Combustível de aviação no Brasil é mais caro que a média mundial

Preço do QAV no Brasil supera a média global e pressiona companhias aéreas, aponta estudo da CNT sobre estrutura e gargalos do setor

Por Marcel Cardoso Publicado em 04/08/2025, às 16h50

Estudo da CNT mostra como concentração de mercado, logística precária e fatores externos elevam o custo do QAV na aviação brasileira - Divulgação

O querosene de aviação, responsável por 99% do consumo da aviação comercial no Brasil, representa 36% dos custos operacionais das companhias aéreas no país — patamar superior à média global de 31%.

O dado está no estudo inédito divulgado na última quinta-feira (31), pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), que detalha a estrutura de produção, distribuição e precificação do combustível no Brasil.

De acordo com a pesquisa, o valor do QAv é fortemente influenciado por fatores externos como o preço do petróleo, a taxa de câmbio e a concorrência com o óleo diesel dentro das refinarias. Além disso, a estrutura concentrada da indústria nacional e gargalos logísticos contribuem para o aumento dos preços. Em 2024, 96,6% da produção nacional estiveram concentrados em apenas duas refinarias, enquanto duas distribuidoras controlaram 80,8% do mercado.

Apesar da retomada da produção, que chegou a 5,86 bilhões de litros neste ano, o Brasil ainda depende de importações, que representaram 17,4% da oferta entre 2000 e 2024. Essa dependência é agravada por uma logística limitada: apenas os aeroportos de Guarulhos, em São Paulo, e Galeão, no Rio de Janeiro, contam com dutos diretos de abastecimento. Nos demais terminais, o transporte ocorre por caminhões-tanque, elevando os custos e os riscos operacionais.

O estudo revela que o preço do QAv responde mais às variações cambiais e aos custos de refino do que à demanda por voos. Trata-se de um mercado com características oligopolizadas, no qual há pouca elasticidade entre oferta, procura e preço. A política de Preço de Paridade de Importação, vigente de 2016 a 2023, também contribuiu para a elevação dos preços internos, mesmo após sua extinção.

A CNT propõe medidas como a redução da carga tributária sobre o QAv, o fortalecimento da regulação, o incentivo à concorrência e investimentos em infraestrutura de transporte e armazenagem. Para a entidade, essas ações são essenciais para garantir um abastecimento mais eficiente e menos oneroso ao setor aéreo, crucial para um país com as dimensões continentais do Brasil.

O estudo ainda aponta para o futuro com os combustíveis sustentáveis de aviação, capazes de reduzir significativamente as emissões de carbono. No entanto, o alto custo — até quatro vezes maior que o do QAv convencional — ainda representa um desafio técnico e econômico para sua adoção em larga escala.

SAF QAV querosene de aviação combustível de aviação CNT aviação brasileira logística aeroportuária Custo Operacional distribuição de combustível refino de petróleo

Leia também

Fundador da Azul ataca combustíveis sustentáveis e defende aviação regional
Projeto de lei que promove combustível sustentável na aviação vai à sanção