Investigação mostra que ao menos 40% dos aviadores paquistaneses utilizam documento irregular
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 10/08/2020, às 16h00 - Atualizado às 19h12
Paquistão descobriu um complexo esquema de venda de licenças de pilotos falsificadas
A Pakistan International Airlines (PIA), a principal empresa aérea do Paquistão, demitiu 28 pilotos que portavam licenças falsas. Os desligamentos ocorreram após uma investigação das autoridades aeronáuticas paquistanesas sobre a existência de um grande número de pilotos não-habilitados voando regularmente.
Os investigadores chegaram à conclusão que ao menos 40% dos pilotos paquistaneses possuem habilitações duvidosas, sendo ao menos parte da licença irregular ou falsa. Um piloto de linha aérea, na maioria dos países do mundo, deve cumprir uma série de etapas para sua formação, mas no Paquistão uma considerável parcela dos aviadores não realizou parte dos cursos ou comprou a licença falsa sem ter concluído nenhuma fase de instrução.
A Autoridade de Aviação Civil do Paquistão (PCAA, na sigla em inglês), descobriu que que de 860 pilotos ativos, ao menos não haviam feito exames ou escola de pilotagem. A investigação ocorreu após o acidente com o voo 8303 da PIA, que matou 97 pessoas em 22 de maio de 2020. Na ocasião os investigadores colocaram em dúvidas a formação dos pilotos, que negligenciaram as instruções de controle de tráfego aéreo e deliberadamente não realizaram uma série de procedimentos padrão para o pouso.
O acidente foi provocado por uma série de falhas dos pilotos, incluindo o recolhimento do trem de pouso momentos antes do avião cruzar a cabeceira da pista, demonstrando completa falta de gerenciamento da cabine e desconhecimento de padrões básicos de pilotagem em situação anormal de voo.
Após o acidente a PIA imediatamente suspendeu 150 de seus 426 pilotos, no último dia 4 de agosto, a companhia aérea demitiu 60 pilotos, sendo 28 por portarem licenças irregulares. A PIA ainda descobriu que dois funcionários estavam envolvidos em um esquema de fraude e corrupção, permitindo assim o ingresso de falsos pilotos nos quadros de tripulantes.
As autoridades de aviação da Europa (EASA) suspenderam as operações da PIA em todos os países da comunidade europeia, incluindo autorizações de sobrevoo do continente, por um período de seis meses. O objetivo é atestar os padrões de segurança da empresa paquistanesa, atualmente considerada uma das mais perigosas do mundo.
Os Estados Unidos também proibiram os voos da PIA em seu espaço aéreo. A FAA, a agência de aviação civil norte-americana, afirmou que a PCAA não estava cumprindo os padrões de segurança estabelecidos internacionalmente.No dia 15 de julho o Paquistão foi classificado como Categoria 2 em segurança, o que tornou proibido qualquer voo de empresas locais a sobrevoar o espaço aéreo dos Estados Unidos.
O Vietnã também suspendeu o contrato de 27 pilotos paquistaneses que voavam no país. A autoridade aeronáutica do país asiático aguarda a conclusão de uma investigação para confirmar se os aviadores efetivamente portam licenças de piloto ou apenas um documento falso.
O uso de licenças falsas tem sido uma realidade em alguns países. Recentemente a Rússia descobriu um esquema similar de venda de carteiras de pilotos.