Modelo se torna a primeira ameaça a hegemonia da Airbus e Boeing no mercado global
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 27/11/2020, às 11h00 - Atualizado às 12h35
Comac espera obter ao menos 2.000 pedidos para o C919 do próprio mercado chinês
O avião comercial chinês C919 se aproxima da certificação, mantendo o cronograma dentro do esperado. A aeronave que pretende rivalizar com os Airbus A320neo e Boeing 737 MAX, especialmente no mercado interno da China, poderá despontar como um dos maiores sucessos da aviação.
Ainda que a indústria chinesa sofra com diversos preconceitos em todo o mundo, a Comac, indústria aeronáutica estatal, tem objetivo de primeiro obter ao menos um terço dos contratos de empresas aéreas da própria China.
Segundo estudos da Airbus e Boeing, o mercado chinês deverá absorver até 2039 aproximadamente 8.600 aviões, avaliados em mais de US$ 1,4 trilhões. Caso a Comac consiga obter um terço dos contratos terá garantido mais de 2.800 pedidos firmes.
Por ora existe apenas um contrato internacional, com dez pedidos firmes feitos pela norte-americana GECAS, a divisão de leasing da GE, com intenção de oferecer os aviões no próprio mercado chinês ou para países alinhados com Pequim. Ainda assim, a Comac não descarta em um segundo momento, quando tiver estabelecido as bases industriais para produção em larga escala, passar a oferecer o avião no mercado mundial.
Atualmente a China tem estabelecido países em desenvolvimento ou nações com poucos recursos como o principal mercado para seus produtos, inclusive eletrônicos, como celulares e televisores. Neste caso a intenção é oferecer produtos com preço competitivo e atendo expectativas menos exigentes de consumidores com baixo poder aquisitivo. Porém, a Comac conta com um Memorando de Intenções (MoU, na sigla em inglês), com a irlandesa Ryanair, uma das maiores operadoras do 737 em todo o mundo. Outras negociações estão em andamento com empresas europeias, que podem ver no C919 uma opção de menor custo de aquisição ou como uma opção para negociar melhores condições de contratos com a Airbus e Boeing.
Projetado dentro de padrões internacionais, inclusive com fornecedores de sistemas consagrados, como os motores CFM Leap-1C, o C919 foi planejado para atender aos requisitos de mercado global, o que atende as ambições do próprio mercado de aviação chinês, que caminha para ser o maior do mundo.
O C919 fez seu primeiro voo em maio de 2017, tendo seis protótipos envolvidos na campanha de ensaios e certificação. O modelo se beneficiou do aprendizado da indústria chinesa com o ARJ21, modelo inspirado no programa MD-80, da extinta McDonnell Douglas e que atrasou em quase uma década sua entrada em serviço. Porém, o avião serviu de plataforma para validação dos processos de certificação dentro das normas internacionais.
A Comac enfrentou alguns contratempos com o C919, que deveria ter entrado em serviço em 2020, mas a última revisão do cronograma está sendo cumprida e a expectativa é iniciar as entregas já no próximo ano.