História se repete 20 anos após militares da FAB estarem envolvidos com tráfico internacional

Sargento que compunha missão presidencial é preso na Espanha com mais de 30 quilos de cocaína

Por Edmundo Ubiratan | Imagens: Divulgação Publicado em 26/06/2019, às 18h00 - Atualizado às 18h35

A Força Aérea Brasileira novamente está envolta em um grave escândalo internacional, com a prisão de um sargento que levava 39 quilos de cocaína em um dos aviões da comitiva presidencial. 

O sargento foi preso no aeroporto de Sevilha, na Espanha, quando autoridades escaneavam as malas da comitiva durante o desembarque no aeroporto espanhol. Todavia, este não é o primeiro caso envolvendo transporte de droga em aviões da Força Aérea Brasileira.

O vice-presidente general Hamilton Mourão, que está no exercício da Presidência, afirmou que o sargento é uma “mula qualificada”, enquanto o Ministério da Defesa e o Comando da Aeronáutica se limitaram a afirmar que a prisão está sendo investigada.

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Há 20 anos atrás, a Polícia Federal revelou um esquema de tráfico internacional de drogas durante a Operação Mar Aberto. Na ocasião, as autoridades brasileiras desmantelaram um esquema que utilizava os C-130 Hercules no transporte de cocaína para Europa. Em abril de 1999 a polícia prendeu 33 quilos de drogas dentro do avião, enquanto fazia uma escala técnica na base Aérea de Recife. Em seguida a aeronave decolaria para Clemont Ferrand, na França, realizando uma parada operacional em Palma de Mallorca, território espanhol.

O esquema revelado na época mostrava que traficantes internacionais cooptaram oficiais da FAB para embarcar grandes quantidades de cocaína para Europa. Os militares forneciam não apenas as datas e rotas, como facilitavam o embarque da droga dentro de bases aéreas.

Na ocasião o recém-criado Comando da Aeronáutica abriu uma investigação, comprovando a participação de três oficiais, incluindo um coronel e um major. Na justiça comum os três foram condenados por tráfico de drogas com pena de 16 anos de prisão. No âmbito militar foram expulsos da força aérea, perdendo imediatamente qualquer direito a salário e bônus militares.

Contudo, o caso se arrastou por quase duas décadas, com um dos oficiais só sendo desligado da FAB em novembro de 2011. Outro oficial, que já havia sido levado para reserva como major, só teve a patente caçada em abril de 2019, vinte anos após o flagrante.

Considerado o principal elo entre a força aérea e os traficantes, o coronel teve a perda de posto e de patente apenas em 2015, quando o Supremo Tribunal Militar finalmente concluiu o processo.  

“De igual modo, irrelevante se torna sua condição de inativo, pois, mesmo nessa situação, compromete o prestígio e a respeitabilidade da Força a que pertence, não só pela gravidade do delito praticado, mas pelas repercussões nefastas que se espraiam no meio militar e na vida civil, não só no Brasil, mas no exterior, onde os fatos tiveram repercussão, denegrindo a imagem e o conceito dos militares, em especial os da Força Aérea Brasileira, e dos brasileiros em geral”, trecho da sentença proferida em 2015.

A prisão do sargento em Sevilha recoloca militares da FAB no poderoso esquema do tráfico internacional de droga, retomando a repercussão “nefasta que se espraia no meio militar”.

FAB VC-2 C-130 Hercules cocaína GTE