Modernização dos sistemas poderá permitir voos de longa duração com apenas um aviador na cabine
Por Gabriel Benevides Publicado em 17/06/2021, às 12h00 - Atualizado às 15h23
Nos próximos anos o A350 poderá operar com apenas um piloto na cabine durante o voo de cruzeiro
A Airbus trabalha em um projeto que poderá viabilizar voos comerciais com apenas um piloto já em 2025. O projeto está sendo conduzido em parceria com a Cathay Pacific, de Hong Kong, para permitir que os A350 realizem operações de longa distância com apenas um piloto na maior parte do tempo do seu trajeto.
A decisão é tornar o A350 mais atrativo do ponto de vista dos custos operacionais já no curto prazo, reduzindo ao menos pela metade os gastos com pilotos. Caso o projeto seja viável tecnicamente e consiga ser aprovado pelas autoridades, a Airbus estará na frente de seus concorrentes, visto que a Boeing não possui nenhum projeto parecido em curso.
O trabalho conjunto denominado Project Connect, busca certificar o A350 para operações com apenas um piloto, conhecido em inglês como single-pilot, no momento em que aeronave estiver na fase de cruzeiro. Por ora, as operações de decolagem e pouso continuariam exigindo dois pilotos na cabine, mas na maior parte do voo seria necessário apenas um tripulante.
O projeto poderá reduzir o número de pilotos pela metade em voos de longo curso, que na maioria dos casos contam com até quatro aviadores, em regime de revezamento. Caso em rota apenas um seja obrigado a ficar na cabine, o outro poderá descansar, para apenas na fase final do voo trabalharem juntos.
Caso o projeto avance, muitas companhias aéreas poderão repensar os seus gastos com tripulação já que a redução significará mais encomia durante as suas operações.
Segundo a agência Reuters, embora a Cathay Pacific seja parceira do projeto e veja com otimismo a sua certificação, ainda não foi decidido se será o cliente lançador do A350 single-pilot. Porém, a empresa está realizando estudos adicionais para reduções de custos a longo prazo.
"Embora estejamos nos envolvendo com a Airbus no desenvolvimento do conceito de operações reduzidas de tripulação, não nos comprometemos de forma alguma a ser o cliente de lançamento", disse a Cathay Pacific para a Reuters.
Antes de se tornar realidade, é necessária a ampla realização de estudos e testes para as revisões regulatórias das principais agências da aviação, como a europeia EASA e norte-americana FAA, para que a implantação seja bem-sucedida.
Durante os estudos iniciais do programa A350, a Airbus já havia anunciado o seu desejo de implantar o piloto único no avião, mas a regras existentes e a tecnologia de software existente na época forçou a postergação do projeto.
Agora diante da nova realidade por conta da pandemia, somado aos grandes avanços da automação nos últimos anos, a Airbus poderá oferecer a ideia aos operadores aéreos, o que ocorre em um momento em que os cortes de gastos são prioridades para equilibrar as contas.
Automação nos cockpits permitiu ao longo das últimas décadas reduzir o número de tripulantes técnicos
Os primeiros aviões comerciais contavam com uma média de cinco tripulantes técnicos, entre os dois pilotos, mais engenheiro de voo, radiotelegrafista e navegador. Com a evolução dos sistemas de gerenciamento de voo, década após década o cockpit foi perdendo tripulantes.
Os primeiros a serem substituídos por sistemas mais modernos foram os radiotelegrafistas, que cederam o lugar para modernos rádios. Pouco depois os navegadores perderam seu posto para avançados sistemas de navegação, que já na década de 1970 se tornaram extremamente confiáveis e simples de serem programados, isso antes da navegação por satélites.
Por fim, os engenheiros de voo deixaram de ser presença constante nos aviões projetados já no final da década de 1970, saindo completamente de cena anos mais tarde. O elo final continuam sendo os dos pilotos, ao menos até o final da década.