Nos anos 1990 a Airbus construíu o Beluga para substituir seus veteranos Super Guppy, derivados do Boeing 377 e usados no transporte de cargas
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 23/07/2022, às 15h44
O Airbus Beluga nasceu para substituir os antigos Boeing usados pela Airbus em sua logística industrial e para atender a elevada demanda projetada para o A320. Conheça um pouco mais sobre o exótico avião de transporte que virá ao Brasil pela primeira vez.
No final da década de 1980 a Airbus havia lançado duas famílias de aviões. O A320, um avião que prometia rivalizar com o Boeing 737, líder absoluto de vendas no segmento entre 100 e 150 assentos. E o A330/340, que disputariam o mercado de longo alcance, competindo com os Boeing 747, 767 e o futuro 777, assim como os McDonnell Douglas DC-10 e MD-11. Se encarar tais aviões, que atuam em várias faixas de mercado já não fosse audacioso o bastante, a Airbus tinha que transportar grandes componentes produzidos na Espanha, Alemanha, Reino Unido e França, para então montar o avião final.
Ou seja, antes de poder atender as necessidades das empresas aéreas a Airbus teria primeiro que resolver uma questão importante: transportar mais componentes entre suas fábricas espalhadas pela Europa, com menor tempo e maior frequência. Os já veteranos Super Guppy Turbine, derivados do Boeing 377, já demonstravam suas limitações operacionais e apresentavam custos cada vez mais elevados. Além disso, a frota de três unidades não conseguiria suprir a futura necessidads logística da Airbus.
A solução foi desenvolver um avião similar ao Super Guppy, com uma ampla área de carga montada sobre o avião. Os engenheiros da Airbus decidiram que a melhor solução seria converter um avião existente em um supercargueiro. Existiam duas opções para criar um grande compartimento de cargas.
A primeira opção: adotar o conceito de carga externa, similar ao utilizado pela NASA, no transporte do Ôninus Espacial, mas com um invólucro inspirado no criado pelos soviéticos no Myasishchev VM-T.
A segunda opção: adquirir no mercado um avião cargueiro, como o Boeing 747, C-5 Galaxy, Antonov An-124, entre outros. De imediato a segunda opção se mostrou improvável, visto que o C-5 é um avião militar da força aérea dos Estados Unidos, o An-124 ainda era um avião soviético com nenhuma chance de exportação, e a porta do nariz do 747 estreita demais para qualquer embarque de fuselagens. No mais, os três aviões teriam que ser modificados para acomodar as grandes estruturas de asa e fuselagem.
A solução voltou para o conceito de carga externa. Logo os engenheiros perceberam que montar um compartimento de cargas acima de um avião adaptado era complexo demais. Todavia, se ele fosse integrado na própria estrutura a solução era viável, até porque o conceito básico era similar ao Super Guppy.
A Airbus selecionou seu maior avião, na época o A300, que seria profundamente modificado. A fuselagem principal seria completamente redesenhada, com o cockpit realocado abaixo da posição original, com uma enorme área de cargas montada logo acima.
Os engenheiros da Airbus redesenharam a maior parte da fuselagem do A300-600, usando a parte inferior da fuselagem, mas realocando o cockpit em uma posição inferior. Assim, o piso principal poderia receber um enorme compartimento de cargas, que na prática estaria acima do avião, mas protegido por um invólucro estrutural. Além disso, a configuração com o cockpit abaixo do piso principal permitiu criar uma porta de cargas basculante, ao invés de exigir que a parte dianteira do avião inteira fosse movimentada, o que envolvia desconectar e depois reconectar diversos sistemas elétricos, hidráulicos e de controle.
Asas, trem de pouso, motor e demais sistemas seriam exatamente os mesmos do A300-600 original, reduzindo custos e riscos. O melhor, o volume interno oferecido pelo novo avião passou para 1.500 metros cúbicos, 30% superior ao Super Guppy Turbine, com capacidade de transportar o dobro do peso, chegando as 47 toneladas de carga máxima.
O primeiro avião começou a ser montado há 30 anos, com o voo inagural ocorrendo em 1994. Os cinco A300-600ST Beluga se tornaram a espinha dorsal da logística da Airbus até meados de 2018, quando a crescente necessidade de transporte e componentes ainda maiores do A350 exigiram um novo Beluga, nascendo assim o Beluga XL derivado do Airbus A330-200.