Modelos inéditos, com novos conceitos de projeto, construção e manutenção, já surgem ano horizonte
Tiltrotor Civil Next Generation, da AgustaWestland
É inegável que a aviação de asas rotativas vive um momento de renovação. Os fabricantes ainda promovem melhorias em suas máquinas, mas passaram a investir também em produtos inéditos. Modelos com novos conceitos de projeto, construção e manutenção já começam a aparecer no horizonte. São as aeronaves que comporão boa parte da frota daqui a duas décadas.
Com a popularização e a queda de preços de equipamentos mais modernos, até aeronaves mais simples, com motor a pistão, começam a receber telas digitais de navegação e mesmo piloto automático. Em breve, este opcional poderá se tornar “item de série”.
H160 da Airbus Helicopters (acima)
O incremento de velocidade ao voo de helicóptero também continuará a ser exaustivamente estudado pelos engenheiros das fábricas. Um desenvolvimento aerodinâmico nas pás dos rotores, tanto o principal quanto o de cauda, bem como novos desenhos de cabine, podem se mostrar eficientes nesse ganho.
As pessoas querem se deslocar de forma mais rápida e atingir distâncias cada vez maiores. A solução para isso pode ser o helicóptero híbrido, cuja versão civil já está em desenvolvimento. De modo mais simplista, seria uma aeronave que decola e pousa como um helicóptero e voa como um turbo-hélice. O preço estimado dos chamados tiltrotors se assemelha do praticado para um jato médio, o que representa um desafio para indústria.
Eficiência no consumo de combustível representa uma chave para o sucesso ou o fracasso de futuros modelos de helicópteros. Este será o lema das aeronaves num horizonte de petróleo cada vez mais caro e rígido controle de custos: mais potência consumindo menos combustível.
Bell 525 Relentless
O desenvolvimento dos projetos em curso e os conceitos com futuras soluções apontam claramente para um norte: a redução de ruído. Em quase todas as cidades com grande concentração de helicópteros o impacto do ruído se tornou uma questão comum. Dependendo do caso, ele pode até inviabilizar o uso de aeronaves de asas rotativas.
Assim como os fabricantes de motores a jato, que foram obrigados a reduzir o ruído de seus propulsores para continuar operando em algumas localidades, helicópteros também poderão sofrer restrições, tendo de respeitar determinados índices de poluição sonora compatíveis com os locais onde operam. Um grande desafio para a indústria.
Já existem pistas de que isso é possível. A tecnologia parece estar próxima de nossa realidade, vinda do âmbito militar. O ataque dos Navy Seals, que culminou com a morte de Osama Bin Laden, só foi possível com o uso de helicópteros “invisíveis” e “silenciosos”, que não podiam ser detectados, caso contrário, poderiam levar ao fracasso da missão.
Há que se considerar ainda um concorrente de peso para voos de filmagem, fotografia e reportagem aérea, sim, os drones. Apesar da ausência de uma regulamentação específica, os veículos aéreos não tripulados já vêm tomando um mercado importante dos helicópteros, principalmente nas produções de televisão e cinema, o que causa um impacto direto na diminuição dos voos de helicópteros para esse fim. Esse mercado tende a diminuir com essa concorrência, pois é muito mais barato usar um drone do que um helicóptero. O mesmo pode acontecer em outras áreas, sobretudo de missões especiais.
A América Latina desponta como um grande comprador de helicópteros no médio prazo. É o que mostra a tradicional previsão de entregas da Honeywell Aerospace. As operações de extração de óleo e gás, ainda que o cenário atual seja desafiador, tendem a puxar a fila, absorvendo grande parte dessas aquisições. Paralelamente, as trocas de equipamentos continuarão acontecendo por força de contrato ou aumento dos voos, buscando-se em geral maiores aeronaves em troca das menores.
Na América do Sul, há um movimento crescente no Peru, mais precisamente em Lima, para início de uma operação de helicópteros similar à da cidade de São Paulo. Em outros locais do mundo também se esboçam ações para crescimento do uso de aeronaves privadas.
V-280 Valor pertence à terceira geração de tiltrotors militares
A Bell Helicopter tem em curso três novos programas, o Bell 505 Jet Ranger X, um substituto do Jet Ranger, o Bell 525 Relentless na categoria supermédio e o V-280 para o programa Army’s Future Vertical dos EUA. Eles certamente estarão voando daqui a 20 anos. Entre as inovações, a Bell destaca o FADEC com backup e a cabine com aviônicos totalmente integrados, desenvolvidos conjuntamente com Turbomeca e Garmin para o Bell 505, que está em fase de testes de voo.
