Conheça, de forma resumida, como funciona e como é acionado o sistema de busca e salvamento após um acidente aéreo no Brasil
Por Micael Rocha Publicado em 21/08/2024, às 09h00
Há alguns dias o acidente do voo 2282, da Voepass, chocou o país e levantou uma série de questões de segurança na aviação. Entre os temas que voltaram a chamar atenção foi sobre como os órgãos de busca e salvamento são acionados após a suspeita ou consumação de um acidente.
Embora o ATR 72 da Voepass estivesse em um local conhecido, em casos de acidente em regiões remotas ou que ocorre em áreas desconhecidas, o Sissar, que é composto de órgãos e elos passam a trabalhar conjuntamente a fim de prestar o Serviço de Busca e Salvamento (SAR).
Por exemplo, no início do ano, o desaparecimento do helicóptero que havia decolado na véspera do Ano-Novo, exigiu o uso de diversos meios para poder ser localizado em uma região de mata. As autoridades não sabiam exatamente o local da queda, que era considerada em área desconhecida, o que exige um trabalho conjunto entre diversos órgãos de busca.
Este serviço é oferecido no Brasil pela Força Aérea Brasileira e tem como objetivo a localização e o socorro dos ocupantes de aeronaves ou de embarcações em perigo. Em casos de missões de combate ainda é previsto o resgate e o retorno à segurança de tripulantes de aeronaves abatidas ou embarcações afundadas, dentro do C-SAR, sigla em inglês para Busca e Resgate em Combate.
O Sistema de Busca e Salvamento Aeronáutico (Sissar) opera em uma vasta área de 22 milhões de quilômetros quadrados, incluindo o Oceano Atlântico e a Amazônia, com o objetivo de localizar e socorrer ocupantes de aeronaves e embarcações que sabiamente estejam em perigo.
O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) é responsável pelo planejamento e supervisão das atividades do Sissar, que conta com militares e aeronaves equipadas com tecnologia para prover resgates.
Dentre este contexto, o Centro Brasileiro de Controle de Missão (Brmcc) é o ponto central na recepção de sinais de alerta, transmitindo-os aos Centros de Coordenação de Salvamento Aeronáuticos (ARCC), conhecidos como Salvaero, e aos Centros de Coordenação de Salvamento Marítimo (MRCC), os chamados Salvamar.
Tais centros, cuja localização está espalhada em diversas regiões do Brasil, assumem a coordenação das operações de busca e salvamento, após receberem os sinais de emergência provenientes de aeronaves, embarcações ou pessoas em perigo.
O Sistema COSPAS-SARSAT, de uso gratuito e adotado globalmente, oferece dados precisos e confiáveis para localização e alertas de socorro, quer por meio de equipamentos emissores de localização automática quanto através de mensagens radiotelefônicas, especialmente na frequência 121.5 MHz.
Enquanto o Centro Brasileiro de Controle de Missão (Brmcc) é responsável por receber esses sinais de emergência, emitidos por aeronaves dotados de equipamento de localização de emergência (ELT), embarcações (Epirb) ou por dispositivos pessoais (PLB), os Centros de Coordenação de Salvamento (RCC) ficam encarregados de coordenar as operações de busca e salvamento (SAR).
Após receber e analisar todas as informações, o Comando de Operações Aeroespaciais (Comae) é acionado, caso a emergência seja confirmada, para mobilizar os recursos aéreos necessários à execução das missões de Busca e Salvamento - aviões essenciais na cobertura da vasta área de responsabilidade que inclui o Oceano Atlântico e a Amazônia.
A FAB, assim como a maioria das forças aéreas no mundo, utiliza uma série de aeronaves em missões de Busca e Salvamento. Mesmo modelos pouco usuais, como caças, podem ser usados dependendo do caso, mas em geral existe uma gama de aeronave que tem entre suas missões o SAR.
Um dos principais modelos empregados na missão de resgate é o SC-105 Amazonas, versão altamente especializada do Airbus C-295, um avião de transporte tático com capacidade para até 71 militares ou 24 macas, dependendo da configuração.
Na versão SAR o turboélice é equipado com sensores eletro-ópticos e infravermelhos, além de um radar de busca de longo alcance, o que permite a detecção de alvos em condições adversas, ideais para a procura por destroços de aeronaves acidentadas. Sua autonomia de voo pode ultrapassar onze horas, permitindo seu uso em operações longas.
Outra aeronave frequentemente utilizada pela FAB em missões de busca e resgate é o P-3AM Orion, que se destaca pela sua capacidade de patrulha marítima. O P-3AM, originalmente projetado para missões de guerra antissubmarino, foi adaptado ao longo das décadas para também atender missões SAR, o que ocorreu com a instalação de sistemas de radar e sonar, além de um avançado sistema de gestão de missão.
No Brasil, o P-3AM tem uma autonomia de cerca de 16 horas, o que o torna ideal para missões de busca em áreas remotas ou para voos de longa duração em alto mar.
O brasileiro e C-390 Millennium foi desenvolvido pela Embraer em parceria com a FAB como um avião cargueiro multimissão. Entre suas capacidades, previstas em projeto, é o suporte em missões de busca e salvamento.
Substituindo os veteranos C-130 Hercules, os recém-chegados KC-390 podem realizar uma ampla gama de missões SAR, desde busca por longos períodos de voo até o lançamento de equipes especializadas, incluindo médicos, e suprimentos.
Adquirido em uma ampla parceria com a Airbus Helicopters, o H225M se tornou o modelo padrão das forças armadas do Brasil. Embora tenha designação diferente em cada uma delas, sendo o H-36 Caracal na FAB, em todos os casos o modelo tem entre suas atribuições as missões SAR e C-SAR.
No caso da FAB, o H-36 é usado especialmente no socorro imediato, podendo realizar a extração de vítimas de locais de díficil acesso ou o envio de equipes de socorro.
A FAB emprega o H-60 Black Hawk em diversas missões, sendo uma das principais o suporte ao emprego SAR. Em geral o helicóptero é acionado para realizar busca de aeronaves desaparecidas ou o resgate de vítimas, seja na terra ou no mar.