Aeronave deverá substituir os Antonov An-22 e An-124 com novo conceito de propulsão híbrida
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 08/08/2020, às 15h00 - Atualizado às 21h05
A Rússia aprovou as especificações para um novo avião cargueiro militar, que deverá substituir simultaneamente os Antonov 22 e os icônicos Antonov 124. O programa designado como PAK VTA, acrônimo para Complexo Prospectivo de Aviação para Aeronave de Transporte Militar, recebeu o sinal verde do Ministério da Defesa russo.
Oficialmente programa PAK VTA prevê um avião com capacidade de transportar ao menos 80.000 kg (payload) com alcance de 5.000 km. A especificação inicial, poderá ser alterada antes da fase preliminar de projeto ser concluída. Por ora, o programa PAK VTA prevê uma aeronave com compartimento de carga com 27,5 metros, com largura de 5,8 metros e altura de 4,4 metros.
An-22 deverá ser substituído na força aérea russa pelo futuro PAK VTA | Foto: Ministério da Defesa da Federação Russa
O futuro avião deverá ter ainda capacidade de operar em pistas não-preparadas, com destaque especial para a possibilidade de decolar e pousar, mesmo com carga máxima, em áreas com neve ou lama. A Rússia possui diversas bases aéreas na região da Sibéria, que contam com pistas não-pavimentadas e por suas condições climáticas extremas tornam a operação bastante complexa. Além disso, os militares russos acreditam que as aeronaves com capacidade de operar em qualquer tipo de terreno oferecem vantagens estratégicas em caso de conflito. Assim áreas sem qualquer tipo de preparo podem ser rapidamente convertidas em bases aéreas.
Os detalhes atuais de projeto mostram uma aeronave com capacidade próxima ao turbo-hélice An-22 e similar ao cargueiro norte-americano C-17 Globemaster III. Todavia, o modelo deverá ter uma velocidade de cruzeiro superior ao veterano An-22, visto que empregará modernos motores a reação.
O An-124 se tornou um sucesso no mercado civil graças a sua grande capacidade de carga e flexibilidade de operação
Aliás, um dos conceitos apresentados recentemente previa propulsão hibrida, com um motor elétrico acoplado na turbina*, permitindo ao propulsor maior eficiência em diversas fases do voo.
Originalmente o PAK VTA especificava um avião com capacidade próximo ao An-124, com carga paga de 180.000 kg e alcance de 5.000 km, mas possivelmente houve uma revisão das capacidades logísticas das forças armadas russas.
O programa está sendo desenvolvido pelo Instituto Central de Aerohidrodinâmica da Rússia (TsAGI, na sigla em russo), localizado em Zhukovsky, nos arredores de Moscou. O centro de pesquisas avançadas em engenharia aeroespacial é um dos mais respeitados do mundo e foi responsável pela validação de dezenas de projetos russos e até mesmo de aeronaves ocidentais.
Modelo de ensaios em túnel de vento T-106 mostra uma aeronave próxima ao An-124 | Foto: TsAGI
O conceito aerodinâmico do PAK VTA ainda é incerto, podendo manter a solução padrão aplicada nos cargueiros militares como o An-124 e C-5 Galaxy, com fuselagem quase cilíndrica e porta de carga no nariz e na parte posterior da fuselagem, ou adoção de uma fuselagem oval, com porta de carga traseira e com rampa.
A variante T-106 do projeto foi divulgada pela TsAGI, em novembro de 2019, mostrando um conceito similar ao An-124, com uma solução de engenharia mais simples e que exige um menor tempo para ser executada.
O modelo de túnel de vento pode dar algumas pistas do futuro avião. A aeronave utilizada na campanha de ensaios aerodinâmicos conta com comprimento de cerca de 1,63 m e envergadura de quase 1,75 m, com altura pouco inferior a 50 cm. De acordo com a TsAGI, a parte da estrutura é feita de ligas de alumínio e os elementos carregados são feitos de aços estruturais, fornecendo assim uma massa de 120 kg. Tais dados apontam que ao menos o modelo T-106 dimensionalmente e estruturalmente está mais próximo do An-124 que dos turbo-hélices An-22.
O modelo de testes conta com quatro suportes de motor, asa alta e trem de pouso principal montado na parte central fuselagem. Assim, é possível que o avião tenha soluções aerodinâmicas e estruturais mais tradicionais. Oficialmente o modelo estudado pelo TsAGI possui uma autonomia de cerca de 7.000 km, com velocidade de 850 km/h e carga útil máxima 180.000 toneladas (An-124 é de 120 toneladas). O conceito em estudos prevê que para decolar com máximo payload será necessária uma pista de 3.000 metros.
O motor utilizado como referência nessa fase preliminar de estudos é o turbofan Aviadvigatel PD-35, que oferece 77.000 lbf de empuxo unitário, sendo o mesmo desenvolvido para o avião comercial de fuselagem larga e alcance intercontinental sino-russo CR929. Tais dados contrariam os a posição oficial do Ministério da Defesa da Rússia, que apontam um avião com capacidade entre o An-22 e o C-17.
Todavia, o modelo de ensaios no túnel de vento é facilmente ‘transformável’, podendo ser testado em várias configurações, incluindo layout aerodinâmico da fuselagem, formato do nariz e da cauda, pontas das asas e carenagens do trem de pouso. A imagem do conceito atual (primeira na matéria) mostra que algumas soluções são originais do An-22, como a posição e formato do cockpit na fuselagem, assim como os estabilizadores verticais duplos.
“A produção do modelo da aeronave de transporte pesado foi realizada em etapas, utilizando máquinas CNC de alta precisão. A parte mais trabalhosa foi o da asa, que tem uma forma espacial complexa para garantir altas características aerodinâmicas nos modos de cruzeiro”, disse Andrei Sidorov, chefe adjunto do departamento tecnológico do TsAGI.
O avião deverá ser construído pela Ilyushin, devendo ser apresentado oficialmente no final do ano, com a construção do primeiro exemplar sendo iniciada já em 2021.
* turbina componente do motor e não como sinônimo de motor a reação