Turboélice da Piper atinge 301 KTAS, traz tecnologia de jato e mira pilotos-proprietários com foco em desempenho e economia
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 05/05/2025, às 10h00
O M700 Fury é a nova aposta da Piper para disputar o mercado de turboélices de alto desempenho. Com motor de 700 shp e velocidade máxima de 301 KTAS, o modelo combina avanços tecnológicos, como o sistema de pouso automático HALO, a confiável motorização PT6 e a suíte Garmin G3000, com a eficiência comprovada da fuselagem PA-46, modernizada desde os anos 1970.
O M700 Fury é uma evolução da linha PA-46, lançada nos anos 1970 para atender voos rápidos e de médio alcance. O primeiro modelo, PA-46-310P Malibu, foi um sucesso imediato, superando concorrentes como Mooney M22 e Cessna P210R. Por anos, a Piper competiu com a Cessna, mas, em 1990, o TBM 700 trouxe inovação com seu motor turboélice PT6A-64 de 700 shp.
A Piper respondeu uma década depois com o PA-46-500TP Meridian, equipado com motor de 500 shp e aviônica digital Avidyne Entegra, depois atualizada para Garmin G1000. Apesar da boa performance, apresentava limitações de carga útil. Com melhorias, nasceu a família M-Class, incluindo o M500, M350 e o M600, este último com motor de 600 shp, suíte Garmin 3000 e maior alcance e velocidade. Em 2020, a Piper incorporou o sistema de pouso automático Halo, baseado no Autoland da Garmin, consolidando a modernização da linha. O M600 passou a entregar bons números gerais, sendo inclusive uma opção viável e mais econômica aos VLJ como o Eclipse 500 e Citation Mustang.
Todavia, a Daher respondeu as evoluções do PA-46, dentro de sua estratégia de constante melhoria da família TBM, com o TBM 960, que agregou uma série de melhorias, e oferece uma velocidade máxima de 330 nós, embora, na prática, varie entre 252 KTAS e 326 KTAS.
700 shp e 301 KTAS.
Usando a estratégia que vem dando resultado há mais de 40 anos, a Piper utilizou a mesma fuselagem básica do PA-46 original, com algumas pequenas mudanças estruturais para atender aos novos requisitos, como diferencial de cabine máximo de 5,5 psi, resultando em uma altitude de cabine de 8.244 pés no FL280. O motor passou a contar com 700 shp, permitindo voar com uma velocidade máxima de 301 KTAS. Assim nasceu o M700 Fury (PA-46-701TP).
O próprio nome reflete a ideia de uma aeronave com alto desempenho, mas sem perder sua essência baseada no sucesso da família PA-46. O M700 Fury ainda utiliza o mesmo motor Pratt & Whitney PT6A-52 utilizado no King Air 260, onde produz 850 shp, mas foi limitado em 700 shp no M700 até o FL240. Isso permite uma ampla margem de potência, reduzindo o desgaste do motor, com menores custos de manutenção.
Em termos de desempenho a altitude máxima operacional é de 30.000 pés, com alcance de 1.149 nm, voando na máxima velocidade e com reserva de 45 minutos, onde o consumo declarado é na ordem de 55 gph. Aliás, capacidade de combustível utilizável é de 260 galões (1.742 libras). Se reduzir para 292 KTAS o alcance o alcance aumenta para 1.424 nm e voando com voando a 206 KTAS, o alcance é de expressivos 1.852 nm.
Embora o perfil do usuário do M700 Fury, em especial nos Estados Unidos, é de voos relativamente curtos, explorando a elevada velocidade. No Brasil, não necessariamente temos o mesmo cenário, ainda que a maioria dos usuários busque um equilíbrio de alcance e velocidade.
Ainda assim, comparando com o Malibu original, a velocidade de cruzeiro era na ordem de 216 nós e alcance de 1.550 nm, fazendo os números do M700 realmente impressionantes se pensarmos ser o mesmo projeto básico. Outro ponto o interessante é a velocidade de subida de 2.048 pés por minuto, 30% melhor que o M600 que já oferecia bons números.
O peso máximo sem combustível é de 2.290 quilos o que permite, em tese, transportar um máximo de 540 quilos na cabine, o que significa seis passageiros de 90 quilos cada, mas sem bagagem. Novamente, em uma operação cotidiana, raramente são transportados mais que quatro passageiros. Talvez, nos EUA, famílias com três ou quatro filhos acabem ocupando todos os assentos, mas considerando serem crianças ou adolescentes, o peso é consideravelmente menor que 90 quilos por passageiro.
A Piper, assim como todos os fabricantes dessa categoria de aviões, deu especial atenção as necessidades e aos desejos dos pilotos, que na maior parte dos casos são os próprios proprietários. Um destaque da suíte G3000 é a capacidade de auxiliar nos cálculos de peso e balanceamento, além da interface simplificada e contar com diversos recursos como visão sintética, mapa 3D, oferecer a opção de ver as cartas na tela, entre outros.
O M700 é equipado de série com o sistema de pouso automático, o HALO, que ainda detecta casos de hipóxia quando o piloto automático está ativado acima de 14.100 pés, descendo imediatamente para uma altitude segura. E ainda assim, caso o piloto não assuma os controles, o HALO aciona o autoland. Outro ponto importante é a capacidade do autothrottle, que impede estol e excesso de velocidade, além de tornar as decolagens mais seguras. Segundo o manual, ao elevar as mantes até 800 libras de torque, e o sistema assume o controle, ajustando automaticamente para 1.840 libras-pré de torque—sem necessidade de ajustes manuais durante a corrida de decolagem.
O avião ainda é equipado com Piloto automático digital GFC 700, radar meteorológico GWX 75, Datalink GDL60 e sistema integrado de pressurização digital da cabine.
Já o interior da cabine não é dos mais espaçosos, com 1,25 metro de largura e 1,19 metro de altura, sendo projetado para oferecer algum conforto em voos curtos e médios, mas priorizando a redução do arrasto, o que ajuda explicar o motivo da família Pa-46 ser tão rápida desde o primeiro modelo. Ainda assim, o comprimento da cabine, considerando do anteparo de pressurização traseiro até o painel de instrumentos, é de 148 polegadas, suficiente para viagens rápidas.
Considerando a faixa de preço, na ordem de 4,1 milhões de dólares, o M700 Fury oferece uma cabine com espaço razoável, com velocidade elevada, competindo de forma direta com o TBM 960, e ainda com números operacionais não tão distantes do SF50 Vision, mas com custos bastante competitivos.