Governo Lula estuda mudanças na frota de aviões da FAB utilizada pelo Brasil no transporte presidencial e de autoridades
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 26/11/2024, às 15h00
O governo Lula avalia suspender os planos para a compra de novos aviões presidenciais como consequência do corte de gastos. Ainda assim, a Força Aérea Brasileira (FAB) teria como alternativa a conversão de um dos A330-200 para a versão VIP, como foi realizado no passado com um dos KC-137.
Por ora, o governo mantém a intenção de substituir o atual VC-1, um A319 destinado a missões VIP, mas segue avaliando as opções, sobretudo em relação ao prazo. Na melhor das hipóteses, a nova aeronave estaria disponível entre 2026 e 2027.
Há exatos 20 anos, o governo brasileiro confirmou a compra do atual VC-1, substituindo o veterano KC-137, derivado do Boeing 707, que acumulava 18 anos de serviço ativo na Força Aérea Brasileira.
A troca da frota presidencial se justificava pela idade avançada do KC-137 destinado ao transporte presidencial. O 2401 (leia 24-Zero Uno) foi adquirido da Varig e entregue para a FAB em julho de 1986, mas se tratava de um avião usado por quase duas décadas no transporte de passageiros e com tecnologia bastante ultrapassada já quando entrou em serviço.
Após o fim da produção do 707, a FAB passou a enfrentar grandes dificuldades na manutenção da frota de quatro KC-137, que se agravou no caso do 2401, que chegou a sofrer uma pane grave enquanto transportava o então vice-presidente Marco Maciel, em dezembro de 1999.
Nos três anos seguintes, a Presidência da República passou a fretar aviões da Varig e da TAM para deslocamentos oficiais ao exterior, mas o custo elevado e a baixa disponibilidade de locação das empresas aéreas comprometiam a agenda oficial.
Após detalhados estudos, foi escolhido o Airbus A319, em sua versão ACJ, que oferecia uma configuração de cabine destinada ao transporte de chefes de Estado, com uma ampla suíte, sala de reunião e uma área para transporte da comitiva oficial. Na ocasião, a disputa envolveu o Boeing 737BBJ, derivado do 737-700, mas que foi preterido por questões técnicas e políticas.
Naquele momento, o governo Lula se alinhava a parcerias estratégicas com a França, tornando o modelo da Airbus um natural vencedor. A compra foi confirmada pelo Congresso brasileiro e envolveu um contrato de offset, por conta do qual a Airbus e seus parceiros deveriam investir no Brasil um valor equivalente ao da venda do avião.
Embora tenha sido uma compra bastante polêmica, o avião chegou ao Brasil no ano seguinte e foi batizado de Santos Dumont pela FAB, em virtude da proximidade do centenário do primeiro voo do 14-Bis. Mesmo tendo recebido o nome de um herói nacional, o ACJ, oficialmente VC-1 na FAB, ganhou o pejorativo apelido de Aerolula e foi uma das armas da oposição na eleição de 2006.
Em um país acostumado com um sem-fim de problemas estruturais e deficiências básicas em saúde, moradia, segurança pública e educação básica, somado aos exorbitantes gastos com a máquina pública, foi natural enfrentar a resistência de diversos setores à compra de um avião presidencial.
Ao assumir seu terceiro mandato em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a avaliar a troca do avião presidencial. O argumento principal passou a ser o curto alcance do VC-1, que não consegue voar sem escalas entre Brasília e a maioria dos destinos na Europa e sofre restrições de peso quando voa direto para os Estados Unidos.
Meses antes, o então presidente Jair Bolsonaro havia adquirido dois Airbus A330-200, usados, para serem convertidos no futuro para o padrão MRTT, adicionando capacidade multifunção, inclusive de reabastecimento em voo.
Sem orçamento para tornar o A330 em um real KC-30, a designação oficial dos dois aviões na FAB, uma das principais utilizações passou a ser o transporte oficial. Ainda que sem contar com configuração VIP, mantendo exatamente o padrão usado pela Azul, com classe executiva e econômica, sua maior capacidade e alcance justificaram seu uso em diversos deslocamentos do presidente Lula e sua comitiva.
Ainda no ano passado, o comandante da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, avaliou com a Presidência as opções de compra no mercado para um avião de maior capacidade. Interlocutores da FAB e do Palácio do Planalto consultados por AERO Magazine afirmam que na ocasião foi oferecido como a melhor opção a compra de mais um A330-200 usado, que seria transformado em avião presidencial.
Ainda foi avaliada a viabilidade operacional de converter um dos atuais KC-30 para o transporte VIP, sem perder a futura capacidade MRTT. Todavia, essa opção foi descartada pela limitação que ela impõe ao uso do avião nas missões de rotina da FAB, como ocorreu por décadas com o 2401.
Após a pane do VC-1 na Cidade do México, quando o avião permaneceu por 4h30min em órbita, o presidente Lula afirmou em uma live com o deputado Guilherme Boulos que esperou “um milagre de Deus para que o avião não caísse”. Dez dias depois, em entrevista à rádio O Povo, no Ceará, Lula voltou a comentar o caso e afirmou: “Desse problema tiramos uma lição. Nós vamos comprar não apenas um avião, mas é preciso comprar alguns aviões”.
A intenção é ampliar a frota destinada à Presidência, com um avião de maior capacidade e alcance, assim como do chamado escalão avançado (Escav), composto por ministros de Estado e funcionários de altos postos do governo.
Embora atualmente o Grupo de Transporte Especial (GTE), unidade destinada ao transporte de autoridades do Governo Federal, tenha uma frota considerável, composta pelos A319, E190, ERJ 145 e Legacy, a elevada demanda de transporte obriga diariamente o governo a adquirir passagens em empresas aéreas para atender os deslocamentos oficiais.
Supostamente, a compra de mais aviões permitiria reduzir os custos. Outro argumento para substituição dos aviões é a elevada idade de toda a frota do GTE, que acumula mais de 20 anos de idade média. Os VC-99A, derivados da plataforma ERJ, foram adquiridos do espólio da Rio Sul, enquanto os seis VC-99B/C foram recebidos a partir de 2006.
Até o momento o governo brasileiro não bateu o martelo para a compra de novos aviões oficiais, incluindo um ou mais destinados ao transporte do presidente. A escolha deverá seguir um critério técnico, com a provável vitória do Airbus A330-200 por questão de padronização da frota e por conta do aspecto político, que em uma análise fria, sempre será no final o fiel da balança.
Mercado oferece diversas opções para atender as necessidades do Governo Brasileiro, entre modelos usados e aeronaves novas. Assim, preparamos um material que permite comparar os potenciais aviões disponíveis, seus prós e contras.