Gulfstream G700 oferece uma cabine projetada para quem precisa ficar muito tempo em voo e pode voar sem escala de São Paulo até a Austrália
Por Rodrigo Duarte Publicado em 22/09/2023, às 14h00
Em outubro de 2019, durante o NBAA-BACE, o maior encontro da aviação de negócios do mundo, que ocorreu na ocasião m Las Vegas, nos Estados Unidos, a Gulfstream anunciou seu maior avião, o G700.
Como uma evolução das capacidades do G650ER, contando com uma série de tecnologias criadas para a dupla G600/G500, o novo avião prometia aliar uma cabine larga com ultralongo alcance.
O projeto evoluiu rapidamente, mesmo diante dos desafios criados pela crise sanitária entre 2020 e 2021. Atualmente o G700 está em fase final da campanha de ensaios em voo e deverá ser certificado ainda este ano.
O primeiro contato com o G700 mostra a imponência da aeronave, sozinha, com uma envergadura de asa similar de jatos regionais. As tradicionais janelas ovais já deixam claro que estamos diante de uma aeronave fabricada pela norte-americana Gulfstream, que desde 2001, pertence ao poderoso conglomerado General Dynamic.
Analisando a parte externa do avião, em um primeiro momento, é possível notar grandes diferenças físicas em relação às outras aeronaves da marca (evidentemente, o tamanho é maior), porém, observando mais detalhadamente, é possível notar o novo desenho dos winglets, que se parecem com barbatanas de tubarão, e a ausência de qualquer gerador de vórtex nas asas, que são completamente lisas e limpas.
Os eficientes motores Rolls-Royce Pearl, que vêm ganhando muito espaço nesse segmento de aeronaves, equipando também modelos de outros fabricantes, produzem 18.250 libras de empuxo cada. Eles chamam a atenção pelo tamanho, e ainda que não seja uma preocupação do projeto, garantem uma composição estética equilibrada com o design e o tamanho da fuselagem.
Por possuir o maior espaço interno dessa categoria de aeronaves, é possível dividir a cabine em até cinco zonas diferentes. O G700 tem capacidade máxima para dezenove passageiros ou até treze passageiros com verdadeiras camas para dormir simultaneamente.
O modelo comporta diversas configurações de interior, incluindo variações de sofás, poltronas, divãs e até mesmo uma cama. Aliás, o design das poltronas é único e muito moderno.
Um aspecto que pode ser visto nos lançamentos recentes é o bom gosto e o requinte que os fabricantes estão apresentando, com produtos modernos e realmente diferenciados, de extrema qualidade, que proporcionam uma experiência única aos passageiros, além da indiscutível sensação de exclusividade, conforto e bem-estar.
O entretenimento a bordo é proporcionado por telas individuais com internet de banda KA, que oferece velocidades superiores àquelas disponibilizadas pelos antigos sistemas SBB e Inmarsat. Todo o controle de cabine, o que inclui iluminação, abertura e fechamento das cortinas das janelas, som e telas, pode ser feito por um controle localizado na galley ou por meio de tablets.
Uma aeronave desse porte concebida para realizar voos extremamente longos requer soluções que outras aeronaves não possuem. O ar da cabine é 100% fresco com troca imediata durante o voo. Além disso, a pressurização é mantida sempre em níveis confortáveis, correspondentes altitudes abaixo de cinco mil pés, o que proporciona maior conforto e menor sensação de cansaço após uma longa jornada.
Especialmente projetada para suportar operações de longo curso, a galley possui geladeira, dois fornos, sendo um elétrico e um de micro-ondas, duas cafeteiras, sendo uma para cafés expressos e outra para café de coador, pia, gaveta para gelo, bebidas e muitos armários para que possam ser armazenados itens de conforto e atendimentos aos passageiros e tripulantes.
Uma condição interessante que a Gulfstream publica sobre essa aeronave é considerar quatro tripulantes já no seu peso básico, o que demonstra claramente a vocação do G700 para voar longe e por muito tempo. O espaço de descanso da tripulação é muito amplo e pode ser configurado para se tornar uma cama, requisito de muitas legislações aeronáuticas quando se trata do assunto.
Já na cabine de comando, outro show de tecnologia. Nos chama a atenção o duplo Head-Up Display, que, em geral, é instalado somente na posição do comandante. No G700, tanto comandante como copiloto possuem o equipamento que auxilia em operações no período noturno, mal tempo e ainda em regiões montanhosas e de difícil operação.
Os comandos são fly-by-wire e movimentados por meio de side sticks ativos, que se movem de maneira idêntica, independentemente de qual lado esteja aplicando o comando. Ou seja, exatamente como funciona em aeronaves com comandos convencionais, ligados por cabos ou hastes.
Segundo a Gulfstream, uma das vantagens do side stick ativo é replicar o movimento sendo aplicado por um dos pilotos, melhorando a consciência situacional, permitindo que ambos os tripulantes percebam de maneira imediata o que o colega ao seu lado está fazendo.
Não há nenhum instrumento analógico na cabine, tudo é digital, inclusive botões de comando do sistema elétrico, ar-condicionado, pressurização, dentre outros. O checklist também é digital com fluxo completado automaticamente após a ação esperada da tripulação, ou seja, se o item seguinte a ser executado pelo piloto é acionar as luzes de navegação, tão logo a ação seja tomada, o próprio sistema de checklist entende como feito e passa para a próxima tarefa sem necessitar de que o piloto faça um call-out ou pressione algum botão.
O que realmente impressiona, porém, é estar sentado na cabine de uma máquina que pode decolar de São Paulo e parar em Perth, região sudoeste da Austrália, voando a Mach 0.85, que é a velocidade de longo alcance e similar de aviões comerciais.
Segundo a Gulfstream, a distância máxima que pode ser percorrida pelo G700 é 7.500 milhas náuticas (13.890 quilômetros) com oito passageiros, quatro tripulantes e voando a Mach 0.85 (904 km/h). O nível de cruzeiro inicial é 41 mil pés, sendo que o teto operacional é 51 mil pés. A velocidade máxima que a aeronave pode atingir é Mach 0.925 (cerca de 985 quilômetros por hora).
O mundo realmente ficou pequeno para esse avião. Lembro-me de que o apelo comercial do consagrado G550 era o mundo inteiro com uma parada. E agora que é possível sair do Brasil e parar na Austrália? O que dizer? Nessa velocidade também é possível realizar voos diretos Sidney-São Paulo.
Navegando pelo site da Gulfstream é possível verificar diversas operações para essa aeronave, tanto na velocidade de longo alcance como na velocidade de cruzeiro rápido, que é Mach 0.90.
Selecionando Londres como ponto de partida e velocidade de longo curso, praticamente o mundo todo é um destino para esse avião, e sem paradas.