As técnicas utilizadas para o controle e extinção do fogo e os recursos empregado pelos bombeiros do ar
Por Ernesto Klotzel Publicado em 02/07/2020, às 16h30 - Atualizado às 17h34
Neste dia do Bombeiro (2), elencamos algumas curiosidades sobre o uso de aeronaves em missões de combate a incêndios, que se tornou tão importante que já foi tema até de reuniões do G7, o grupo dos sete países mais ricos do mundo, assim como da conferência anual em Davos.
Os incêndios florestais geralmente difíceis de controlar, causam enormes danos, muito além dos recursos naturais, pois consomem propriedades e estruturas, forçando o êxodo em massa dos residentes e colocando em risco suas existências.
Para a surpresa da maioria, as incursões aéreas que bombardeiam com água e retardante de chamas – por maior que seja o volume lançado por passagem – tem como finalidade principal a progressão e o direcionamento das labaredas, facilitando o trabalho e aumentando a segurança dos bombeiros em solo, muitas vezes cercados pelo fogo.
Para se ter ideia dos danos causados por um incêndio florestal, em 2018 uma grande área da Califórnia pegou fogo, deixando como saldo um total de 280.000 acres de vegetação consumida pelas chamas, 100 mil pessoas foram evacuadas, 8.900 residências foram destruídas ou seriamente danificadas, além da morte de 43 pessoas. O controle ao incênio envolveu nada menos que 11 mil bombeiros.
Aeronaves de asas fixas e rotativas, de todos os tipos, dimensões e propulsão, embora raramente se mostrem por si agentes de extinção definitiva de incêndios, são imprescindíveis no processo de “ataque” às chamas e o que poderia ser chamado de “gestão do fogo”: a abertura de espaços na floresta, sua delimitação e – na medida do possível – a redução na velocidade de progressão do incêndio – papel fundamental dos produtos retardantes das chamas lançados do ar em nuvens coloridas de líquido viscoso, cuja permanência no solo é de até dois dias.
As aeronaves dedicadas ao combate ao fogo são modificados para poder se abastecerem no menor tempo possível com o máximo de água e retardante, lançando-os em pontos estratégicos do fogo, por gravidade (queda livre) ou sob pressão.
O recurso mais simples é o uso de “baldes” de grande capacidade sob a fuselagem do helicóptero imersos enquanto ele paira próximo da água. Uma vez cheio, o helicóptero o transporta até o ponto de lançamento, que é comandado com a abertura inferior do balde. Um método mais sofisticado é o uso de uma mangueira flexível (snorkel) e uma bomba d’água que, baixado em qualquer fonte, aspira o líquido para dentro de um tanque especial dentro da aeronave, também dotado do equipamento de lançamento por queda livre. Este sistema é utilizado pelo helicóptero peso-pesado Erickson S-64 Skycrane (no detalhe), que se mostrou extremamente versátil como bombeiro de asas rotativas.
Ainda no capítulo do Skycrane (literalmente guindaste aéreo), este gigante que pode transportar um tanque modular com até 10.000 litros de água ou retardante, lançando-os em volumes controlados. O S-64 pode ser esquipado com um “canhão” dianteiro que lança espuma sob pressão contra as chamas.
Para ser abastecido em qualquer fonte de água com um mínimo de profundidade, o Skycrane pode utilizar vários recursos: o “balde”, o snorkel ou – à semelhança dos anfíbios –recolher o volume desejado ao voar rasante sobre a água, aproveitando o efeito de compressão da água em bocal de recolhimento – o que é feito em questão de minutos. Todos os helicópteros comerciais e militares, mesmo monomotores, podem ser adaptados para missões antifogo.
O mesmo pode ser dito para as aeronaves de asa fixa, cujo exemplo mais elementar são os aviões agrícolas, quando se utiliza o tanque de agroquímicos para transportar e aspergir água ou retardante na vizinhança do fogo.
O abastecimento de anfíbios e aerobotes, como os CL-215 e CL-415 da canadense Viking Air, é feito de maneira elegante e rápida, assim como os russos Beriev Be-200. As características dessas aeronaves permitem que se abasteçam em voo ou deslizando sobre a água com um bocal de admissão aberto para, em minutos, encher seu tanque para água. O lançamento é feito com a abertura das portas na parte inferior da fuselagem.
Difícil imaginar que widebodies como o DC-10 para não falar de um Boeing 747 adpatado realizem manobras radicais à baixa altura sobre o fogo, mas o fato é que eles se mostraram perfeitos para as missões. Suas velocidades e autonomias favorecem o deslocamento para atender a emergências em qualquer ponto do planeta com o mínimo de escalas.
No caso do incêndio na Califórnia de 2018, o 747-400 da Global Super Tanker Services trabalhou horas extras de setembro a dezembro, realizando 71 lançamentos em 51 voos de quase um milhão de galões de água e retardante. A capacidade de seus tanques é de quase 19.000 galões. Excepcionalmente, água e retardante são aplicados por um sistema pressurizado que permite um controle de cada “bombardeio”, além de evitar que os produtos se dispersem sob ação do vento.
O 747-400 operado pela Cal Fire (abreviação adotada pelo Departamento de Proteção ao Fogo e Florestas da Califórnia) está baseado no aeroporto McClellan, em Sacramento, onde também se concentra o restante de sua frota de 50 aeronaves entre missões no verão ou no inverno – ocasiões quando a DynCorp International realiza os trabalhos de manutenção. A empresa também fornece pilotos e mecânicos para a Cal Fire, desde 2001. Ela é considerada a mais importante no setor de combate aéreo a incêndios nos USA e constituiu, gradualmente, uma frota de 50 aeronaves de asa fixa e rotativa: são 22 S-2T Tracker, 12 UH-1H Super Huey, 15 Rockwell OV-10 A Bronco e dois King Air A200.