um silêncio de nove anos, o piloto da aeronave descreve os mergulhos que não comandou
Um piloto que salvou a vida de mais de 300 passageiros ao evitar a queda de seu jato, resolveu quebrar um silêncio de nove anos, descrevendo como seu computador de bordo “ficou psicótico” fazendo o avião mergulhar em poucos segundos.
O comandante Kevin Sullivan pilotava um jato da Qantas de Cingapura a Perth (Austrália) quando o piloto automático do seu Airbus A330 falhou duas vezes: a primeira, fez o jato perder 690 pés (210 m) em 23 segundos e, novamente, mais 400 pés (120 m) em 15 segundos, causando ferimentos em mais de 100 passageiros.
Naquele dia de outubro de 2008, Sullivan foi obrigado a declarer “Mayday” e efetuar um pouso de emergência no Aeroporto Learmouth, oeste da Austrália, temeroso que pudesse haver uma repetição dos eventos.
O Voo 72 com 303 passageiros e 12 tripulantes estava cruzando a 37.000 pés (11.300 m) sobre o Oceano Índico, quando um dos três computadores primários dos controles de voo desenvolveu uma falha deflagrando os avisos de estol e excesso de velocidade.
Passados alguns momentos o avião apontou para baixo violentamente, provocando o caos na cabine. Kelly, ex-piloto da Marinha dos USA disse que pensou: “Será que minha vida vai terminar hoje, aqui?”, ao mesmo tempo que lutava para nivelar o jato.
A experiência provocou um estresse pós-traumático no comandante Kevin Sullivan fazendo com que questionasse a automatização crescente do voo. “No nosso curso de conversão, nunca foi mencionado que isto pudesse ocorrer” disse.”Também penso que nem o fabricante aventou esta hipótese”.
O comandante Sullivan, é norte-americano e mudou para a Austrália para cumprir um contrato de três anos, permanecendo no país ao casar com uma australiana, voando para a Qantas por mais oito ano após o incidente. No ano passado quando deixou a companhia resolveu contar pelo que passou, tendo um “psicótico digital’ como passageiro.
Três anos após o ocorrido, o Departamento de Segrança dos Transportes da Austrália concluiu que dados incorretos introduzidos em um dos computadores da aeronave causaram os mergulhos, enquanto procurava corrigir os erros que realmente não existiam.
Uma “psicose” até desculpável.
Por Ernesto Klotzel
Publicado em 17/05/2017, às 12h04 - Atualizado às 12h08
+lidas