Comissária processa Airbus e pede R$ 170 milhões

Comissária da United Airlines processa Airbus por cerca de R$ 170 milhões após inalar fumaça tóxica em voo em um A319

Por Marcel Cardoso Publicado em 27/05/2025, às 08h57

Comissária alega ter desenvolvido complicações graves de saúde após exposição a fumaça tóxica - Divulgação

Uma comissária de bordo da United Airlines está processando a Airbus em US$ 30 milhões (cerca de R$ 170 milhões), alegando ter sofrido lesões permanentes após inalar fumaça tóxica na cabine de um Airbus A319-100. 

O incidente ocorreu em 11 de abril de 2023, durante o voo UA2680, que partiu do aeroporto La Guardia, em Nova York, com destino ao aeroporto internacional de Denver, no estado do Colorado. Após o pouso e o estacionamento da aeronave no portão de desembarque, a tripulação ativou a unidade de potência auxiliar (APU) para manter os sistemas elétricos e de ar-condicionado funcionando, conforme procedimento padrão.

Segundo relato da comissária, divulgado pelo site PYOK, logo após a ativação da APU, um forte odor químico invadiu a cabine, provocando sintomas imediatos como falta de ar, ardência nos olhos e na pele, além de náusea intensa. Mesmo após tentar aliviar os sintomas lavando os olhos com água, o mal-estar persistiu, inclusive após o desembarque dos passageiros.

Equipes de emergência do aeroporto atenderam a comissária e constataram pressão arterial elevada e níveis aumentados de monóxido de carbono, tanto nela quanto em outro colega também exposto à fumaça. Exames realizados posteriormente em um centro médico local indicaram irregularidades pulmonares, descritas como um padrão “opaco”, sugerindo irritação ou inflamação química.

A profissional foi tratada com oxigênio suplementar para aliviar a dificuldade respiratória. Contudo, após retornar para casa, apresentou agravamento do quadro, com erupções cutâneas severas, episódios de desmaio e hipertensão persistente. Exames laboratoriais revelaram ainda elevação na contagem de glóbulos brancos, indicando inflamação sistêmica, o que levou à necessidade de novas internações.

De acordo com os documentos apresentados à Justiça, a comissária, antes saudável, atualmente sofre de dores de cabeça crônicas, sangramentos nasais recorrentes, sensibilidade na garganta e hipertensão, condições atribuídas à exposição a substâncias químicas tóxicas.

Ela também relata danos na mucosa da garganta, compatíveis com queimaduras químicas, que prejudicaram sua voz — habilidade essencial para o exercício da função de comissária. A profissional está em tratamento fonoaudiológico e afirma ter sua qualidade de vida e capacidade laboral comprometidas.

O processo acusa a Airbus de negligência no projeto do sistema de controle ambiental do A319, alegando que o design da aeronave permite a entrada de substâncias químicas tóxicas na cabine por meio do ar circulante, especialmente durante o funcionamento da APU em solo. A ação sustenta ainda que o fabricante não alertou adequadamente as companhias aéreas e seus funcionários sobre os riscos, nem implementou medidas de segurança suficientes para preveni-los.

Os advogados da comissária argumentam que aeronaves da Airbus apresentam um número desproporcional de "eventos de fumaça" em comparação com modelos de outros fabricantes, o que indicaria falhas estruturais no design dos sistemas da empresa. Eles afirmam também que a Airbus tem ciência desses riscos há anos, mas não adotou melhorias nos sistemas de filtragem ou na tecnologia de detecção de substâncias químicas.

Segundo analistas do setor, a contaminação do ar na cabine é uma preocupação antiga na aviação. Os chamados "eventos de fumaça" costumam ocorrer quando produtos químicos usados na manutenção das aeronaves ou liberados durante o funcionamento dos motores infiltram-se no sistema de ar que abastece a cabine de passageiros. Pilotos e comissários frequentemente relatam problemas crônicos de saúde associados à exposição repetida a esse tipo de contaminação.

Embora fabricantes e companhias aéreas minimizem a gravidade desses episódios, estudos científicos e relatos de profissionais indicam que eles podem causar sérios danos à saúde. Especialistas jurídicos avaliam que o desfecho deste caso pode influenciar futuras regulamentações e pressionar a indústria a reforçar a segurança do ar a bordo.

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