Há 60 anos, um avião pousou sozinho — e ninguém percebeu

Em 1965, um Trident fez história ao realizar o primeiro pouso automático comercial sem intervenção dos pilotos

Por Marcel Cardoso Publicado em 10/06/2025, às 09h16

Pouso completamente automático marcou um grande avanço na aviação civil - TSRL/CC BY-SA

Há exatos 60 anos, em 10 de junho de 1965, a aviação comercial alcançou um marco histórico com o primeiro pouso totalmente automático de um avião com passageiros, realizado sem qualquer intervenção manual dos pilotos. Nenhum dos passageiros percebeu ter sido um pouso conduzido pelos computadores embarcados.

O evento histórico foi realizado por um Hawker Siddeley Trident 1C da British European Airways (BEA), operando o voo BE343 entre Paris e Londres, que na ocasião contava comcondições meteorológicas adversas, exigindo um pouso de precisão.

O sistema Autoland foi desenvolvido pela Smiths Industries em colaboração com a Hawker Siddeley Aviation e a própria BEA. Essa foi uma das primeiras implementações operacionais de pouso automático na aviação civil, representando um avanço tecnológico notável para a época e estabelecendo as bases dos sistemas automáticos modernos de aproximação e pouso, incluindo os sistemas autônomos da plataforma Garmin.

O Trident 1C foi projetado desde o início para incorporar tecnologia de ponta, incluindo o sistema de pouso automático, que permitia à aeronave realizar aproximação, flare, toque na pista e, em versões posteriores, a rolagem até desaceleração total — tudo sem interferência humana.

Avanço técnico para a época

O sistema Autoland usado pelo Trident integrava uma arquitetura tripla redundante (triplex), que aumentava significativamente a confiabilidade e segurança. Caso um dos canais apresentasse falhas, os demais garantiam a continuidade da operação automática. A aeronave se guiava com precisão pelo Instrument Landing System (ILS), interpretando os sinais do localizador (eixo lateral) e o glide slope (ângulo de descida).

Além do controle de descida, o sistema atuava nos comandos do avião, executando a transição de flare para suavizar o toque na pista e, posteriormente, a desaceleração controlada na pista. O Autoland também contava com mecanismos de monitoramento contínuo, que desligavam automaticamente o sistema em caso de discrepâncias entre os canais, devolvendo o comando aos pilotos de forma segura.

Antes da entrada em operação comercial, a BEA realizou dentenas de voos de teste sem passageiros para validar a confiabilidade do sistema. Após os resultados positivos, o sistema foi certificado para uso regular.

Limitações e legado

Na década de 1970, foi identificado que os pousos automáticos do Trident poderiam gerar contatos com o solo mais firmes que o ideal, acelerando a fadiga estrutural em algumas aeronaves. Em vez de realizar reparos caros, companhias optaram pela retirada dos modelos afetados de operação. Ainda assim, o Trident se consolidou como espinha dorsal da frota da BEA, sendo aprimorado em versões como o 1E, 2E e 3B.

A tecnologia desenvolvida para o Trident pavimentou o caminho para os sistemas autoland atuais, que hoje operam com controles fly-by-wire e lógica computacional redundante. O princípio de tripla redundância aliado à navegação por ILS segue como base na aviação moderna.

* colaborou Edmundo Ubiratan

aviação comercial Heathrow BEA pouso automático Hawker Siddeley aviação 1965 primeiro pouso automático sistema Autoland British European Airways Trident 1C

Leia também

10 Filmes Incríveis com Aviões para Assistir Agora
A incrível história da TWA: do glamour do Constellation ao derradeiro fim em 2001