NBAA-BACE 2025: Aviação de negócios projeta crescimento e inovação

Edição de 2025 consolida a retomada da indústria, marca o retorno da Gulfstream, apresenta avanços da Bombardier e Textron reforçando as projeções otimistas para a próxima década

Por Edmundo Ubirata, de Las Vegas Publicado em 30/10/2025, às 14h49

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Em uma edição marcada por lançamentos e pela consolidação de um processo de reinvenção, a NBAA-BACE 2025 manteve-se em Las Vegas reafirmando o vigor da aviação de negócios e apresentando perspectivas positivas para o futuro. A indústria segue em transformação estrutural, acompanhando o comportamento dos grandes salões internacionais de aviação, tecnologia e automotivo.

A crise sanitária de 2020 criou um paradoxo: a demanda por voos privados cresceu enquanto a indústria enfrentava escassez de insumos e profissionais. Gargalos produtivos e limitações logísticas tornaram pilotos, mecânicos e técnicos recursos tão raros quanto metais preciosos. Paralelamente, o avanço digital modificou a relação entre fabricantes e consumidores — hoje é possível visitar virtualmente cabines de jatos executivos e interagir com fabricantes em tempo real. Ainda assim, os eventos presenciais seguem insubstituíveis, e feiras como a NBAA-BACE, AirVenture, Farnborough e Paris Air Show continuam em expansão.

Em 2025, a NBAA marcou o retorno da Gulfstream, após dois anos de ausência, com dois lançamentos, enquanto Dassault Falcon e Embraer ficaram fora. A Bombardier confirmou o avanço do Global 8000, o jato subsônico mais rápido do mundo, com Mach 0.85.

Perspectivas de mercado

As perspectivas divulgadas pela Global Jet Capital e pela Honeywell Aerospace Technologies reforçam a tendência de crescimento sustentado até o fim da década, impulsionado pela retomada das viagens internacionais, pelas carteiras recordes de pedidos e pela expansão dos modelos de acesso à aviação executiva. Os jatos pesados e de longo alcance devem continuar liderando o mercado — um reflexo direto da maturidade tecnológica e financeira do setor.

A Global Jet Capital, em seu relatório Business Jet Market Outlook 2025–2029, projeta um aumento de 8,3% no volume total de transações em 2025, com expansão média anual de 3,9% até 2029. O valor combinado de vendas de aeronaves novas e usadas deve alcançar US$ 206 bilhões no período, sendo US$ 109 bilhões referentes ao mercado novo e US$ 97 bilhões ao mercado de usados.

As entregas de aeronaves novas devem crescer 4,4% em 2025 e manter ritmo médio de 2,7% ao ano, enquanto o mercado de usados deve avançar 4,2% em unidades e 3,4% em valor. Os jatos pesados continuarão como força motriz do setor: as entregas nessa categoria devem crescer 5,3% ao ano, e as transações de usados, 6,1%. A preferência se explica pelo maior alcance, capacidade e conforto de cabine — atributos reforçados pela retomada das viagens internacionais e pela introdução de novos modelos certificados.

O relatório destaca ainda que os backlogs dos OEM — carteiras de pedidos — estão 62% acima dos níveis de 2019 e 7,4% maiores que em 2023, um sinal de que a demanda continua firme e que parte do mercado tem recorrido a aeronaves usadas para atender necessidades imediatas.

O levantamento da Global Jet Capital confirma a América do Norte como o principal centro global de aviação executiva, concentrando 73,8% das transações. A América Latina aparece como segundo maior mercado, com 11,3% do total — sendo 88% das operações ligadas a aeronaves usadas —, à frente da Europa (8,4%). A Ásia-Pacífico e o Oriente Médio/África completam o mapa, com participação combinada próxima de 6%.

No aspecto operacional, o número de partidas aumentou 2,8% em 2025 frente ao ano anterior, marcando o retorno ao padrão de crescimento sustentável observado antes da pandemia. A empresa prevê que a combinação de crescimento econômico global (2,6% ao ano segundo a Oxford Economics) e maior confiança do usuário corporativo sustentará a expansão até 2029.

A Honeywell Aerospace Technologies reforça a mesma perspectiva em seu 2025 Global Business Aviation Outlook, mas em um horizonte mais longo — de 2025 a 2034. A empresa prevê 8.500 novas aeronaves avaliadas em US$ 283 bilhões, com 740 entregas em 2025 e crescimento médio anual de 3% em entregas e investimentos. A América do Norte também lidera na previsão da Honeywell, com 71% das entregas mundiais em 2025, seguida pela Europa (14%), América Latina (7%), Ásia-Pacífico (5%) e Oriente Médio e África (3%).

Entre os compradores, o interesse é quase equilibrado entre jatos pequenos, médios e grandes em número de unidades, mas os jatos pesados respondem por 65% do valor total das aquisições O relatório destaca ainda que 20% dos operadores já têm pedidos firmes, 46% planejam expandir suas frotas e 67% pretendem substituir aeronaves existentes, o que deve ampliar o mercado de usados nos próximos anos.

Propriedade fracionada e sustentabilidade

Dois fatores se consolidam como vetores de transformação. O primeiro é a propriedade fracionada, cuja frota mundial cresceu 65% desde 2019, com maior adesão de operadores corporativos e privados que buscam otimizar capacidade e custos. O segundo é o avanço das iniciativas ambientais: 81% dos operadores consideram aeronaves e motores mais eficientes a principal forma de reduzir emissões, enquanto 60% já utilizam combustível sustentável (SAF) ou adotam medidas para economia de combustível.

