Capacidade de combate de caças da Otan ou russos exige uma análise além das especificações técnicas de cada avião
A escalada do conflito na Ucrânia colocou a Europa em alerta máximo. Embora as autoridades da comunidade europeia e da Otan afirmem que não é prudente se envolver de forma direita na guerra, com temor de uma escalada nuclear, os países vizinhos da Rússia se preparam para uma eventual agressão surpresa.
Muitos passaram a questionar a capacidade dos caças da Otan em vencer um eventual conflito contra a força aérea da Rússia. A capacidade de combate exige uma análise além das especificações técnicas de cada avião
Recentemente caças russos invadiram o território sueco e caças Gripen C da força aérea da Suécia foram acionados para preservar a integridade territorial do país.
Independente da quantidade de caças ou a geração dos modelos usados por cada país, desde os anos 1990 a supremacia aérea está além das capacidades exclusivamente do avião e seu piloto. Atualmente o combate envolve uma série de questões importantes, como a capacidade da força aérea em ter total controle situacional do campo de batalha. Sistemas de enlace de dados (data-link) que permite que diversos tipos de aviões toquem dados importantes em tempo real é mais importante que um caça que transporte toneladas de mísseis de curto alcance e guiados por radar.
Em um hipotético combate entre os Gripen suecos e caças russos Sukhoi Su-30 a vitória dependerá de um complexo cenário que envolve guerra centrada em rede.
Supondo que os Gripen estejam armados com quatro mísseis além do alcance visual, sendo apoiados por uma aeronave de alerta aéreo e controle avançado, aeronaves de guerra eletrônica, radares de solo, equipes de inteligência trabalhando em tempo real, entre outros fatores, terá mais sucesso do que um Su-30 armado com oito toneladas de mísseis e atuando com uma pequena esquadrilha de forma isolada. Evidentemente, caso o lado russo empregue também os mesmos recursos de guerra centrada em rede, haverá maior equilíbrio ou até mesmo vantagem.
Além disso, o treinamento dos pilotos, dentro desse novo conceito de guerra, aliado a estratégia adotada pelo alto comando, poderá definir a vitória ou fracasso. “Muito [do cenário] depende de outros fatores, como habilidade do piloto, consciência situacional e táticas empregadas”, afirma Justin Bronk, pesquisador de poder aéreo no think tank de defesa do Royal United Services Institute, em Londres.
A Ucrânia mesmo com obsoletos caças MiG-29 e Sukhoi Su-27, ambos de primeira geração, tem respondido com algum vigor a investida russa. Em um cenário onde falta um planejamento detalhado ou ainda a força aérea ingresse em um espaço aéreo ainda contestado, protegido por baterias antiaéreas, é pouco provável que apenas a geração do avião ou seu poder de combate seja suficiente para garantir uma vitória
Durante a Operação Tempestade do Deserto, onde uma coalizão internacional invadiu o Iraque para garantir a retirada das tropas de Saddam Hussein do Kuwait, a primeira ação foi neutralizar com mísseis de cruzeiro as principais defesas aéreas iraquianas. Na sequência aeronaves de guerra eletrônica deram suporte adicional aos caças furtivos F-117, da força aérea dos Estados Unidos, que ficaram responsáveis por destruir diversas baterias antiaéreas, complexos de radar e bases aéreas. Apenas na sequência é que os demais aviões da força aérea e da marinha de diversos países da coalização entraram em combate contra a força aérea do Iraque.
Uma das questões levantadas por analistas em defesa, assim como leitores da AERO Magazine, é o motivo da força aérea russa ainda não ter obtido total controle do espaço aéreo e ter perdido diversas aeronaves nos primeiros dias de combate.
Os russos iniciaram uma ação militar, possivelmente, esperando pouca ou nenhuma resposta da defesa aérea ucraniana, que por mais limitada que seja, conseguiu responder aos primeiros dias de combate.
“Os militares russos receberam um aviso muito, muito curto, para realmente iniciar as operações de combate e, portanto, houve muito pouca coordenação. Isso está começando a mudar”, destacou Bronk em resposta ao analista Freddie Sayers do Unherd.
A análise baseado apenas os detalhes técnicos, divulgados pelos fabricantes, oferece outro equívoco em acalorados debates de que avião ou força aérea vence um combate. As fichas técnicas, quase na totalidade dos casos, oferecem dados máximos para cada item, que caso sejam atendidos não permitirão que um dado anterior seja o máximo. Por exemplo, um avião que pode transportar oito toneladas de armamentos não terá o alcance de 3.000 quilômetros, visto que ele trocou o peso do combustível pelo armamento. Mesmo com reabastecimento em voo haverá considerável aumento do consumo, dado a quantidade de armas gerando arrasto. Da mesma forma, a velocidade máxima será restrita ou caso atingida vai aumentar ainda mais o consumo.
A temperatura na hora da decolagem, a altitude da pista, a pressão atmosférica, entre outros fatores entram na conta que vai definir com certeza a capacidade real do avião para aquela missão. Dependendo do caso, um avião monomotor, com menor potência, poderá decolar com maior carga bélica que um avião bimotor. Tudo vai depender de onde estão partindo e qual o perfil da missão.
Assim, é difícil definir qual caça poderá ou não vencer um combate aéreo, visto o número de variáveis que agora atuam ao lado do avião e seu piloto.
Redação
Publicado em 05/03/2022, às 17h50
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