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A arte imita a vida

Os fatos históricos e as máquinas reais por trás dos personagens de Aviões 2 – Heróis do Fogo ao Resgate, da Disney


Aposentado das corridas aéreas por um limitante problema no motor, o pulverizador falante Dusty Crophopper está de volta. Em Aviões 2 – Heróis do Fogo ao Resgate (Planes: Fire and Rescue), a esperada e prevista continuação da animação Aviões (Planes, de 2013), do Disneytoon Studios, o protagonista alado acaba por se alistar em uma brigada de combate a incêndios florestais, onde encontra novos companheiros e desafios pelos céus dos Estados Unidos.

Mas o que isso significa aos interessados pela verdadeira aviação? A resposta está na cuidadosa pesquisa e na pré-produção desta animação. Assim como no primeiro filme, Aviões 2 prima por verossimilhança ao colocar aviões falantes e coloridos executando seu trabalho como se conduzidos por pilotos de verdade. A pesquisa exigida pelo produtor executivo John Lasseter determinou o que Dusty iria fazer da vida após se tornar uma espécie de atleta aposentado por lesão. “Nós demos uma olhada mais profunda em Dusty e nos aviões agrícolas como ele”, contou em entrevista exclusiva para AERO o diretor Bobs Gannaway. “Nessa pesquisa descobrimos que o primeiro avião a combater incêndios foi um avião agrícola”, revela. De fato, o primeiro incêndio florestal foi combatido do ar em 1955, na Floresta Nacional de Mendocino, na California, por um pulverizador reaproveitado. “O combate ao fogo estava no DNA de Dusty”, completa Gannaway.

Para tornar tudo mais realista, a equipe de produção tratou de visitar parques florestais em todo o país, incluindo Yosemite e ­Yelowstone, a fim estudar a composição de cenários para o Parque Nacional Piston Pike, onde se desenrola a ação. Outra parte da equipe foi conviver com os pilotos e bombeiros do Departamento de Florestas e Proteção Contra o Fogo da Califórnia (Cal Fire), em especial na base de Hemet-Ryan. Deste convívio saíram alguns detalhes curiosos que deram “densidade” à trama. Parte do modo como se comunicam bombeiros e pilotos via rádio foi incorporada aos diálogos. Já o supervisor do Cal Fire, Travis Alexander, acabou inspirando o comportamento do helicóptero chefe das operações Blade Ranger, na voz do ator Ed Harris. O número 301 pintado na cauda de Blade é o mesmo do helicóptero de Hemet-Ryan. Para obter a maior credibilidade possível nos céus, algumas das manobras mais difíceis dos helicópteros foram analisadas e validadas pelo piloto de acrobacias Chuck Aron.

Reconvocado para o segundo filme da franquia, o supervisor de cenas de voo Jason McKinley explicou que, desta vez, o desafio era colocar diferentes aviões em cena voando em altitudes mais baixas. McKinley foi um dos criadores da série sobre combates aéreos Dogfights, exibida pelo History Channel. Desta vez ele tinha que fazer com que as manobras de mergulho dos aviões fossem o mais próximo possível do desempenho dos aparelhos reais. Além disso, precisou levar para a tela cenas com fogo, água ou líquido retardante, que, por serem fluidas, são as mais difíceis de serem criadas. A solução foi tão simples quanto trabalhosa: “Aumentamos o número de frames por segundo nestes momentos”, contou o produtor Paul Gerrard. O resultado é diversão garantida tanto para a criançada quanto para adultos atentos que gostam de aviação.

Aviões 2 deve estrear nos cinemas brasileiros em 12 de julho.

Bombeira canadense

Hidroavião bimotor, a espirituosa Lil’ Dipper é claramente inspirada no Canadair CL-215 e sua versão posterior, o Bombardier CL-415, conhecidos como Super Scooper. Considerados os mais eficientes aviões-tanque para combater incêndios florestais, podem despejar, respectivamente, de 5.000 a 6.000 litros de água ou lama retardante por incursão. Por comumente atuar em regiões repletas de lagos nos EUA, Canadá e Europa, ambos os modelos podem reabastecer seus tanques d’água enquanto pousam.

Patrulheiro

Parodiando a série televisiva “CHIPs”, exibida no Brasil nos anos 1980, em vez de uma motocicleta Nick “Loop’n” Lopez é um acrobático helicóptero policial parecido com os Hughes 500C e 500D. Estes modelos foram muito empregados pelas forças policiais do estado da Califórnia.

Novo na profissão

Dusty Crophopper teve suas linhas baseadas nos aviões agrícolas Air Tractor AT 502 e PZL Mielec M-18 Dromader, com detalhes de monomotores da Cessna. Aviões deste tipo podem carregar de 2.200 a 3.000 litros de água por surtida. São conhecidos pela sigla em inglês Seat (single engine air tanker). Pulverizadores foram as primeiras aeronaves a serem reconfiguradas para o combate aéreo ao fogo, a partir da metade dos anos 1950.

Serviço pesado

O helicóptero de carga pesada Windlifter foi inspirado nos Sikorsky Skycrane S-64, Kamov Ka-26 e no Mil Mi-10. As linhas predominantes são do Skycrane, desde 1992 construído pela Erikson Air-Crane. Os três modelos costumam ser utilizados para erguer troncos e equipamentos pesados em áreas de difícil acesso. O Skycrane pode transportar até 9.000 litros de água e líquido retardante. Enorme para um helicóptero, na vida real cada aparelho costuma receber nome próprio. O mais famoso é o australiano “Elvis”, de matrícula N179AC.





O chefe

Blade Ranger, o chefe das operações, é um helicóptero de resgate baseado nos modelos Sikorsky S-76 e AgustaWestland A-109. Apesar de suas linhas “genéricas”, o trem de pouso retrátil e a cabine revelam suas origens.


Ônibus aéreo

Pouco lembrado hoje, o Fairchild C-119 Flying Boxcar serviu de modelo para o bimotor Cabbie. Foi empregado na Guerra da Coreia, na Indochina e na África, onde transportou tropas, suprimentos e lançou paraquedistas. No Vietnã, chegou a atuar como plataforma armada. Podia levar 62 soldados ou 4,5 toneladas de carga por cerca de 3.600 km. Assim como no desenho, na vida civil o C-119 atuou no combate ao fogo. O Brasil utilizou alguns C-119. Um exemplar está no Museu Aeroespacial, no Rio de Janeiro.

Por André Vargas
Publicado em 25/06/2014, às 00h00 - Atualizado às 07h46


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