Perda da capacidade dos mísseis balísticos intercontinentais é visto como uma ameaça a segurança internacional
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 23/04/2021, às 17h00 - Atualizado às 17h26
O constante corte de orçamento e o envelhecimento das capacidades dos misseis balísticos intercontinentais dos Estados Unidos podem levar o país a retomar uma estratégia abandonada desde a Guerra Fria, a manutenção da uma frota de bombardeiros
Os Estados Unidos poderão recolocar em voo seus bombardeiros armados com misseis nucleares, como uma forma de manter sua capacidade de dissuasão frente aos desafios internos.
Com o envelhecimento dos sistemas de misseis balísticos intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês) e os constantes cortes orçamentários para o setor, os militares temem a perda de capacidade de resposta aos seus maiores rivais, especialmente a China.
Atualmente os Estados Unidos tem como doutrina uma tríade nuclear, composta pelos ICBM, bombardeiros estratégicos e submarinos com capacidade de lançamento de mísseis (SLBM, na sigla em inglês).
Porém, os bombardeiros não estão disponíveis 24 horas por dia, visto a melhora nas relações entre Washington e Moscou, que tornou inviável a manutenção dos aviões armados durante todos os dias do ano.
Na prática, os Estados Unidos contam com uma díade nuclear, baseada em submarinos e mísseis intercontinentais. O uso dos bombardeiros só ocorreria em caso de uma ameaça iminente, ou ataque consumado, que necessite de uma resposta emergencial e de grande escala.
O entrave para o Pentágono, o quartel general das forças armadas norte-americanas, é o envelhecimento dos sistemas ICBM, como os antigos LGM-30 Minuteman III, que são uma herança da Guerra Fria e acumulam 50 anos de serviços.
Com a idade avançada do projeto e dos mísseis, a cada dia existe mais dificuldade em manter a operação. Em audiência no Comitê de Serviços Armados do Senado, o almirante Charles A. Richard, alertou para a questão da falta inclusive de chaves de lançamento de alguns sistemas. Por terem sido produzidos nos anos 1970, a maior parte dos componentes foram tirados de linha, restando poucos no estoque. Além disso, alguns dispositivos sequer podem ser reproduzidos, visto a destruição de manuais, ferramentais e gabaritos.
“Você não pode prolongar a vida [útil] de nada indefinidamente. Não posso usar as sobras da Guerra Fria para sempre”, alertou o almirante Richard.
O uso dos bombardeiros seria um plano alternativo para a não manutenção da capacidade completa dos ICMB, mas possivelmente elevaria as tensões mundiais por armas nuclearmente aviões que deverão voar 24 horas, sete dias na semana, ao longo de todo o ano.
“Os bombardeiros não estão disponíveis para nós”, destacou Richard. “Optamos por retira-los do alerta como um dividendo da paz pós-Guerra Fria”.
Caso os ICBM não sejam modernizados, a opção estratégica ficará a cargo exclusivo dos submarinos, mas que também dependem de uma modernização no médio prazo. Um dos riscos de depender de apenas um vetor de ataque é uma eventual falha na cadeia, incluindo no próprio equipamento.
Um dos temores do Pentágono é a ampliação da capacidade nuclear e militar da China, que mesmo negando qualquer pretensão de expansão de seus domínios, poderá ameaçar os interesses dos Estados Unidos e seus aliados.