O CEO da Ryanair voltou a criticar a série sem fim de problemas que a Boeing continua enfrentando
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 16/05/2022, às 17h12
O presidente-executivo da Ryanair, Michael O’Leary, fez coro as críticas do setor à liderança da Boeing, que vem sofrendo uma série de problemas nos últimos anos. O fabricante norte-americano mesmo passando por um escrutínio das autoridades dos Estados Unidos entregou relatórios incompletos sobre o 787 Dreamliner.
Segundo O’Leary, a Boeing necessita urgentemente de uma reformulação interna, já que problemas de produção afetam três de seus quatro principais aviões comerciais.
“A Boeing precisa de uma reinicialização da gestão em Seattle, e a gestão existente precisa melhorar seu jogo ou precisa mudar a gestão existente”, afirmou O’Leary em conferência com analistas hoje (16). A Ryanair é um dos maiores clientes globais da família 737, com mais de 500 aviões em serviço e com uma carteira de pedidos, apenas para o 737-8200 (versão de alta densidade do 737 MAX 8) avaliada em US$ 22 bilhões (R$ 111 bilhões).
Conhecido por negociar de forma bastante agressiva seus contratos e por não ter meias palavras com o setor, O’Leary engrossou o tom das críticas afirmando ainda que executivos da Boeing estão “correndo como galinhas sem cabeça, enquanto tentam ampliar as vendas, mas não conseguem entregar o que venderam”.
O executivo destacou que a Ryanair esperava receber novos 737 em abril, mas a Boeing não conseguiu entregar os aviões no prazo, forçando a redução da malha e da oferta de assentos.
Outro ponto da conversa que demonstra o descontamento de O’Leary e de muitas empresas aéreas é falta de perspectiva para a Boeing solucionar seus problemas mais graves. A maior parte deles começaram quando a sede foi transferida para Chicago, deixando os executivos distantes da realidade da fábrica e da engenharia.
Outro ponto criticado por quase todos analistas e executivos é o fato da diretoria da McDonnell Douglas, que foi adquirida pela Boeing em 1997 em situação falimentar, terem assumido a gestão do conglomerado.
Recentemente a Boeing afirmou que vai transferir a sede para os arredores de Washington D.C, a capital dos Estados Unidos. Porém, o mercado acredita que a solução apenas facilitará o lobby no setor de defesa, sem efeitos práticos nos problemas do fabricante. “Pode ser bom para o setor de defesa, [mas não resolverá] os problemas fundamentais no lado das aeronaves civis em Seattle”, destacou O’Leary.
Os comentários de O’Leary ocorrem logo após executivos de outras grandes empresas abertamente mostrarem seu descontentamento com os rumos da Boeing. Algumas críticas mostram a irritação do setor, que vem acumulando perdas por erros da Boeing. Recentemente Domhnal Slattery, CEO da Avolon Holdings, uma das maiores companhias de arrendamento de aeronaves do mundo, disse que a Boeing perdeu o rumo e precisa de uma nova visão e líderes.
Alguns críticos apontam a necessidade da Boeing trazer novos gestores para ocupar a maioria de seus altos cargos, sem os vícios existentes nas últimas gestões. Mesmo não pedindo formalmente a demissão de Dave Calhoun, atual CEO da Boeing, o executivo da Ryanair destacou que está satisfeito com a gestão atual, mas que eles devem melhorar o histórico dos últimos doze meses.
Já o presidente da Air Lease Corporation, Steven Udvar-Hazy, não demonstrou boas relações com a atual diretoria da Boeing. Na semana passada o executivo afirmou que os problemas com os aviões de grande porte, como o 777-9 e a família 787, se tornaram um grande aborrecimento e que mudanças na administração devem ocorrer.
O CEO da Emirates, Tim Clark, mais de uma vez demonstrou seu descontentamento com a Boeing, em especial com relação aos constantes atrasos do 777-9, dizendo que não descarta cancelar o pedido caso os aviões não fossem entregues no cronograma atual. Ironicamente, a Boeing comunicou dias depois que as entregas ocorreriam apenas em 2025, dentro de um novo e atrasado cronograma.