Conheça como o avião presidencial dos Estados Unidos se transformou em um ícone global de poder, segurança e diplomacia
Por Marcel Cardoso e Edmundo Ubiratan Publicado em 18/08/2025, às 09h40
A designação Air Force One, que se tornou sinônimo de avião presidencial dos Estados Unidos, foi criada em 1954 para identificar qualquer aeronave que transporte o presidente. O callsign nasceu após um incidente de tráfego aéreo envolvendo um voo oficial e um avião comercial.
Contudo, a necessidade de aviões dedicados ao transporte presidencial surgiu ainda na Segunda Guerra Mundial, levando à adaptação de modelos como o Douglas C-54 Skymaster e, posteriormente, à incorporação do Super Constellation, seguido do Boeing 707 e do Boeing 747-200B. Hoje, o Air Force One representa muito mais do que o avião que o presidente voa, sendo símbolo de poder, segurança e mobilidade — além de uma estrutura aérea completa a serviço da Casa Branca.
O presidente Franklin D. Roosevelt foi o primeiro a viajar oficialmente em uma aeronave presidencial. Antes disso, já havia voado em alguns aviões, como o Boeing 314 Dixie Clipper, em sua viagem para a Europa, e o Consolidated C-87 Liberator Express.
Porém, oficialmente, o primeiro avião a ser dedicado de forma exclusiva ao presidente foi o Douglas C-54 Skymaster – a versão militar do DC-4 – que foi designado como VC-54A e ficou conhecido como Sacred Cow.
O VC-54A contava com área de descanso, radiotelefone e até um elevador para cadeira de rodas, adaptado especialmente para Roosevelt. Porém, acabou utilizando o avião apenas uma vez, em fevereiro de 1945, quando viajou à Conferência de Yalta, que discutiu a reorganização da Europa após a guerra. Com sua saúde debilitada, o presidente Roosevelt faleceu em 12 de abril do mesmo ano.
O Douglas C-54 Skymaster, versão militar do DC-4, fez seu primeiro voo em 1942 e foi amplamente usado nas guerras da Coreia e Segunda Guerra Mundial. Com mais de 1.100 unidades produzidas até 1947, tinha capacidade para 26 passageiros e, em versões posteriores, recebeu melhorias como portas de carga e tanques adicionais de combustível.
Após Roosevelt, o presidente Harry S. Truman continuou utilizando o Sacred Cow até 1947, quando foi substituído pelo Douglas VC-118A Liftmaster – versão militar do Douglas DC-6 – que foi batizado de Independence, em homenagem à cidade natal do presidente.
O VC-118A apresentava inicialmente uma pintura com a cabeça de uma águia-careca e interior adaptado com sala privativa e cabine principal para 24 passageiros em voo diurno ou doze em configuração de leito. Posteriormente, recebeu a pintura em branco e azul claro, utilizada até hoje pela frota VIP dos Estados Unidos.
O Independence foi formalmente comissionado em 4 de julho de 1947, e o presidente Truman realizou o primeiro voo oficial no novo avião presidencial em 31 de agosto, para uma conferência internacional no Rio de Janeiro.
O VC-118A serviu como o Air Force One até a gestão do presidente Lyndon B. Johnson, sendo o último modelo com motor radial a ser designado como o principal transporte presidencial.
Após a chegada dos Boeing VC-137, o modelo passou a ser empregado apenas em viagens para localidades cujos aeroportos eram limitados para operação com jatos. Além disso, o VC-118 também foi usado como avião reserva e para transportar funcionários do segundo escalão do governo federal.
Após a chegada dos Boeing VC-137, o modelo passou a ser empregado apenas em viagens para localidades cujo os aeroportos eram limitados para operação com jatos. Além disso, o VC-118 também foi usado como avião reserva e para transportar funcionários do segundo escalão do governo federal.
O C-118 é a versão militarizada do Douglas DC-6. A principal diferença entre as versões militar e civil é a instalação de uma grande porta de carga no lado esquerdo da aeronave. No caso da versão VIP, um confortável interior foi instalado, incluindo poltronas que podiam ser convertidas em camas. O avião é equipado com quatro motores Pratt & Whitney R-2800-52W de 2.500 hp cada. Pouco mais de cem C-118 foram adquiridos para uso pela Força Aérea como transporte de passageiros e carga.
Na década de 1950, o presidente Dwight D. Eisenhower adicionou ao serviço presidencial dois Lockheed VC-121E, batizados como Columbine II e Columbine III. O nome é uma referência à flor oficial do estado do Colorado, sendo uma homenagem à primeira-dama Mary Geneva "Mamie" Eisenhower. O batismo do Columbine III foi feito com uma garrafa de água do Colorado em vez da tradicional garrafa de champanhe.
