O bombardeiro B-2 Spirit foi usado hoje pelos EUA em um ataque furtivo a instalações nucleares do Irã. Entenda como a aeronave mais avançada do mundo penetrou defesas sem ser detectada
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 11/11/2020, às 14h00 - Atualizado em 21/06/2025, às 21h00
O bombardeiro furtivo B-2 Spirit, da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), foi empregado hoje (21) em uma ofensiva contra instalações nucleares no Irã. Com tecnologia de baixa assinatura de radar e design de asa voadora, o B-2 é considerado o avião de combate mais avançado em operação. Cada unidade custa mais de US$ 2 bilhões.
Projetado para penetrar defesas aéreas altamente protegidas, o bombardeiro pode atingir alvos estratégicos sem ser detectado. Sua assinatura de radar é inferior a 0,1 m² — tornando-o praticamente invisível. O uso do B-2 nesta operação reforça seu papel como elemento-chave da dissuasão nuclear dos EUA e como símbolo da supremacia tecnológica americana na aviação militar.
Ainda que os Estados Unidos tenham sido pioneiros no uso de tecnologia furtiva em seus aviões, sendo até recentemente o único país a dispor de aeronaves com tais características, os estudos iniciais partiram justamente do seu maior inimigo histórico: a União Soviética.
Os estudos sobre ondas magnéticas não tinham grande importância estratégica nos meios militares. Tanto que os trabalhos sobre uma teoria simplificada nas correntes eletromagnéticas nas bordas de formatos geométricos, do físico soviético Pyotr Ufimtsev, estavam disponíveis para consulta pública
O trabalho havia sido publicado na revista do Instituto de Rádio Engenharia de Moscou e mostrava que a intensidade do reflexo (eco) das ondas de radar quando incidem em um objeto não dependem das dimensões e, sim, da natureza de suas bordas.
Os engenheiros da Lockheed, um dos principais fabricantes de aeronaves militares dos Estados Unidos, em posse de tal estudo passaram a avaliar a possibilidade de criar uma aeronave com uma estrutura composta por superfícies bidimensionais facetadas. O resultado foi a criação de um avião com uma sucessão de painéis planos, dispostos de maneira a organizar uma fuselagem. Assim o design básico do avião exigia que cada painel fosse monto no ângulo exato para refletir a radiação para longe da fonte emissora do radar. O resultado foi o exótico e sombrio F-117 Nighthawk.
Paralelamente, a Northrop estudava na década de 1970 os dados obtidos com o YB-49, que voará quase duas décadas antes. Os engenheiros perceberam que com a eliminação dos estabilizadores verticais e horizontais era possível criar uma aeronave com uma pequena área frontal e combinado com alguns ângulos retos era possível obter uma quase nula assinatura radar (RCS), ou seja, o quanto um avião emite de retorno ao radar inferior a 0,1 m².
O formato da fuselagem adotado pela Northrop no B-2 segue o conceito de placa plana infinita, e o desenho criado por computador que permite anular a assinatura radar em qualquer ângulo. O conceito, conhecido como curvatura contínua, emprega dados avançados na dinâmica de fluidos.
Apenas o cockpit se pronuncia sobre a superfície, mas foi concebido após uma série de projetos experimentais comprovarem sua eficiência. A fuselagem foi construída com um arranjo de materiais que prevê um arranjo geométrico, incluindo do para-brisa, permitindo drástica redução RCS. Além disso, as entradas de ar do motor foram montadas sobre a fuselagem para anular a ação dos radares de solo e infravermelhos numa das áreas mais sensíveis do avião.
Caso um radar consiga detectar o B-2, frontalmente sua assinatura radar será de 10 cm². Como comparação, o RCS de um bombardeiro B-52 é de 100 m² e do caça Gripen, de aproximadamente 2 m². Uma área tão pequena é simplesmente ignorada pelo software do radar, visto que um RCS muito pequeno podem ser ocasionado até mesmo um pássaro, uma perturbação atmosférica, entre outros. Dessa forma, o B-2 se torna praticamente invisível para os radares inimigos.