Acidente da Air India reacende debate sobre instalação obrigatória de gravadores de vídeo para reforçar investigações na aviação comercial
Por Marcel Cardoso Publicado em 22/07/2025, às 09h01
A queda do Boeing 787 da Air India, em 12 de junho, reacendeu o debate sobre a instalação obrigatória de câmeras na cabine de comando de aviões comerciais, mais de duas décadas após a primeira recomendação do NTSB (Conselho Nacional de Segurança nos Transportes).
Especialistas defendem que os gravadores de vídeo podem ser decisivos para investigações aéreas, enquanto sindicatos de pilotos alegam riscos à privacidade e distorções nas análises. A discussão cresce em meio à pressão global por mais segurança na aviação.
Embora os gravadores de voz e de dados – popularmente chamados de “caixas-pretas” – sejam essenciais para investigações, especialistas apontam que imagens poderiam fornecer contexto visual decisivo sobre decisões dos pilotos e ações tomadas durante emergências.
Os dois gravadores atuais da caixa-preta são focados no registro de voz e dado de voo, não registrando imagens do cockpit. Diante de limitações na reconstrução de incidentes, cresce a pressão para adoção de sistemas de vídeo como forma de ampliar a transparência e a precisão das investigações.
O NTSB considera as câmeras uma prioridade desde 2003 e já havia sugerido sua adoção em 1989. Em 2023, o órgão defendeu que aviões operados sob as regras da Parte 121 – que incluem companhias regulares – fossem obrigados a adotar gravadores de vídeo com armazenamento de até 25 horas. No entanto, o Congresso dos EUA alterou o projeto de lei, aprovando apenas a ampliação do tempo de gravação dos dispositivos já existentes, sem incluir vídeos.
Além da resistência política, a proposta enfrenta objeções de sindicatos de pilotos. A associação internacional dos pilotos de linha aérea (ALPA, na sigla em inglês), principal representante da categoria, argumenta que as imagens podem comprometer a privacidade e induzir investigações a interpretações errôneas. Para a entidade, os registros visuais não acrescentariam valor técnico ao processo investigativo.
Por outro lado, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) tem se mostrado favorável à medida. O diretor-geral Willie Walsh afirmou que um vídeo poderia “ajudar significativamente os investigadores” e reforçou que o setor aéreo se beneficia da transparência para prevenir novos acidentes.
Embora a implantação da tecnologia ainda encontre obstáculos legais e culturais, o avanço da discussão reflete a busca contínua por métodos mais eficazes de análise de acidentes aéreos.