Controle será exercido pelos norte-americanos e brasileira receberá valor maior que o estimado inicialmente
A Embraer e a Boeing acertaram os termos finais da venda da divisão de aviação comercial da fabricante brasileira. O acordo, estruturado como uma joint-venture, tem valor estimado de US$ 4,2 bilhões (R$ 16,4 bilhões, na cotação do dia) e prevê que a Boeing lidere a nova companhia.
A fabricante norte-americana terá o controle operacional e de gestão, que responderá diretamente ao CEO da Boeing, enquanto a Embraer ter[a poder de decisão em alguns temas estratégicos, como uma eventual transferência de operação do Brasil.
“A Boeing e a Embraer possuem um relacionamento estreito graças a mais de duas décadas de colaboração. O respeito mútuo e o valor que enxergamos nesta parceria só aumentou desde que iniciamos discussões conjuntas no começo deste ano”, disse Dennis Muilenburg, presidente, chairman e CEO da Boeing.
A expectativa é que a parceria não terá impacto no lucro por ação da Boeing em 2020, passando a ter impacto positivo nos anos seguintes. A joint venture deve gerar sinergias anuais de cerca de US$ 150 milhões, antes de impostos, até o terceiro ano de operação.
A transação está sujeita à aprovação do governo brasileiro, ratificação pelo Conselho de Administração da Embraer e autorização deste para assinatura dos documentos definitivos da transação. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, disse que se o presidente Temer procurar Bolsonaro para conversar sobre o acordo, o aval à operação poderá sair rapidamente. Embora não tenha deixado claro como seria essa aproximação entre o atual presidente e o futuro governo, a expectativa é que o tema seja amplamente debatido nessa semana final da transição entre governos.
Após a celebração dos documentos definitivos pelas partes, a parceria estratégica será submetida à aprovação dos acionistas, das autoridades regulatórias, bem como a outras condições pertinentes à conclusão de uma transação deste tipo. Caso as aprovações ocorram no tempo previsto, a expectativa é que a negociação seja concluída até o final de 2019.
A princípio o governo Bolsonaro parece disposto a seguir em frente com o acordo, já que em entrevista o vice-presidente Mourão afirmou que acredita ser fundamental a Embraer ter um “peso pesado do lado”. Ainda assim, a expectativa é que o governo brasileiro permaneça com a golden share da Embraer, mantendo a influência sobre o restante da companhia que não foi parte do acordo de venda para a Boeing.
“Estamos confiantes que esta parceria será de grande valor para o Brasil e para a indústria aeroespacial brasileira como um todo. Esta aliança fortalecerá ambas as empresas no mercado global e está alinhada à nossa estratégia de crescimento sustentável de longo prazo”, disse Paulo Cesar de Souza e Silva, presidente e CEO da Embraer.
Uma das principais mudanças no acordo foi o valor final estimado de venda, avaliado em US$ 4,2 bilhões, ante os iniciais US$ 3,8 bilhões pelos 80% da Embraer. Embora o valor real da transação tenha aumentado, o valor recebido pela Embraer deve se manter estável, em torno de US$ 3 bilhões. A diferença de valores no acordo refletiu inclusive no mercado, com as ações da Embraer fechando o pregão da Bolsa (B3) desta segunda-feira em alta de 2,5%.
A Embraer permanecerá independente nas divisões de aviação de negócios e defesa. Com isso, o acordo com a sueca Saab, para transferência de tecnologias do caça Gripen NG segue inalterado.
Todavia, a Embraer também pretendem concluir outra joint venture com a Boeing, voltada para o cargueiro militar tático KC-390. Nesse acordo a Embraer terá uma participação de 51% enquanto a Boeing terá os 49% restantes. “Ambas empresas irão alocar alocarão caixa e ativos nessa joint venture”, afirma o presidente, Paulo César.
Nesse acordo ambos os fabricante terão um contrato de longo prazo para pesquisa, desenvolvimento, propriedade intelectual, suporte e cadeia de suprimento para o avião. A expectativa é que o KC-390 consiga um acordo com o governo dos Estados Unidos, se tornando o substituto dos veteranos C-130 Hercules. Desde o início do programa KC-390 a Embraer tinha a ambição de tornar seu avião o substituto natural do Hercules, mas teria de enfrentar o poderoso lobby da Lockheed Martin, dona do programa C-130.
Espera-se que com o acordo com a Boeing o KC-390 possa garantir um contrato significativo com os militares dos Estados Unidos. Assim como possa ser viabilizada uma versão civil do modelo, voltado para o setor de cargas.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 18/12/2018, às 16h51 - Atualizado às 17h01
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