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Especial / Futuro

Polêmicas impõem desafios

Mesmo sendo plataformas de guerra bastante promissoras, os drones ainda suscitam debates em torno de temas controversos


Helios
Helios pode permanecer em voo por varias semanas

As polêmicas permeiam os debates em torno do emprego de aeronaves não tripuladas, sobretudo militares. Segundo o Bureau of Investigative Journalism, sediado em Londres, apenas nas missões conduzidas pela CIA no Paquistão, desde 2004, os drones já mataram entre 2.600 e 3.400 pessoas. A estimativa, não confirmada, é que entre 475 a 891 vítimas sejam civis sem qualquer relação com os objetivos das missões. Ataque a alvos civis não são exclusividade dos drones, já que desde a Primeira Guerra aeronaves erram alvos e matam civis. Para os críticos, a falta de um piloto a bordo torna um drone uma ameaça ainda maior, mesmo que ele seja remotamente pilotado e tenha uma série de recursos que evitem erros.

A falta de informação nos projetos de veículos não tripulados, na maioria dos casos classificados como secretos, representa mais um aspecto controverso desse emergente segmento aeronáutico. Entre os projetos mais polêmicos está o X-37B. Concebido em 1999, o programa OVT (Orbital Test ­Vehicle) previa o desenvolvimento de um veículo espacial autônomo para demonstrar o potencial das tecnologias espaciais reutilizáveis. O programa surgiu sob a tutela da Nasa, mas logo foi repassado a DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency), a poderosa agência de pesquisa militar subordinada ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Atualmente classificado como secreto, o programa está em seu terceiro veículo, o OVT-3, que foi lançado do Cabo Canaveral, na Flórida, em 11 de dezembro de 2012. Oficialmente, o projeto objetiva validar uma série de sistemas em missão espacial de longa duração. A missão teve duração total de quase dois anos, quando foram analisados milhares de dados por telemetria.

O que desperta a desconfiança da comunidade científica é o fato de a tecnologia de veículo reutilizável ser amplamente conhecida pelos americanos. O famoso Space Shuttle, a nave espacial reutilizável aposentada em 2011, começou a ser estudado ainda na década de 1960, em paralelo ao programa Apollo. Além disso, a classificação como secreto torna o programa X-37 ainda mais envolto em teorias conspiratórias.


Polêmicas envolvem uso de alguns drones, como é o caso do X-37B

Espião espacial

Analistas temem que o X-37B possa ser uma plataforma para espionagem espacial ou mesmo uma plataforma militar espacial. Embora seja uma versão em miniatura do antigo ônibus espacial, o X-47B pesa cinco toneladas, tem 8,8 metros de comprimento e 4,5 metros de envergadura, além de contar com um pequeno compartimento de cargas. Especialistas em guerra espacial afirmam que a nave pode ser utilizada para “bisbilhotar” satélites de outros países, ou mesmo retirá-los de órbita. O pequeno compartimento de cargas ainda permite que o veículo seja utilizado para “pescar” um satélite inimigo e transportá-lo em segurança para instalações militares norte-americanas, a fim de ser estudado.

As autoridades negaram que o projeto tenha qualquer utilidade militar e que não se trata de uma arma espacial, embora não detalhem o objetivo da missão. “Os parâmetros específicos não podem ser informados”, alega o capitão Chris Hoyler, do 30th Space Wing Commander. Segundo o Pentágono, o X-37B é apenas uma plataforma de testes para espaçonaves reutilizáveis de segunda geração e, no futuro, poderá ser um pequeno laboratório científico autônomo, capaz de realizar diversos experimentos em microgravidade.

Privacidade e segurança

No mundo civil, os drones sofrem críticas devido ao potencial que possuem em invadir a privacidade sem serem descobertos. Pequenos drones equipados com câmeras de alta definição – que não custam US$ 1.000, somados – são uma ameaça real à privacidade, já que podem se camuflar facilmente no ambiente urbano ou rural e filmar irrestritamente o que o operador desejar. Alguns modelos transmitem imagens em tempo real para smartphones e tablets, tornando ainda mais simples espionar a vida alheia. Algumas cidades nos Estados Unidos e na Europa estudam restringir o voo de drones a locais isolados e que não comprometa a privacidade.

Além da privacidade, muitos temem que a popularização desses pequenos robôs voadores se torne uma ameaça a segurança nas ruas. Mesmo pesando poucos quilos, o choque entre um drone e uma pessoa pode ser fatal. A regulamentação dos drones promete ser um dos capítulos mais conturbados no desenvolvimento desses pequenos e versáteis veículos.

Por Edmundo Ubiratan, de Washington (D.C.) e Pasadena (CA)
Publicado em 23/01/2015, às 00h00


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