O Columbine II foi o primeiro a usar oficialmente o indicativo Air Force One, em 1954. A frota de VC-121E voou em missões VIP até 1966, atendendo, nos últimos anos, principalmente funcionários do segundo escalão.
O VC-121E era a versão militarizada do Lockheed L-1049 Super Constellation, que difere dos primeiros Constellations principalmente por possuir uma fuselagem alongada em 5,5 metros e ter sido equipado com motores mais potentes, maior capacidade de combustível, maior alcance e maior velocidade. Na aviação civil, eram popularmente conhecidos como "Super Connies".
Com a evolução dos aviões a jato, a Força Aérea dos Estados Unidos incorporou o Boeing 707-320B para a missão de transporte oficial. Os aviões foram designados como VC-137C e, a pedido do presidente John F. Kennedy, um novo esquema de pintura foi desenvolvido. O projeto foi liderado pela primeira-dama Jacqueline Kennedy e pelo famoso designer industrial Raymond Loewy.
O avião passou a ostentar um então moderno esquema de cores, com predominância do azul claro e branco, com a inscrição "Estados Unidos da América" em destaque ao longo da fuselagem, e a bandeira do país foi colocada no estabilizador vertical. A proposta era refletir a importância do Gabinete do Presidente e servir como um símbolo do poder norte-americano.
Durante os 36 anos de carreira, os VC-137C transportaram oito presidentes em exercício e inúmeros chefes de Estado, diplomatas, dignitários e autoridades em diversas viagens históricas conhecidas como Missões Aéreas Especiais (SAM). O último avião foi retirado de serviço em 2001.
O VC-137C é a versão militarizada e destinada a missões presidenciais, derivada do Boeing 707-320C. O avião é uma versão de alcance intercontinental do 707-120, com capacidade de voar por até 9.600 quilômetros sem escala, sendo equipado com quatro motores Pratt & Whitney TF33 (JT3D-3B) de 18.000 lbf cada. A cabine podia acomodar até 40 pessoas, incluindo o presidente em uma suíte dedicada..
Durante o governo Ronald Reagan, nos anos 1980, foram encomendados dois Boeing 747-200B para assumirem as missões de transporte presidencial. Além da maior capacidade, o 747 ainda era visto como símbolo de poder, graças ao seu porte quase duas vezes maior que qualquer avião da época.
Designados VC-25A, os aviões foram entregues a partir de 1990 e logo se tornaram os aviões mais famosos da frota presidencial. Até então, os VC-137C tinham uma visibilidade bastante discreta, sendo pouco explorada pela Casa Branca e pela mídia.
Os VC-25A possuem três níveis, sendo o piso inferior destinado ao transporte de carga e equipamentos; no piso principal estão as instalações do gabinete presidencial, suíte, sala de reunião, área de convidados, comitiva e imprensa; já no piso superior (upper deck) foram instalados os sistemas de comunicação e controle.
A ala conhecida como “Casa Branca Aérea” inclui uma confortável e ampla suíte, banheiro privativo do presidente, além de ala médica e escritório. A tripulação pode chegar a 26 membros, incluindo membros do Serviço Secreto e equipe médica.
O 747-200B era a versão mais recente do Jumbo quando o governo dos Estados Unidos encomendou os novos aviões presidenciais. Contudo, ainda nos anos 1980 surgiram versões aperfeiçoadas, como as séries -300 e -400, sendo esta última a primeira com amplo uso de tecnologia digital embarcada.
Por já estar em desenvolvimento, era inviável a troca para o 747-400, tornando assim o Air Force One derivado de um modelo que saiu de linha logo após a entrada em serviço do VC-25A. Porém, suas capacidades e tecnologias embarcadas seguem como uma das mais avançadas da atualidade, com melhorias constantes sendo adicionadas ao longo dos últimos 30 anos.
Há mais de uma década está em desenvolvimento um novo Air Force One, designado como VC-25B. Derivado do Boeing 747-8, os novos aviões prometem elevar as capacidades do Air Force One. Entretanto, atrasos constantes, dificuldades no projeto e orçamento fora de controle têm sido barreiras para o início das operações. A previsão é que o primeiro seja entregue em meados de 2028. Até lá, os Estados Unidos poderão usar um 747-8VVIP doado pelo Qatar, como um presente para a Casa Branca. Seu recebimento é polêmico e sua transformação em um VC-25 poderá demorar tanto quanto os dois originalmente contratados.