Conheça em detalhes qual a melhor opção para o seu negócio
Jonas Lopez Publicado em 25/05/2020, às 12h00 - Atualizado às 16h58
Ainda hoje, muitos se perguntam se devem seguir uma “teoria evolutiva aeronáutica” ao ingressar no universo da aviação privada. Ficam em dúvida se precisam passar primeiro por um monomotor a pistão, em seguida um bimotor a pistão, depois um turbo-hélice (mono ou bimotor) e, só então, comprar um jato. A resposta é não necessariamente.
Claro que não há problema algum em seguir essa lógica, mas considere que a aquisição de uma aeronave pode ocorrer sem que se cumpra uma regra pré-determinada. Na verdade, o importante é levar em conta os aspectos técnicos e operacionais de suas futuras missões, geralmente representados por 75% das operações previstas.
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Durante o desenvolvimento dos chamados Very Light Jets, ou simplesmente VLJ, a indústria tinha como objetivo diminuir os custos dos novos aviões em relação aos de jatos de negócios convencionais, tornando suas despesas mais próximos às de modelos turbo-hélice, além de incluir em seu portfólio modelos capazes de preencher a lacuna que havia entre jatos e turbo-hélices – representando o que se poderia chamar de “evolução natural”.
Com o lançamento dos primeiros modelos em meados dos anos 2000, verificou-se entre os VLJ uma redução de custos tanto em termos operacionais como, principalmente, de manutenção. Assim, os custos deixaram de ser um aspecto incomparável no momento da escolha de uma aeronave, como costumava acontecer com jatos de geração anterior, sobretudo em relação aos biturboélices.
Hoje, as diferenças dos valores gastos com a manutenção de um bimotor turbo-hélice e um VLJ ao longo de um curto período de operação (de seis anos, por exemplo) já não são tão representativas e tendem a ficar mais próximas podendo até, em alguns casos, ser mais vantajoso para o VLJ – que não precisa cumprir uma série de inspeções programadas típicas de alguns turbo-hélices. O mesmo, porém, não acontece no caso de um turbo-hélice monomotor, que ainda leva vantagem em relação a um jato bimotor no quesito custo operacional e de manutenção, além de oferecer muito mais espaço interno.
As distâncias voadas em cada trecho também podem influenciar diretamente nos custos, neste caso no custo operacional. Nas pernas mais curtas, os turbo-hélices têm um custo por hora voada imbatível, enquanto o jato tende a apresentar um custo por hora maior, o que o coloca em clara desvantagem. Se suas missões cumprirão principalmente viagens curtas, não há muita dúvida em relação ao tipo de aeronave a escolher.
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Ainda assim, dependendo da situação, vale considerar uma variável na equação. Ao pensarmos na aviação de negócios (excetuando-se os taxis-aéreos, cuja lógica é mais complexa), estamos falando de aeronaves que vão suprir as necessidades de uma empresa e, em muitos casos, também de seus controladores. Como exemplo, considere uma aeronave que voe semanalmente uma rota de 600 quilômetros, cumprindo os compromissos de seu proprietário. Imagine, agora, que essa mesma aeronave, nos fins de semana, voe mais 1.800 quilômetros para o lazer da família. Nesse caso, a vantagem do custo operacional relativo à hora voada não tem o mesmo peso se comparado àquele em que as viagens mais distantes são exceção.
Para dar uma noção mais prática, nesta missão de 1.800 quilômetros um VLJ bimotor e um turbo-hélice bimotor teriam custos de operação similares e a aeronave a jato chegaria ao destino cerca de uma hora antes, por ser de 30% a 40% mais rápida do que turbo-hélices, e com um conforto maior proporcionado por uma cabine de passageiros mais silenciosa, voando em altitudes maiores em busca de ar mais calmo. Além disso, usando menos tempo de voo, aumenta-se o intervalo de algumas intervenções de manutenção.
Mais uma vez, no caso da comparação com um monoturboélice, que também são bastante rápidos, a vantagem do custo volta para a aeronave a hélice, o que vai obrigar o futuro proprietário a avaliar cada pró e contra de maneira mais meticulosa.
Alguns outros aspectos, como segurança de voo, seguros, custos com pilotos, custos de aquisição e hangaragem, possuem pouca ou nenhuma diferença entre os modelos e, embora sejam de alto grau de importância operacional no voo cotidiano, num processo de escolha teriam baixo peso devido ao alinhamento de custos e de confiabilidade que essas aeronaves apresentam.
King Air 250 foi o avião do segmento mais entregue no Brasil em 2019
O mesmo não acontece ao analisarmos o quesito pistas. Diante da necessidade de operar em pistas sem preparo, como terra, cascalho ou grama, temos razão suficiente para optar por um turbo-hélice. Com exceção do novo Pilatus PC-24, jatos civis não devem operar em superfícies que não sejam de asfalto ou concreto.
De novo, se a necessidade de se ter um jato pesar na escolha, mesmo que seus destinos tenham aeródromos com pistas despreparadas, é possível considerar as redondezas. O uso de aeroportos em uma cidade ou uma propriedade vizinha com uma pista que possa receber uma aeronave com propulsão a jato sem problemas operacionais são mais comuns do que se imagina.
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Na prática, a equação de escolha entre um turbo-hélice e um VLJ não é tão exata ou óbvia como pode parecer. Com a chegada dos VLJ, os jatos ganharam terreno na concorrência com os turbo-hélices, mas a disputa continua acirrada ao se considerar a infraestrutura aeroportuária do Brasil e também a performance principalmente dos monoturboélices em relação ao custo.
Também pesam a favor dos turbo-hélices várias décadas de aprimoramento em comparação aos “recentes” VLJ, ainda que a evolução tecnológica se revele muito mais rápida hoje do que era há 40 anos, com produtos atingindo sua maturidade mais rapidamente. Por fim, a versatilidade é e sempre será a maior vantagem dos turbo-hélices, que podem ser empregados nas mais variadas missões.
Vários turbo-hélices novos estão previstos para chegar ao Brasil nos próximos anos. Em 2019, o King Air 250 foi o modelo de avião mais entregue no país. Mas os jatos ganham terreno em alta velocidade. Os VLJ já somam cerca de 1.700 aeronaves vendidas em todo o mundo e hoje se mostram uma opção bastante competitiva na escolha da sua nova aeronave.
* Jonas Lopez é piloto, administrador de empresas e pós-graduado em Marketing. Atua como diretor da Global Aircraft no Brasil, empresa sediada nos EUA e especializada em comércio e gerenciamento de aeronaves por todo o mundo.