Voos experimentais serão conduzidos pela australiana Qantas a fim de descobrir os efeitos da longa exposição do corpo ao ambiente pressurizado
Por Edmundo Ubiratan | Imagens: Divulgação Publicado em 22/08/2019, às 14h00 - Atualizado às 15h24
A australiana Qantas Airways deverá realizar os três voos comerciais mais longos da história, que terão mais de 19 horas de duração. Contudo, por ora, serão apenas viagens experimentais, conectando Nova York a Sydney e Londres a Sydney, com objetivo de obter dados sobre os efeitos de voos de longa duração no organismo humano.
A empresa trabalha no Projeto Sunrise, que pretende permitir voos diretos da costa leste australiana (Sydney, Melbourne e Brisbane) para Londres e Nova York, com expectativa de futuramente incluir o Rio de Janeiro e Cape Town. Todavia, por serem voos que podem superar às 21 horas de duração, não se sabe os efeitos da longa exposição a um ambiente confinado e pressurizado ao corpo.
A pesquisa está sendo conduzida pela Qantas em parceria com o Centro Charles Perkins, da Universidade de Sydney, e a Universidade Monash, em conjunto com o CRC para Alerta, Segurança e Produtividade.
Os pesquisadores da Universidade Monash vão monitorar os tripulantes para registrar os níveis de melatonina antes, durante e depois dos voos. Os pilotos usarão um dispositivo de EEG (eletroencefalograma) que mapeia os padrões de ondas cerebrais e monitora o estado de alerta. O objetivo é estabelecer dados para auxiliar na construção de um padrão ótimo de trabalho e descanso para os pilotos que no futuro vão operar serviços de longa duração.
“O voo de longo curso apresenta muitas questões de senso comum sobre o conforto e o bem-estar dos passageiros e da tripulação. Esses voos [experimentais] fornecerão dados valiosos para ajudar a respondê-los”, explicou Alan Joyce, CEO da Qantas Group.
A Qantas conduziu recentemente uma pesquisa sobre o sono dos passageiros em seu serviço direto entre a cidade australiana de Perth e Londres. De acordo com os pesquisadores envolvidos no estudo, algumas dessas descobertas iniciais serão avaliadas como parte desses voos de pesquisa dedicados. O relatório dos passageiros sobre escolhas alimentares, zonas separadas de alongamento e opções de entretenimento também serão avaliadas. O objetivo será verificar a relação entre a rotina prévia da viagem, somada as escolhas a bordo, e seus efeitos em um voo de longa duração. A Qantas espera também compartilhar o resultado da pesquisa com as autoridades para segurança da aviação civil, ajudando a criar uma regulamentação que permita operar voos com mais de 19 horas.
Os voos experimentais vão utilizar três Boeing 787-9 Dreamliner que deverão ser entregues pelo fabricante nas próximas semanas. Após a Qantas receber as aeronaves, elas serão enviadas para Nova York e Londres, onde receberão apenas 40 passageiros, a fim de cumprir a enorme distância. A redução na quantidade de passageiros se deu por conta da autonomia dos aviões. Projetados para etapas menores com sua capacidade máxima de passageiros, os aviões vão decolar praticamente vazios, o que permitirá ampliar a quantidade máxima de combustível e por tanto, seu alcance final.
O Projeto Sunrise da Qantas prevê o desenvolvimento de uma aeronave que possa ligar a costa leste australiana as cidades de Nova York e Londres, de forma direta.
“Voar sem escalas da costa leste da Austrália para Londres e Nova York é verdadeiramente a fronteira final na aviação e estamos determinados a fazer tudo para fazer isso direito”, afirmou Joyce.
O programa estabeleceu uma série de pré-requisitos, como capacidade mínima de passageiros, alcance, custo operacional, entre outros. A Airbus e Boeing foram convidadas a oferecer uma aeronave capaz de atender a tais requisitos, tendo o A350 e o novo 777-8 como possíveis concorrentes.
Atualmente a Singapore Airlines possui um voo direto entre Cingapura e Newark, em New Jersey, nos Estados Unidos. O voo é operado por um Airbus A350-900ULR, que mesmo sendo a versão de ultralongo alcance, possui capacidade para apenas 160 passageiros, dada as restrições operacionais para o voo.
O maior entrave para as ligações entre a região da Oceania e a costa leste dos Estados Unidos é a relação entre capacidade e alcance das aeronaves. Aviões com grande número de assentos não conseguem obter o alcance necessário, em virtude do maior peso, o que além de militar a quantidade de combustível abastecido, interfere na performance de voo. Do outro lado, aeronaves com menor capacidade podem levar maior peso de combustível, mas encarecem drasticamente a operação.