A empresa destaca ainda que a tecnologia fly-by-wire, já consagrada no mercado de asas fixas, será incorporada por um helicóptero, o Bell 525, com ganhos em itens como segurança, performance e confiança. O modelo também irá incorporar novos recursos para voar em ambientes com condições visuais degradadas, auxiliando na redução da carga de trabalho e dos níveis de estresse dos pilotos.
Originado do V-22, o veículo de combate aéreo V-280 Valor pertence à terceira geração de tiltrotors militares. A Bell destaca a velocidade, o alcance e a quantidade de carga paga que a aeronave suporta. “Com o dobro de velocidade e o triplo de alcance, o Bell V-280 chega mais rápido e vai mais longe do que helicópteros convencionais e, se a missão exigir, voa mais lento do que aviões”, diz a Bell. “Sua estrutura reduzida também significa mais agilidade, além de oferecer soluções que beneficiam a manutenção”.
Para a AgustaWestland, muito do que o futuro reserva para o mercado de asas rotativas está começando a tomar forma hoje. A empresa cita seu tiltrotor AW609, que tem certificação prevista para o final de 2017, e também projetos como o recém-anunciado Vertiport Chicago, que oferecerão a infraestrutura necessária para suportar essa nova categoria de aeronaves. Projeto para além do AW609, a Agusta também desenvolve o Tiltrotor Civil Next Generation, cujas investigações começam neste ano com objetivo de levar as vantagens da tecnologia e da arquitetura do tiltrotor para diversas categorias de atuação. A expectativa é a de que o primeiro protótipo voe até 2020. “Teremos helicópteros multifunções com níveis sem precedentes de desempenho, produtividade, segurança, conforto e respeito pelo ambiente. Além de cabine pressurizada para 25 mil pés de altitude de cruzeiro, voo confortavelmente acima de qualquer clima adverso”, destaca a Agusta. “Acreditamos que essa próxima geração de aeronaves incorpore novas geometrias nas asas, configurações aperfeiçoadas do motor, manufatura enxuta, baixa emissão carbono, entre outras tecnologias”.
Outra atuação da Agusta seria no mercado de helicópteros não tripulados, que também devem figurar no futuro das aeronaves de asas rotativas. A empresa está usando um SW-4 ‘Solo’ RUAS/OPV utilizada para desenvolvimento e validação de capacidade de controle remoto. Os chamados Optionally Piloted Vehicle (OPV) são modelos híbridos entre uma aeronave convencional e um veículo aéreo não tripulado, o que lhes garante alta flexibilidade operacional. Desde 2013, o fabricante italiano trabalha na demonstração da capacidade Rotary Wing Unmanned Air System (RWUAS) juntamente com a Marinha do Reino Unido no âmbito do projeto Tactical Maritime Unmanned Air System (TMUAS) de uma aeronave não tripulada para operar embarcada.
O futuro deverá mostrar maior convergência entre a tecnologia dos helicópteros e a de motores para aviões, que já está em curso no mundo. Deverão chegar ao mercado aeronaves de dimensões maiores. Continuaremos a registrar avanços na área da aviônica, com novas famílias de painéis e equipamentos que diminuem cada vez mais a carga de trabalho do piloto, proporcionando uma consciência situacional mais completa e mais consistente, voltada mais para a missão e menos para o voo.
Haverá avanços também na redução dos níveis de poluentes e consumo de combustível. Essa é uma busca histórica na aviação, que está no limiar de uma autêntica revolução em relação também aos helicópteros. Além disso, a redução do nível de ruído das aeronaves será um aspecto extremamente importante, porque esse quesito deverá ser monitorado cada vez mais na operação de helicópteros nas cidades. Para isso, novos projetos de pás estão sendo desenvolvidos, que resultarão em aeronaves mais silenciosas.
Com relação à operação, à medida que os helicópteros de maiores dimensões chegarem ao mercado, haverá pontes áreas de helicópteros a partir das áreas terminais dos aeroportos, que com isso ficarão mais descongestionados.
Com voo inaugural previsto para este ano e entrada em serviço em 2018, o H160 representa uma visão de futuro da Airbus. Feito em compósitos, ele terá 5,5 a 6 toneladas com modificações nas áreas de design e sistemas. O grande rotor de cauda carenado traz em suas pás uma inclinação dupla em um ângulo de 12 graus, aumentando o controle de eficiência antitorque. Estabilizadores interligados em nível duplo devem facilitar as manobras e reduzir perdas aerodinâmicas em voos pairados ou de baixa velocidade. No rotor principal, as pás no formato “double-swept” prometem reduzir ruído exterior em 50% (3 dB) e atenuar o batimento das pás, além de aumentar a capacidade de carga do helicóptero em até 100 kg.
Por Rodrigo Duarte
Publicado em 16/05/2015, às 00h00
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