Boeing desiste de joint venture com Embraer

Crise gerada pelo 737 MAX e pandemia do Covid-19 pioraram situação financeira do fabricante norte-americano

Por Edmundo Ubiratan Publicado em 25/04/2020, às 14h11 - Atualizado em 29/04/2020, às 21h27

Boeing desistiu de parceria em área de aviação comercial da Embraer

Oficialmente a Boeing desistiu do acordo com a Embraer, após dois anos de negociações e uma série de contratempos. A parceria previa uma joint venture no setor de aviação comercial, avaliada em mais de US$ 5,2 bilhões.

O acordo deveria ter sido finalizado até ontem (24), mas sofreu uma série de contratempos, incluindo atrasos na análise da fusão pelas autoridades europeias, além da crise gerada pelo coronavírus. Analistas de mercado ainda apontam que a Boeing passou a ter sérias dificuldades para pagar os US$ 4,2 bilhões pelo acordo, especialmente após enfrentar uma séria crise com relação ao 737 MAX, que atrapalhou os planos da gigante norte-americana.

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Formalizado em julho de 2018, a parceria previa que a Boeing teria uma participação de 80% na joint venture destinada a aviação comercial, pela qual pagaria 4,2 bilhões à Embraer que ficaria com os demais 20%. Além disso, também estava prevista a formação de uma joint-venture para comercialização do cargueiro militar C-390 Millennium.

“A Boeing trabalhou diligentemente por mais de dois para a finalizar a transação com a Embraer. Durante os últimos meses, nós tivemos produtivas mas frustradas negociações sobre condições materiais precedentes não concluídas. Nós todos desejávamos concluir isso até a data final, mas não aconteceu”, afirma Marc Allen, presidente da Boeing para a parceria com a Embraer.

Conforme adiantou a AERO Magazine em março, a crise do COVID-19 agravou a situação financeira da Boeing e a situação poderia comprometer a parceria com a Embraer, especialmente após a empresa indicar que necessitava de US$ 60 bilhões em um socorro emergencial feito pelo governo dos Estados Unidos. Porém, é possível que a Casa Branca mantenha algumas imposições referentes aos empréstimos concedidos as empresas locais durante a pandemia, como restrição de investimentos no exterior. Além disso, a possibilidade de parte do dinheiro ser usada para comprar a fabricante brasileira se alvo de críticas. 

O final do acordo ainda esbarrou na forte desvalorização da Embraer nas últimas semanas. Um dia antes da joint venture ser assinada, a Embraer tinha um valor de mercado de R$ R$ 19,8 bilhões. A incerteza gerada pela pandemia e a forte retração do mercado de aviação comercial fez o preço dos papéis desabarem 69%, agora avaliado em R$ 6,1 bilhões. Caso a Boeing prosseguisse com o acordo pagaria na Embraer quase 3,5 vezes mais seu valor.

Na sexta-feira (24) já havia preocupação com a possibilidade de o acordo não ser concluído, levando as ações da Boeing a caírem quase 6,5% e a Embraer registrar perda superior a 10,5% nas ações ordinárias.

Em nota a Embraer afirma que a Boeing fabricou falsas alegações como pretexto para tentar evitar seus compromissos de fechar a transação. “A empresa acredita que a Boeing adotou um padrão sistemático de atraso e violações repetidas ao MTA, devido à falta de vontade em concluir a transação, sua condição financeira, ao 737 MAX e outros problemas comerciais e de reputação”, afirma o fabricante brasileiro.

Todavia, a Boeing afirma que esperava resolver a questão no prazo estabelecido e admite que as negociações não foram bem-sucedidas. “É uma decepção profunda. Entretanto, chegamos a um ponto em que continuar negociando dentro do escopo do acordo não irá solucionar as questões pendentes”, disse Allen.

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