O sequestro do Boeing 737-300 da Vasp teve manobra arriscada e terminou com a morte do copiloto e do sequestrador
Por Marcel Cardoso Publicado em 29/09/2023, às 19h57
O histórico e impressionante sequestro do voo 375 da Vasp, que seguia de Porto Velho para o Rio de Janeiro, completou 35 anos hoje (29).
Em 29 de setembro de 1988, um Boeing 737-300 da Vasp (PP-SNT), com 105 pessoas a bordo, foi sequestrado por Raimundo Nonato Alves, que planejava jogar a aeronave contra o Palácio do Planalto, em Brasília.
Notato Alves havia trabalhado em uma empreiteira no Iraque, onde foi motorista de trator, mas ao voltar ao Brasil viu suas economias desaparecerem com a hiperinflação e a falta de emprego. Por conta do cenário econômico adverso que o país se encontrava passou a creditar ao então presidente José Sarney a responsabilidade pelo seu estado financeiro. A solução era jogar o avião, com todos a bordo, contra a sede da Presidência da República. Para isso, embarcou no voo 375 da Vasp armado com o revólver calibre 32 e mais de noventa balas na bagagem de mão.
Até então as seguranças nos principais aeroportos do mundo era simples e sem controle de raio-x em diversos terminais. O voo transcorreu normalmente entre Porto Velho e Belo Horizonte, após ter feito escalas em Cuiabá, Brasília e Goiânia. No trecho final até o Rio de Janeiro (GIG), foi anunciado o sequestro e os pilotos foram forçados a fazer um desvio com destino à capital federal.
Ao anunciar o sequesto Nonato Alves disparou diversas vezes contra a porta do cockpit, atingindo de raspão a perna do piloto Ronaldo Dias, que estava no jump seat. Após avaliar que o passageiro poderia começar a matar os passageiros, o comandante Fernando Murilo de Lima e Silva pediu que a porta fosse destrancada.
Já no cockpit Notato Alves informou seus planos e pediu a mudança de rota. O comandante ainda teve tempo de inserir o código transpoder 7500, que informa ato de interferência ilícita. Após o Cindacta receber o aviso e pedir confirmar a situação, o copiloto Salvador Evangelista foi morto ao tentar responder o contato com um tiro a queima roupa.
Segundo relatos na época de Fernando Murilo, a morte de Evangelista foi a pior parte de todo o sequestro, por serem grandes amigos. Após manter o controle emocional, o comandante sobrevoou Brasília em uma região com nuvens baixas, mantendo o avião distante de qualquer alvo potencial na capital federal.
Ao notar estar com pouco combustível o comandante alertou Notato, que ordenou a mudança de rota para São Paulo. Ao sobrevoar o aeroporto de Goiânia, o piloto executou um tonneau, onde realiza giro completo sobre o eixo longitudinal da aeronave, na tentativa de desequilibrar o criminoso. Na segunda tentativa, uma bem sucedida manobra em parafuso, com uma queda de 9.000 metros, fez com que Nonato caisse para fora do cockpit, e sem ação até o pouso seguro.
Em solo, após exigir um avião para fugir e após várias horas de negociações e uma operação bastante polêmica e mal executada pela Polícia Federal, o sequestrador foi baleado por policiais e morreu dias depois.
O piloto Murilo foi condecorado com a Ordem do Mérito Aeronáutico, do então Ministério da Aeronáutica, e premiado pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas. Já a filha do copiloto Evangelista obteve uma indenização da Infraero. A Justiça responsabilizou a estatal por permitir que um passageiro embarcasse com um revólver e munição.
O PP-SNT voou por mais quatro anos pela Vasp. Em 1992, ele foi transferido para Morris Air, presidida à época por David Neeleman, o fundador da jetBlue e mais tarde da a Azul Linhas Aéreas. Em 1994, a norte-americana Southwest Airlines adquiriu a empresa. Apenas em setembro de 2012 a já aposentada foi desmontada, 26 anos depois do primeiro voo.