Companhias aéreas gastam em processos o mesmo que arrecadam com bagagens

As companhias aéreas brasileiras gastaram R$ 330 milhões em condenações judiciais no 1º trimestre de 2025

Por Marcel Cardoso Publicado em 17/09/2025, às 09h10

Os gastos judiciais representaram 1,87% do total das despesas das empresas no período - Aena Brasil

As companhias aéreas brasileiras desembolsaram cerca de R$ 330 milhões em condenações judiciais no primeiro trimestre de 2025, valor idêntico ao arrecadado com a cobrança de bagagens despachadas.

Os números integram o novo Painel de Demonstrações Contábeis da ANAC, lançado para ampliar a transparência sobre custos e receitas do setor. Os gastos judiciais representaram 1,87% do total das despesas das empresas no período.

O painel mostra ainda que a venda de passagens aéreas respondeu por 88,29% das receitas, enquanto bagagens corresponderam a 1,76% da arrecadação, exatamente o mesmo percentual dos custos judiciais.

Impacto jurídico

De acordo com Rodrigo Alvim, advogado especializado em Direito do Passageiro Aéreo, o montante de R$ 330 milhões abrange mais de cinquenta companhias em operação no país e equivale a pouco mais de 1% do faturamento total. O especialista ressalta que as condenações não se limitam a ações movidas por passageiros.

As disputas incluem causas trabalhistas, tributárias e ambientais, o que revela a complexidade do ambiente jurídico enfrentado pelas empresas”, disse Alvim.
O advogado aponta que falhas relacionadas a atrasos, cancelamentos e extravio de bagagens ainda são responsáveis pela maior parte dos processos.

O valor gasto evidencia que as companhias tratam seus clientes mais como riscos jurídicos do que como consumidores que merecem atendimento de qualidade”, completou.

Comparação internacional

Alvim comparou o cenário brasileiro ao europeu, onde a Resolução 261 da União Europeia estabelece compensações automáticas em casos de problemas com voos.

Na Europa, a resolução extrajudicial é mais eficaz. Já no Brasil cresce a tendência de judicialização. Com o aumento do número de passageiros e o maior acesso à informação, é provável que a quantidade de ações aumente nos próximos anos”, disse.

Para o especialista, a redução dos custos judiciais depende da melhoria no atendimento ao consumidor.

O problema não está apenas nos processos, mas na conduta das companhias, que em muitos casos optam por lidar com ações na Justiça em vez de evitar os conflitos desde a origem”, conclui Alvim.

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