Essas tendências refletem um mercado que cresce não apenas em volume, mas também em maturidade. Enquanto a Honeywell enfatiza inovação tecnológica e sustentabilidade, a Global Jet Capital ressalta fundamentos econômicos e solidez de demanda. Em conjunto, os relatórios convergem para um cenário de crescimento consistente, com foco em eficiência, alcance e renovação de frota — uma combinação que deve consolidar os jatos de longo alcance como o eixo central da aviação executiva na segunda metade da década.

Bombardier

Com apresentação do Cirque du Soleil, a Bombardier mostrou o avanço do Global 8000, que atingiu Mach 0.95, tornando-se o mais rápido entre os subsônicos. O diferencial é a redução de até 40 minutos na rota Nova York–Londres. O programa já havia superado Mach 1 em testes de 2021. A fabricante também destacou a atuação militar: a Bombardier Defense e a SNC firmaram contrato de dez anos para suporte logístico de dois Global 6500 equipados com tecnologia RAPCON-X, usados em missões A-ISR.

Cirrus

A Cirrus integrou ao SR G7+ a tecnologia Safe Return Emergency Autoland, permitindo pouso autônomo ao toque de um botão — complementando o tradicional paraquedas balístico. A marca celebrou a entrega do Vision Jet número 700, dez anos após a primeira entrega, consolidando-o como líder dos jatos muito leves, com média anual de 70 aeronaves. No primeiro semestre de 2025 foram entregues 45 unidades, segundo a GAMA.

Daher

Durante a feira, a Daher confirmou a criação de sua operação própria no Brasil, com sede em São Paulo, reforçando a presença na América Latina. O país é um dos principais mercados da família TBM e apresenta alto potencial para o Kodiak, impulsionado pelo agronegócio. Nicolas Chabbert, CEO da divisão de aeronaves, anunciou Paulo César Olenscki como diretor executivo e Rodrigo Cendon como diretor de relações com o cliente. A empresa amplia também sua rede de suporte nos EUA, com novas bases no Alasca, Illinois e Carolina do Norte.

Gulfstream

De volta à NBAA-BACE, a Gulfstream apresentou sua maior exposição estática, com toda a linha — G300 (mockup), G400, G500, G600, G700 e G800. O destaque foi o novo G300, sucessor do G280, com cabine alongada para até dez passageiros, dez janelas panorâmicas e tecnologias das séries superiores. O G400, exibido após o primeiro voo, oferece 4.200 milhas náuticas de alcance e o cockpit Symmetry Flight Deck. A empresa anunciou ainda que sua frota corporativa e de demonstração já superou 3 milhões de milhas voadas com SAF, reafirmando seu papel de liderança tecnológica e ambiental.

Piper

Com participação discreta, a Piper destacou o M700 Fury, seu turboélice de alto desempenho, e reforçou a atuação em formação de pilotos. A fabricante firmou contrato de até 188 aeronaves com a University of North Dakota, avaliado em US$ 155 milhões, e ampliou parceria com a Skyborne Airline Academy, primeira escola a encomendar o Seminole DX bimotor diesel — 35% mais econômico e compatível com SAF.

Pilatus

A Pilatus promoveu o PC-12 PRO, versão avançada do monomotor turboélice, agora com suíte Garmin G3000 e cockpit ACE personalizado. O modelo oferece três telas de alta resolução, visão sintética 3D, autothrottle, radar meteorológico de nova geração e integração digital do motor PT6 via sistema EPECS. O PC-24 recebeu atualizações de sistemas e interior. O fabricante anunciou ainda a entrega de um PC-12 às Forças Armadas da Alemanha para missões de treinamento e transporte, reforçando sua presença no segmento militar europeu.

Otto Aerospace

A Otto surpreendeu ao exibir o mockup do Phantom 3500, jato leve de nova geração com design futurista e ausência total de janelas — substituídas por painéis internos 4K que exibem imagens externas. O modelo, com 3.200 milhas de alcance, teto de 51 mil pés e motores Williams FJ44-4, deverá voar em 2027 e obter certificação em 2030. A Flexjet encomendou 300 unidades, garantindo o financiamento do programa. Segundo o CEO Paul Touw, o Phantom 3500 representa “um novo capítulo em inovação, eficiência e sustentabilidade”.

Textron Aviation

 

A Textron apresentou todo o portfólio Citation e destacou o Citation Ascend, evolução da série 560XL, com suíte Garmin G5000, piso plano, janelas ampliadas e sistema de cabine sem fio. O evento também marcou a certificação dos Citation CJ3 Gen2 e M2 Gen2 com autothrottle, novos assentos, iluminação RGB e lavatório com claraboia natural. O Longitude passa a oferecer internet via Starlink, tornando-se o primeiro modelo da linha com cobertura global, e as etiquetas Sensos Smart Labels permitem rastreamento em tempo real de peças.

A empresa e a NBAA reforçaram o compromisso social do setor ao apoiar o Special Olympics Airlift 2026, que transportará atletas de todo os EUA até os Jogos Olímpicos Especiais de Minnesota — programa que, desde 1987, já levou mais de 10 mil participantes.