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Como Alexandre, o grande

Que conquistou o mundo vencendo, anexando seus oponentes e trazendo-os para lutar consigo como irmãos


O mercado da aviação executiva é fascinante. Combina situações aparentemente antagônicas que só funcionam caminhando lado a lado. Um turbilhão de inovações alicerçadas sobre uma obsessão com o que é comprovadamente seguro. Uma corrida incessante de lançamentos de aeronaves cada vez melhores do que as dos concorrentes gerando produtos e decisões com o peso de bilhões de dólares que só podem ser realmente analisados com o passar de um punhado de anos. É como se sentar no carro de montanha-russa e colocar-se em movimento enquanto a rede de trilhos está sendo construída à sua frente.

Seguramente um dos momentos cruciais deste mercado aconteceu em 26 de dezembro do ano passado, pegando muita gente de surpresa, quando o grupo Textron iniciou um novo capítulo na história de um dos baluartes da indústria ao comprar a ­Beechcraft Corporation, que conseguiu azeitar suas operações para poder sair do temido (às vezes, temido demais) Chapter 11.

A Beech reencontrou seu core, um ponto de apoio para caminhar adiante, que estava dentro de sua casa, seu comprovado portfólio de aeronaves. Depois do flerte com os chineses, seu futuro parceiro estava muito mais próximo do que se esperava. Estava no fortíssimo grupo que, entre outros gigantes, engloba em seu portfólio a concorrente e vizinha Cessna, também sediada em Wichita, Kansas.

Muitos empresários e executivos esperam a vida pela oportunidade de concluir um negócio como este. O impacto desta decisão é capaz de influenciar todo o desenho do mercado de aeronaves executivas. E o que acontecer pode ter forte impacto também no Brasil.

Cessna e Beechcraft são campeãs de vendas no país, com uma frota somada de centenas de aeronaves voando nestes céus. Há muita especulação (e mais perguntas do que respostas) sobre o que acontecerá após a aprovação final desta transação.

Será que as duas companhias vão se combinar de alguma maneira ou continuarão caminhando sozinhas? Será que a Textron encaminhará cada empresa para ocupar uma parte de um amplo portfólio? Será que novos lançamentos serão pensados levando em conta os espaços não em um, mas nos dois portfólios? Como será que a Textron combinará seus recursos em casa e pelo mundo?

No Brasil, mais perguntas despontam, sobretudo no que diz respeito à presença local das “filhas” da Textron. As duas marcas poderiam ser combinadas em apenas uma gigante operação. Muitos especulam (sem ninguém poder dizer por certo) que uma união levaria à transferência de uma das marcas para o outro distribuidor, formando um único portfólio vencedor. Se isso acontecesse, poderia impactar quem aparentemente não tem nada a ver com a historia, como a Bombardier (dá para apostar que eles pensam nisto, já que recentemente mudaram de distribuição e, agora, “isto”!).

Como a Textron vai gerir a Líder e a TAM, representantes no Brasil da Beechcraft e da Cessna?

Os mais conspiradores pensam que a Textron poderia unir tudo sob as suas asas com presença própria por aqui como já tem em outros países. Mas por que tanta especulação? Simplesmente porque as duas companhias são verdadeiros titãs na história da aviação executiva e suas aeronaves são grandes campeãs. Mas não só as aeronaves são campeãs, suas operações de distribuição e atendimento no Brasil, Líder Aviação de um lado e Tam Aviação Executiva do outro, também o são.

A Líder, durante anos, mesmo no ano passado, marcado por indefinições, sempre despontou como principal dealer Beechcraft no mundo, com uma relação histórica e um importantíssimo papel na recuperação da empresa – além de ter sido representante da Bell Helicopter Textron no Brasil durante quase 20 anos, de 1984 a 2003, se tornado um centro de serviço autorizado para helicópteros da marca e, também, um operador dos Bell em seu táxi-aéreo. No outro lado, a Tam Aviação Executiva é uma campeã mundial em Cessna, também um dos alicerces da história de sucesso da empresa.

Se um dos dealers não fosse um campeão seria fácil, mas pense em perder uma destas máquinas de venda (e atendimento) e ainda abrir espaço para que um dos melhores dealers do Brasil fique solto para concorrer contra você. Por isso, talvez, uma visão alternativa possa se materializar no Brasil, como no sonho de um presidente. Enxergar duas corporações competentes disputando entre si (mas também com outros), ganhando clientes e, ao fim do dia, ganhar nas duas.

Uma estratégia que não tem nada de óbvia e pode exigir até um desalinhamento como que acontecerá em outros países, algo nada usual, mas parece mesmo que o mais inovador e original é mesmo “business as usual”. Nada mudaria para tudo mudar na história da Textron. Se for assim, com o foco certo, e capital para implementar suas estratégias, quem ganha são os usuários de Beechcraft e Cessna, com aeronaves cada vez melhores e empresas sólidas para atendê-los no longo prazo.

Por Christian Burgos
Publicado em 29/03/2014, às 00h00 - Atualizado às 17h36


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