O que diz o reporte preliminar do acidente com o ATR 72 da Voepass?

Pilotos comentaram sobre sistema antigelo antes de perda de controle, segundo dados revelados no reporte preliminar emitido pelo Cenipa

Por Micael Rocha Publicado em 06/09/2024, às 20h00

Reporte preliminar diz que pilotos relataram falhas no sistema de degelo durante o voo - Secretaria de Segurança de São Paulo

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou o reporte preliminar sobre o acidente com o ATR 72 da Voepass, que aconteceu em Vinhedo, no dia 9 de agosto, vitimando 62 pessoas.

De acordo com o reporte os pilotos relataram falhas no sistema de degelo durante o voo. O copiloto mencionou "bastante gelo" minutos antes da queda, enquanto o sistema de degelo foi acionado diversas vezes. No entanto, a aeronave voou por determinado período sem o sistema funcionando, o que pode ter contribuído para o acúmulo de gelo nas asas.

O documento, produzido em caráter factual, revelou também que o ATR 72 voou em uma região com a presença de gelo severo, o que havia sido previamente reportado nas cartas meteorológicas.

Na coletiva de imprensa promovida pelo Cenipa, os investigadores lembraram que o ATR 72 é certificado para voar em condições de gelo. Porém não foi possível evidenciar que o gelo tenha sido a causa da queda do avião da Voepass muito embora tenha ficado claro que essa seria uma das linhas de investigação e provável elo inicial do acidente.

O reporte apresentado informou também que o avião se encontrava aeronavegável, mesmo estando com uma das duas packs (sistema que controla a pressurização e temperatura da cabine) inoperante, limitando o voo da aeronave no teto máximo operacional em 17.000 pés. Todavia, ressaltando que não haveria qualquer prejuízo ou impedimento legal para à realização do voo.

Outro fato apontado pelo Cenipa foi a não autorização concedida ao Voepass 2283 para iniciar a descida para um nível de voo onde houvesse menor concentração de gelo severo, um ponto muito questionado entre pilotos.

Por ora, ao que se sabe é que naquele momento havia duas outras aeronaves (um Boeing 737 e um Airbus A320) que trafegavam em rumos convergentes nos níveis mais baixos do que o ATR, inviabilizando a autorização pelo Controle São Paulo (APP-SP) para início da descida. Segundo o Cenipa não houve nenhum registro de solicitação de descida imediata por gelo por parte da tripulação.

Apesar dos relatos dos pilotos que pudessem haver panes no sistema contra gelo, o chefe do Cenipa, brigadeiro Marcelo Moreno, afirmou que a falha no sistema antigelo não foi confirmada pelos dados técnicos até o momento. O militar reforçou que a aeronave estava certificada para voar em condições de gelo, e os pilotos possuíam treinamento adequado para lidar com essas situações.

A investigação ainda está em andamento, sem uma definição sobre a causa do ocorrido. Os relatórios do Cenipa, como de praxe, não apontam culpados, mas identificam fatores que contribuíram para o ocorrido, visando melhorar a segurança de voo.

A Polícia Federal informou que também conduz uma investigação criminal paralela ao Cenipa, essa sim com objetivo de buscar entender e punir eventuais culpados pelo acidente.

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