Acumulando apenas 29 horas totais de voo, um 747-8 BBJ avaliando em mais de 2 bilhões de reais é sucateado
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 23/12/2022, às 16h00
O maior avião executivo do mundo, baseado em um Boeing 747-8, foi sucateado com menos de 30 horas de voo.
Usualmente um avião do tipo é descartado após acumular milhares de horas de voo, muitas vezes superando com facilidade as 100.000. Como comparação, 30 horas é basicamente um voo de ida e volta de São Paulo para Dubai, no Emirados Árabes Unidos.
O avião, de registro N458BJ foi adquirido pelo Sultão bin Abdulaziz Al Saud, da Arábia Saudita, que morreu em 22 de outubro de 2011, meses antes do avião ficar pronto. Embora tenha sido produzido há dez anos, o processo de conversão do 747-8 para o padrão BBJ, acrônimo de Boeing Business Jet, que adiciona um interior digno de um palácio, ocorreria após a entrega da Boeing.
Imagem: dreamcatcher-68/Flickr
Como um dos herdeiros do trono saudita, bin Abdulaziz Al Saud era Ministro da Defesa e teria o imponente para poder realizar seus descolamentos pelo mundo. Porém, com sua morte prematura o 747-8 VVIP (sim, com duplo V), jamais foi entregue aos sauditas.
As 29 horas de voo foram acumuladas entre o voo de testes antes da entrega e depois no translado da fábrica da Boeing e o Euro Airport, localizado entre as cidades francesas de Saint-Louis e Hésingue, e seu retorno para os Estados Unidos. A expectativa era converter o avião na sequência, mas o governo da Árabia Saudita não deu continuidade ao processo, deixando o imponente 747-8 ainda na cor branca e com apenas a intenção de ser convertido como um palácio voador.
Por vários anos foi oferecido ao mercado, pela módica quantia de 95 milhões de dólares, valor ligeiramente superior aos jatos de negócios topo de linha da Bombardier, Dassault e Gulfstream, mas muito menores em tamanho. O preço de lista de um 747-8 é de aproximadamente 420 milhões de dólares. Mesmo custando um quarto do valor de um avião similar não houve interessados no negócio.
O 747-8 BBJ deixou a França apenas em 15 de abril deste ano, após 10 anos estacionado a espera de um comprador.
O derradeiro voo entre o EuroAirport e Pinal Airpark, um dos maiores cemitérios de aeronaves do mundo, localizado no Arizona, ajudou a completar as 29 horas de voo totais.
Semanas após retornar aos Estados Unidos o 747-8 começou a ser desmontado, retirando componentes com elevado valor no mercado, como os motores e sistemas gerais, que ainda podem ser reaproveitados. O estabilizador vertical também foi separado, iniciando o processo de sucateamento completo.
O 747-8 BBJ foi vendido para alguns países, atendendo especialmente aos Chefes de Estado, como Egito, China, Kuwait, Marrocos, Omã, Qatar e Turquia, além de alguns bilionários ao redor do mundo. A versão de passageiros é operada pela alemã Lufthansa, que conta com 19 unidades.
O governo dos Estados Unidos adquiriu dois 747-8, que serão os novos aviões presidenciais, conhecidos como Air Force One. Os dois jatos deveriam ter sido entregues há quase década para a Transair, uma empresa aérea russa que decretou falência.