Os maiores fracassos supersônicos

Alguns aviões supersônicos se tornaram fracassos mais rápido do que sua incrível velocidade de voo

Por Edmundo Ubiratan Publicado em 11/01/2023, às 17h00

- Avro-Canada

A aviação civil avança gradualmente para a retomada dos voos supersônicos comerciais e alguns projetos já começam a ganhar forma. A maioria no entanto não deve passar de um sonho, como foi o caso do Aerion S2, cancelado em 2022 após duas décadas de projeto. Da mesma forma o Overture enfrenta problemas para encontar um fornecedor para os motores. 

A história por trás das atuais máquinas capazes de quebrar a barreira do som em voo nem sempre foi de sucessos. No passado, a busca pela construção de aviões cada vez mais rápidos levou à criação de muitos modelos, especialmente na aviação militar. Muitos deles, porém, por inúmeras razões, simplesmente não conseguiram seguir adiante.

TSR-2

Criado como uma aeronave de reconhecimento e ataque, o TSR-2 realizou seu primeiro voo em 1964. O modelo unia a capacidade de voar sobre o território inimigo obtendo dados importantes, com a possibilidade de penetrar em linhas inimigas bem defendidas perfazendo voos a baixas altitudes a velocidades muito altas e atacar seus alvos com armas nucleares ou convencionais. Apesar dos investimentos, o projeto da British Aircraft Corporation não foi capaz de criar uma aeronave nem de reconhecimento, nem de ataque. Ao final, dos três protótipos construídos, apenas um voou, comprovando que o programa não teria chances de sucesso.

CF-105 Arrow

Criado pela Avro Canada como um interceptador de alta velocidade, o CF-105 prometia voar acima de Mach 2, a mais de 50 mil pés. O projeto do avião, com asa em delta, era um dos mais avançados dos anos 1950. Coincidentemente, o avião fez seu rollout no dia 4 de outubro de 1957, no exato dia do lançamento do Sputnik I, o primeiro satélite artificial da história. Os primeiros voos foram realizados usando os motores Pratt & Whitney J75, similares aos do F-106 Delta Dart e do F-105 Thunderchief. Não demorou para o imponente jato superar Mach 1.9. A expectativa era substituir o motor pelo projeto canadense PS.13 Iroquois, que prometia um desempenho ainda superior. Sem qualquer aviso prévio, o primeiro-ministro do Canadá, John Diefenbaker, emitiu uma ordem suspendendo imediatamente o programa em fevereiro de 1959. Uma tentativa de vender o projeto aos EUA e à Inglaterra foi conduzido a toque de caixa, mas sem sucesso. Semanas depois, todo o ferramental, plantas industriais e protótipos foram destruídos. Ainda hoje, o tema é polêmico, mas o Arrow não teve chances de encarar seu maior inimigo: o interesse político.

F2Y Sea Dart

No início da década de 1950, o uso de aviões supersônicos parecia não apenas ser uma realidade latente, mas uma necessidade emergencial para quem desejasse ter alguma chance no campo de batalha futuro. Em uma disputa insana, começaram a surgir projetos dignos da Corrida Maluca, o clássico desenho do estúdio Hanna-Barbera. Entre os programas mais esdrúxulos estava o Sea Dart. Os engenheiros da Convair sugeriram uma versão anfíbia do Delta Dagger, que seria capaz de operar no mar ou em lagos. A solução era adotar o avião com esquis que permitissem ao avião deslizar sobre a água! O peso e o arrasto adicionais evidentes abreviaram a carreira dos protótipos, já que o programa logo foi encerrado. Ainda assim, em um dos testes em voo, durante um mergulho, o avião atingiu Mach 1, tornando-se até hoje o primeiro e único hidroavião supersônico da história.  
 
Em tempo: se o Sea Dart prosperasse, a Marinha dos Estados Unidos cogitava criar uma classe de submarinos capaz de transportar e lançar três desses caças. Eles seriam levados até o nível do mar por um elevador especial e protagonizariam ataques surpresas contra forças rivais, exatamente como já faziam os misseis e torpedos.

Mirage III V

Os franceses também tiveram sua dose de exageros durante a Guerra Fria. Mantendo sua independência tecnológica e militar, a França passou a buscar uma série de opções para garantir sua capacidade de dissuasão frente aos soviéticos e por que não, a americanos e ingleses. Um dos projetos mais audaciosos da Dassault envolveu ter um caça supersônico com capacidade de decolagem e pouso vertical (VTOL). A primeira tentativa com o Balzac V não funcionou. Então a solução foi tornar um Mirage III capaz de decolar e pousar na vertical. A ideia não chega ser estranha ou incomum, visto que o F-35 é um avião supersônico com capacidade VTOL. O problema foi tentar tal solução usando como base um projeto consolidado. Após o acidente com um dos protótipos, o projeto foi cancelado e os franceses desistiram de um caça VTOL.

Helwan HA-300

Poucos sabem, mas os egípcios também tiveram seu avião supersônico. O mais interessante é que foram construídas sete aeronaves ainda na década de 1960, em meio à escalada da Guerra Fria, e com suporte de um time de engenheiros alemães. O Helwan HA-300 foi projetado por ninguém menos que Willy Messerschmitt. O avião, que lembrava um Mirage, usava asas em delta e foi criado como interceptador leve capaz de voar a Mach 1.7. O motor E-300 havia sido criado por Ferdinand Brandner, o engenheiro austríaco que esteve ao lado dos alemães na Segunda Guerra e trabalhou no desenvolvimento do motor Kuznetsov NK-12 usado no Tu-95. O projeto foi cancelado em 1969. Oficialmente, nunca houve uma declaração dos motivos, visto que o caça era bastante promissor. Recentemente, documentos mostraram que os engenheiros alemães e austríacos foram ameaçados de morte pelo Mossad, o serviço secreto israelense. A resposta egípcia foi se aliar aos soviéticos. 

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