Há 100 anos dos Estados Unidos lançaram o primeiro porta-aviões e ampliaram seu alcance global
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 21/03/2022, às 15h30
Há 100 anos a aviação militar deu um importante salto com a comprovação da viabilidade do seu uso embarcado, surgindo assim uma poderosa arma na guerra moderna, o porta-aviões.
A Marinha dos Estados Unidos acreditava na capacidade dos aviões no campo de batalha, comprovado na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e desejava ter uma base flutuante capaz de atingir qualquer ponto do globo. Assim, encomendou a conversão do navio cargueiro USS Jupiter, que recebeu uma pista rudimentar sobre toda sua extensão.
A inédita missão de transportar e lançar aviões exigiu uma completa mudança de paradigmas na operação aérea, assim como a criação de um conceito de navio inédito. O USS Jupiter foi enviado, em abril de 1920, para o estaleiro Norfolk Naval Shipyard, em Portsmouth, na Virginia, onde profundas mudanças estruturais foram realizadas. A maior e mais visível foi a construção de uma pista por toda a extensão do navio, que ficava ligeiramente suspensa em relação ao deck original. Foram ainda criados hangares internos para manutenção de aviões, novas salas técnicas, área para tripulação, entre outros.
O primeiro teste ocorreu em 20 de março de 1920, com o navio já rebatizado como USS Langley, em homenagem a Samuel Pierpont Langley, engenheiro aeronáutico e pioneiro na aviação, além de astrônomo e físico. O navio ainda recebeu a designação CV-1, dando início a sequência adotada até hoje pela Marinha dos Estados Unidos para seus porta-aviões, que está no CVN-78 o novo navio da classe Gerald R. Ford.
Uma curiosidade é que embora em inglês tivesse mais sentido usar a sigla AC, de aircraft carrier (literalmente porta-aviões) a designação já estava em uso pelos cruzadores pesados. Assim, optou-se pelo padrão francês Cruiser Voler, que significa cruzador de voo, em tradução livre. Com a criação do primeiro porta-aviões nuclear, o CVN-65 Enterprise, foi adicionado apenas a letra N, de nuclear.
Ao final da Primeira Guerra Mundial foi assinado o Tratado Naval de Washington, também conhecido por Tratado das Cinco Potências, onde os Estados Unidos, Reino Unido, França, Itália e Japão, as maiores forças navais da época, estabeleceram restrições para criação de novos navios de guerra.
O acordo previa um limite de 35.000 toneladas para os novos navios militares, com canhões de calibre máximo de 406 milímetros. O objetivo era evitar uma corrida armamentista, que potencialmente levaria a uma outra guerra.
Porém, o Artigo VIII do Tratado elevava a capacidade de futuros navios de transporte de aeronaves para 135.000 toneladas para modelos produzidos nos EUA e Reino Unido, enquanto o Japão ficava limitado as 81.000 toneladas e a França e Itália a 60.000 toneladas. Só havia uma restrição, esse limite estava válido para porta-aviões experimentais ou já construídos antes de 12 de novembro de 1921, como o USS Langley que começou seu projeto um ano antes.
Naquele momento as cinco potências navais acreditavam na viabilidade de usar navios como bases aéreas flutuantes, ao invés de um navio de apoio a aviação naval. Os Estados Unidos saíram na frente e em 17 de outubro de 1922, o tenente Virgil C. Griffin decolou pela primeira vez de um porta-aviões. O voo inédito ocorreu utilizando um Vought VE-7, dando início assim a era da aviação embarcada.
Nove dias depois, o tenente Godfrey de Courcelles Chevalier realizou o primeiro pouso no CV-1, a bordo do Aeromarine 39B. Ironicamente, Chevalier morreu em 14 de novembro após sofrer um grave acidente voando com um Vought VE-7 na base Aeronaval de Norfolk.
A Vought, que havia sido fundada em 1917, se estabeleceria como um dos mais importantes fabricantes de aeronaves navais do mundo. Modelos como lendário F4U Corsair, que se tornou um dos mais poderosos caças da Segunda Guerra, com 12.57 aeronaves produzidas. Já na Era do Jato, o F8U Crusader se tornou um importante caça de superioridade aérea embarcado, podendo voar acima da velocidade do som, enquanto o A-7 Corsair II se provou uma poderosa aeronave embarcada de ataque.
O USS Langley foi uma das primeiras respostas dos EUA ao ataque japonês a base de Pearl Harbor, no Havaí. Sua missão final ocorreu em 27 de fevereiro de 1942, quando o navio foi torpedeado pelos aeronaves da Marinha Imperial do Japão. O ataque, em três ondas, começou às 11h40 quando o navio estava aproximadamente 120 km ao sul de Tjilatjap, próximo de Java. Dezesseis Mitsubishi G4M "Betty" realizaram uma série de ataques ao USS Langley e as escoltas USS Whipple e USS Edsall. Cinco bombas atingiram o porta-aviões, com saldo de 16 mortos. Com o convoo em chamas e uma inclinação de 10° para bombordo, pontualmente às 13h32 a ordem de abandonar o navio foi dada. O USS Langley afundou pouco depois, encerrando assim sua pioneira carreira naval.